Desde 2010, quando lançou o seu primeiro e homónimo álbum a solo, muita coisa mudou para Slash – desde logo, o “bloco central” dos Guns N’ Roses reconciliou-se – mas há uma que se mantém inalterada: o guitarrista nunca foi um músico de escrever e trabalhar composições de forma isolada. Logo na ressaca da saída dos Guns, trabalhou com os Snakepit, depois surgiram os Velvet Revolver e, depois do singular álbum de 2010, “Living The Dream” é o terceiro registo junto de Myles Kennedy & The Conspirators e é também o melhor.
Pouco surpreendente, algo que o icónico guitarrista e as suas profundas raízes blues e hard rockers nunca pretenderam contrariar, este é também o álbum mais sólido do projecto. Não é Slash a solo, mas é Slash a comandar. E o guitarrista dá-nos um álbum com um som clássico de guitarra e com o seu clássico som de guitarra, que também nunca se alterou significativamente. Em “Living The Dream” é-nos oferecida uma colecção de riffs bem directos e explosivos, arranjos orelhudos e uma dinâmica forte, com temas mais concisos e mais definidos.
Ao longo do álbum Slash vai-nos relembrando a força de um álbum de rock da velha guarda com a tão demarcada sonoridade das suas mãos, num exercício que faz alguma retrospectiva à sua própria discografia. Por exemplo em “The Call Of The Wild”, com o cowbell de “Nightrain”, em “My Antidote”, que soa como uma ligação directa a “You Could Be Mine”, ou “Driving Rain”, cujo sabor southern rock remete para “Bad Obsession”. Será um aspecto natural do disco, tendo o álbum sido criado no ambiente da Not In This Lifetime Tour.
Slash aproveita ainda para acenar aos seus heróis, “Mind Your Manners” é como AC/DC em esteroides, “Boulevard Of Broken Hearts” vê Slash tirar a cartola a Joe Perry e aos Aerosmith e o som da lead guitar na balada “The Great Pretender” é importado de Gary Moore. No entanto, nenhuma das baladas (sendo “Lost Inside The Girl a outra) possui o charme de “Starlight” (aqui o guitarrista sempre dependeu mais do lado Elton John de Axl Rose, admita-se).
Este álbum não é nenhum “Appetite For Destruction”, o lendário disco a partir do qual se mede cada esforço dos gunners, ainda assim é um excelente trabalho de hard rock clássico, no qual Slash se mostra em excelente forma e mais do que capaz de evocar aquele tremendo sentimento épico nos seus solos. Aliás, é difícil destacar um neste álbum, a sério! Tem solos a dar com um pau! “Living The Dream” talvez seja o guitarrista a declarar as suas intenções para o cada vez mais falado novo álbum da reunião com Duff e Axl. E já que recorremos ao adjectivo épico, “Boulevard Of Broken Hearts” encerra o disco em grande estilo.