Super Bock em Stock 2023: A Masterclass Disco Pop de Filipe Karlsson, O Calor Baiano de Gilsons e a Danceteria Indie de Will Butler + Sister Squares
2023-11-24, Super Bock em Stock, LisboaO Super Bock em Stock regressou à Avenida da Liberdade, em Lisboa, para dois dias de concertos repletos de propostas musicais diversificadas. Aqui destacamos a máquina de fazer canções orelhudas que é Filipe Karlsson, as boas vibrações da MPB dos Gilsons e o vigor da eletrónica dançável de Will Butler + Sister Squares.
Mais um ano, mais um Super Bock em Stock. Para qualquer festivaleiro que se preze, este é um evento que ajuda a matar as saudades dos festivais de verão e particularmente dos kms que se fazem entre palcos. Com dez salas situadas ao longo da Avenida da Liberdade, sendo uma delas móvel, o Super Bock Bus, o difícil é mesmo fazer uma seleção do que se quer ver, isto porque a quantidade de sobreposições que encontramos na programação é considerável. Todavia, apresentamos aqui a nossa análise a três concertos que marcaram o primeiro dia do Super Bock em Stock 2023.
Filipe Karlsson
Depois de em 2021 ter-se apresentado na Sala Rádio SBSR.FM, este ano, Filipe Karlsson recebeu um voto de confiança por parte da organização do Super Bock em Stock e subiu ao palco da sala principal do festival, a Sala Super Bock, situada no Coliseu dos Recreios. O sucesso digital do seu último EP “Mãos Atadas” (2022), bem como a sua presença no Cool Jazz 2023, a abrir para Lionel Richie, certamente foram essenciais para este crescimento natural da popularidade da sua música, que começa aos poucos a sair de um contexto semi-underground, e chega agora a um público mais abrangente e heterogéneo.
Ao Super Bock em Stock 2023, Karlsson levou a banda que o acompanha desde o início da sua incursão a solo, mas com a adição especial de um novo elemento. Além de Carl Karlsson nos teclados, Kyle Quest na percussão, Guilherme Proença no baixo e Martim Seabra, que trocou a bateria pela guitarra, Karlsson fez-se acompanhar das baquetas de Francisco Santos.
Ao longo de cerca de 50 minutos, Filipe Karlsson, além de destilar estilo, agarrou-se à sua Danelectro 59M NOS, percorreu o seu curto, mas incisivo, catálogo e deu-nos uma autêntica masterclass de como se escreve malhas disco pop pegajosas e carregadas de ganchos. Faixas como “Madrugada”, “Mãos Atadas”, a nova “1 Casa 2 Portões”, ou os já “clássicos” “Vento Levou” e “Razão” comprovaram esse domínio ao serem entoadas por grande parte do público. Já a introdução de certas secções de improvisação, onde reina o groove e a coesão rítmica entre Karlsson e a banda que o acompanha, proporcionaram a todas estas malhas uma nova dimensão sonora.
Gilsons
Passado menos de um mês, José Gil e João Gil regressaram a Portugal, e novamente ao Coliseu dos Recreios. Desta vez, não vieram acompanhar o pai e avô Gilberto Gil, mas fizeram-se acompanhar do filho e irmão Francisco Gil para o espetáculo do trio Gilsons.
Apoiados nas fortes tradições baianas, a música dos Gilsons apresenta-se como uma mixórdia de estilos que vão desde a MPB ao rap e funk, passando pelo samba e o afoxé. A promover os singles de 2023 “Céu Rosé”, “Bateu” e “Presente”, o trio foi recebido de forma entusiasta por um coliseu já bem composto. E se noite lá fora estava bem fresquinha, para dentro do coliseu os Gilsons trouxeram o calor do Brasil e aqueceram o coração do público com as favoritas “Várias Queixas”, “Love Love” e “Devagarinho”.
Will Butler + Sister Squares
Na sua estreia “a solo” em Portugal, depois de ter passado por cá muitas vezes com os Arcade Fire, Will Butler trouxe consigo as Sister Squares para apresentar o seu projeto conjunto Will Butler + Sister Squares e o respetivo álbum homónimo editado este ano.
Considerado por muitos como o concerto de cabeça de cartaz do primeiro dia do Super Bock em Stock 2023, foi de estranhar que o espetáculo tivesse sido marcado para o Cinema São Jorge, e não para a sala principal, e consequentemente com maior capacidade, o Coliseu dos Recreios. Este aspeto acabou por refletir-se no rebuliço e na agitação do público a entrar numa sala que além de ter uma capacidade consideravelmente reduzida apresenta ainda lugares sentados, algo que não combinou de todo com a música extremamente dançável que Will Butler + Sister Squares praticam.
Com uma setlist que também percorreu os álbuns a solo de Butler, “Policy” (2015), “Friday NIght” (2016) e “Generations” (2020), com temas como “Anna” e “Surrender”, Will mostrou ao longo de todo o concerto a sua faceta de “homem dos sete instrumentos”, ao alternar entre a voz, guitarra, baixo e sintetizadores. Já as Sister Squares, que além de Julie, Jenny e Sara fazem acompanhar-se de Miles na bateria, dedicaram-se exclusivamente aos vocais de apoio e à “maquinaria” que constrói a moldura sonora indietronica/electropop de Will Butler + Sister Squares. Um Korg MS-20, um Mellotron, um Sequential Take 5 foi o que vislumbrámos no lado direito do palco.
Temas como “Saturday Night”, “Hee Loop” e “Stop Talking” levantaram o público do seu assento e transformaram o São Jorge numa pista de dança pouco convencional. Já Butler com toda a sua espontaneidade e energia contagiante levou os que estavam presente ao rubro, especialmente na despedida quando saltou do palco e deu uma volta de honra à Sala Manoel de Oliveira. Soube a pouco.