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SWR XVI – DIA 3

Nero

No dia 27 de Abril, o último dia de festividades inicia-se com os mexicanos Zombiefication, mostrando um Death Metal interessante com algumas influências suecas, estando a promover o seu álbum At The Caves Of Eternal, a lançar durante o mês de Maio deste ano.

Continuando no México e em tournée conjunta pela Europa estiveram os Piraña, apresentando um Thrash Metal à antiga com cojones. Os horários foram ajustados para este dia, tendo a banda passado para o palco 2 em vez do SWR Arena. “Guerrilla War” e “Cruz Rota/Broken Cross” alguns dos temas tocados sempre com muita energia. O vocalista dirigiu-se ao público diversas vezes, e no fim do concerto, após terem terminado e o público pedir mais uma música, fez uma declaração exigindo a legalização imediata de “Marihuana”, tema que terminou assim o set.

Seguiram-se no palco 1 os nacionais Heavenwood, que após uma mudança de formação recente se apresentaram com elementos novos, Ricardo Oliveira (Clinger) no baixo e Vitor Carvalho (Demon Dagger) na guitarra. Iniciaram com “The Arcadia Order” do último álbum de originais, revisitando ainda os seus primeiros trabalhos com “Flames of Vanity” e a já habitual “Rain of July”. Pudemos ouvir em primeira mão uma nova música “The Juggler” a figurar no seu próximo álbum The Tarot of the Bohemians – Part I. Ritmo e riffs musculados, voz tanto cantada como gutural prenunciam um trabalho interessante, ficamos a aguardar novidades do lançamento. Visitaram o seu trabalho Redemption com a excelente “13th Moon” e no fim da actuação com “Bridge to Neverland”. Uma boa performance, penalizada apenas pelo pouco volume de saída dos samples de orquestrações – o que acabou por remover impacto a alguns dos temas – e em que mostraram uma adaptação coesa dos novos músicos à banda.

Seguiu-se nos palco 2 uma dupla espanhola de Black Metal, os Balmog e os Primigenium, tendo estes últimos despertado maior atenção por parte do público e mostrado maior coesão em palco. Apresentaram um Black Metal tradicional, rápido e com riffs cortantes. Um das primeiras bandas do género a aparecer na vizinha Espanha durante os anos 90, com 3 lançamentos de estúdio, deram os seus primeiros espetáculos ao vivo apenas em 2012. No entanto, conseguiram transmitir um grande solidez e muita negritude, num concerto com muita intensidade e uma descarga contínua de riffs gélidos e blastbeats.

Dentro ainda do Black Metal mas com ramificações mais progressivas e ambientais entraram em cena no palco 1 os alemães Secrets of The Moon. Iniciaram com “Blood Into Wine” do seu último álbum de originais Seven Bells. Visitaram ainda um dos seus álbuns de referência Antithesis com “Seraphim Is Dead” e “Lucifer Speaks”. Um concerto muito atmosférico, cativando a atenção do público do início ao fim, fãs e curiosos. O vocalista manteve uma comunicação breve com a plateia, introduzindo os temas, anunciando um regresso ao último trabalho com “Serpent Messiah” e a excelente “Nyx”. Terminaram com  “Shepherd” retirado do álbum Privilegivm de 2009, um momento mais calmo e ainda mais introspetivo. Com temas longos e etéreos tocaram apenas 6 músicas, tendo o tempo passado a voar. Foi um concerto cativante, esperemos que possam regressar em nome próprio ao nosso país.

O momento Heavy Metal do festival estava reservado para os épicos Manilla Road, banda com um catálogo impressionante, algo como 16 álbuns de originais, um pouco obscura dentro do universo do Metal mas atingindo estatuto de culto junto dos aficionados do género. Com um início bombástico tocam “Masque of the Red Death” e “Death by the Hammer” do excelente álbum de 1987 Mystification. O vocalista Bryan Patrick tem uma voz caracterísitca, fazendo na seguinte “Hammer of the Witches” vocalizações diferentes da habitual voz limpa, mais arranhada. A banda encontra-se a promover o seu mais recente trabalho Mysterium, lançado há cerca de 2 meses, começando de seguida “Stand Your Ground” e mais para o fim ainda “Only the Brave”. De seguida um dedilhado de guitarra dá o mote para “Witches Brew” do álbum Open the Gates de 1986, seguido de “Divine Victim” e “Road of Kings”. A banda agradeceu à organização pelo excelente festival e a todos os que trabalham invisíveis atrás dos palcos, indicando que são eles que ajudam a garantir o bom funcionamento do mesmo merecendo um aplauso e reconhecimento. 

