SWR – DIA 5
2012-05-30, BarroselasA passagem pelo SWR Arena mostrou uma banda difícil de compreender, os YR?. Com momentos de pura esquizofrenia e mesmo cacofonia alternados com outros com bom groove, muito às custas de um baterista que se destacava acima dos restantes músicos da banda.
Continuando o caminho até ao palco 2 deparamo-nos com um grande concerto dos EAK. Uma força tremenda nos temas, orelhudos o suficiente, e boa presença dos músicos em palco. Apenas um apontamento: visto de fora parecem ter sido problemas com a pedalboard de um dos guitarristas que fez a actuação ser interrompida, algo que podia ter sido evitado com a opção imediata pela solução que acabou por ser encontrada – ligar directamente a guitarra ao Peavey 5150 – e que acabou mesmo por melhorar o som de guitarra, retirando o processamento o sinal ficou mais diferenciado da outra guitarra que compõe o som da banda, abrindo mais o campo de frequências produzidas e enriquecendo o som. Contudo, mesmo com as paragens, os EAK foram uma mostra de solidez e rock!
No palco principal surgiam os Corpus Christii com um concerto competente – ainda que não tenha sido o melhor que já vi à banda – e com um baterista que acrescenta muita dinâmica à banda que, desde “Luciferian Frequencies”, adoptou mais abertamente uma postura mais rock n’ rol à sua ortodoxia black metal. Em termos de produção a verdade é que a banda ocupa bem um palco grande como o main stage do SWR, quando em comparação com os “becos” a que as bandas nacionais são tantas vezes sujeitas.
Apesar dos elogios a Cerebral Bore, a minha atracção pelo rock n’ roll que os Alto! estavam a mostrar no SWR Arena venceu na opção. Os barcelenses deram um concerto memorável, com swing, sentido garage e beach rock, muita presença em palco e som característico através duma parelha Fender Jaguar e Danelectro nas guitarras. Foi pena estar pouca gente a assistir, mas isso não esmoreceu minimamente a banda.
Depois o melhor momento de guitarra do festival! Bill Steer (como bem me lembrou um amigo) subiu ao palco com Angel Witch, projecto sem qualquer pretensiosismo estrutural – A, B, Bridge, Chorus – para chegar sempre ao momento do shred. Os Angel Witch estarão longe do brilhantismo de Carcass, mas o guitarrista está como o Vinho do Porto, sem nunca saturar no uso dos solos, essencialmente devido ao groove e pertinência melódica que lhes consegue imprimir, algo que sempre distinguiu os próprios Carcass e que tanta falta faz a inúmeras bandas de death metal ou grind actualmente.
E uma vez que falamos em groove, subiu a palco o groove couple – Gazelle Amber Valentine e Edgar Livengood – para demolirem tudo. Uma parede de som colossal (Amber recorreu e 6 amplificadores – Orange, Sunn, Mesa…) movida pela exuberância de Livengood na bateria, o músico desgraçou mesmo um crash Sabian que estava a usar. A cumplicidade musical entre ambos torna difícil distinguir entre os momentos estruturados dos temas e os inúmeros momentos de jam. Aliás é muito maior o sentido jam do que a recorrência a temas gravados em álbum, e ao vivo a banda é muito menos experimental na fusão musical que faz, mantendo-se muito mais no campo do sludge. Depois, e perdoem-me a frescura, a senhora Amber, com a guitarra nas mãos torna-se numa das mulheres mais sexy do mundo. Resumindo, mais uma vez no SWR, mais uma vez inesquecível!
Caminhava-se para o final, não sem antes os Hipocrisy se mostrarem como os headliners que conseguiram dar o melhor concerto na edição deste ano. Trouxeram também um número considerável de público especificamente para os ver. Foram também os headliners com melhor som se considerarmos todos os dias de festival – isso apaga um pouco o mito de que o som no SWR é mau e coloca a responsabilidade nos técnicos que as bandas trazem, diria. Mas voltando aos suecos liderados por Peter Tägtgren, a banda manteve sempre um set dentro dum mesmo espectro dinâmico, como se a compressão dos discos fosse transportada para o concerto. Pessoalmente, acho que isso retira alguma dinâmica ao concerto, tornando o set todo muito semelhante – mas é inegável que os Hipocrisy souberam desenvolver a sua sonoridade para um registo melódico que fica no ouvido e prende a atenção. Com o final da sua actuação muito público despediu-se do festival.
Os que ficaram puderam ver os Holocausto Canibal com o “serrote” do costume, mas a sentir-se a banda num espírito mais de fim de feira (eles que já haviam tocado no dia 0). E depois os Whiplash também em jeito de despedida festiva trouxeram-nos a nostalgia do seu thrash metal, com aqueles solos rápidos e épicos – um bom final de festa.
O SWR completou o seu 15º aniversário num ano em que a organização continuou a mostrar os seus esforços de melhoramentos de infraestruturas e merecia que mais público se tivesse junto à celebração. Contudo o que move o underground é o amor à camisola e para o ano há mais!