Este foi o primeiro álbum de Stevie Ray Vaughan e surgiu, em 1983, como um trovão – a densidade dos leads e a electricidade do blues dos Double Trouble aproximaram o género do rock, sem fundir os estilos. Aqui estamos perante blues puro, mas com uma força tremenda que acabou por tornar este no álbum mais popular do género nas últimas décadas. Era como se o som do primeiro álbum de Van Halen invadisse o de Blind Faith.
Há quem diga que essa força provém apenas de singularidades técnicas. O guitarrista usava cordas de calibre .013 [uma calibragem que muitas bandas de metal usam], além do meio tom de afinação mais baixo em relação à afinação standard de E-A-D-G-B-E. Contundo, será algo mais além disso. Essa força reside, precisamente, no pulsar do músico. Há qualquer coisa de Hendrix naqueles solos com acordes e há os bendings de Buddy Guy – essas são influências assumidas em temas como “Mary Had A Little Lamb”, original deste último, ou “Testify”, um original dos Isley Brothers com Hendrix, precisamente, nas guitarras. E há ainda a profundidade única nos vibratos deste guitarrista de Dallas. Depois a vida pessoal de Stevie Ray parecia também aproximá-lo daquela áurea de fúria rock n’ roll. Surgiram excessos, no consumo de drogas e alcoolismo, e acabou por morrer como os anjos iconográficos da história da música electrificada: num acidente aéreo.
Todo o disco porta uma atmosfera de misticismo, afinal foi John H. Hammond, o guru que recuperou as gravações de Robert Johnson , quem descobriu o guitarrista.
Todo o disco porta uma atmosfera de misticismo, afinal foi John H. Hammond – responsável pela redescoberta do trabalho lendário de Robert Johnson – quem descobriu o guitarrista e lhe deu a possibilidade de assinar contrato discográfico com a Columbia/Epic Records. Antes de gravar este disco, Stevie Ray gravou, imagine-se, as guitarras do álbum “Let’s Dance”, de David Bowie. Depois, uma série de contratempos fizeram com que o músico não participasse na digressão de suporte ao disco. Em boa hora isso aconteceu, porque assim dedicou-se ao seu trabalho em nome próprio.
Após esta estreia, fez mais 2 álbuns de rajada nos dois anos seguintes e depois demorou um pouco mais a lançar o seu 4º álbum e os dois últimos são registos algo diferentes daquilo que podemos ouvir aqui. Era como se a fonte começasse a murchar. Por tudo isso, “Texas Flood” é O Álbum obrigatório de Stevie Ray Vaughan! Um álbum puro de guitarra, um registo de poesia agressiva e apaixonada sob a forma do som das seis cordas. Os temas surgem num fluxo imparável, todo o disco é impulso e instinto. Gravado apenas em três dias, a espontaneidade e coesão entre Stevie Ray e o baterista Chris Layton e o baixista Tommy Shannon é um caso sério de estudo e de audição exaustiva!