Um dos pontos altos do concerto foi quando o guitarrista Mark Shelton começou a tocar os primeiros acordes de “Cage of Mirrors” levando-nos a recuar na história da banda até ao seu segundo álbum Metal de 1982. Sendo o vocalista principal nos lançamentos de estúdio da banda, demonstrou ao vivo um controlo vocal excelente, transformando esta música num momento mágico da actuação. Sequência final a celebrar os 30 anos do lançamento do álbum Crystal Logic, com “Crystal Logic” e o clássico “Necropolis”.

No palco Milhões assistira-se a uma actuação tão carregada de brutalidade quanto de atitude punk e rock n’ roll. Herdeiros desse cruzamento que despontou na Suécia os Aggrenation não deixaram nada de pé na sua prestação. É verdade que houve alguma “rebaldaria” na execução de tempos e vários pregos a soarem, mas a banda esteve sempre no limite. Som de guitarra bastante curioso, com o cruzamento de uma Peavey EVH II e uma Telecaster, naquele que terá sido o concerto em que, sonoramente, o palco “gratuito” mais perto esteve dos dois palcos principais. A banda conta apenas com 2 splits na sua discografia [com os Nulla Osta e com os Homo Homini Lupus] que tocou na íntegra – o que a banda tinha à venda já mora na redacção da Arte Sonora. “Porrada” a sério! 

De seguida Black Bombaim no palco 2, banda com cartas mostradas lá fora, apresentam-nos em forma de jam contínua um passeio pelos seus trabalhos. Exímios instrumentistas debitando sons arrebatados de guitarra, baixo e bateria, demonstraram que as vocalizações podem ser acessórias em algumas “viagens musicais”. Banda muito interessante, a ouvir e sentir com atenção.

Possessed. Sem necessitar de introduções, banda histórica do Metal extremo, foi pioneira no abrir fronteiras musicais e na concepção do Death Metal como género. Após o vocalista ter sido baleado num assalto fica paralisado e numa cadeira de rodas, colocando assim um fim abrupto ao colectivo em 1990. Eis que contra todas as expectativas Jeff Beccera em 2007 decide reformar a banda com novos elementos e apresentar o culto ao vivo. Presença muito aguardada em Portugal, sentia-se a expetativa no ar, elevada ainda mais quando começa a soar nas colunas a introdução do seu segundo álbum Beyond the Gates de 1986. E eis que se inicia “The Heretic”, criando o caos na assistência, continuando com  “The Eyes of Horror” e “Swing of the Axe”. O seu EP The Gates of Horror e o primeiro álbum Seven Churches foram tocados quase na íntegra, no que foi uma descarga intensa, tendo o público estado incansável na movimentação.

“Pentagram”, “Fallen Angel”, “Satan’s Curse” e “Evil Warriors” uma sequência demoníaca, destacando a dupla de guitarristas Daniel Gonzalez (Nailshitter) e Kelly Mclauchlin (Pessimist), que conseguiram reproduzir as músicas e solos na perfeição. O vocalista parecia estar a divertir-se em palco, sempre em headbanging, mostrando o seu agrado quanto à loucura que se desenrolava diante dos olhos, com o moshpit e stagediving a atingir o ponto mais intenso do festival. Tocaram uma música nova “The Crimson Spike”, demonstrando assim a vontade de continuar o legado da banda e de não se tratar apenas de um regresso nostálgico. Novamente sequência diabólica com a excelente “The Exorcist”, “Seven Churches”, ” Twisted Minds” e por fim a “Death Metal”, muito celebrada entre os fãs e clássico dos clássicos dentro do género. Um concerto que passou de rajada, ficando a sensação de estarmos a ver um pedaço importante da história do Metal à nossa frente, uma das bandas mais extremas da sua altura. Após uma pausa regressaram ao palco e o vocalista anunciou novo regresso ao seu EP com “My Belief”. Abandonando o palco outra vez, e mesmo após terem desligado os instrumentos/amplificadores, eis que a pedido do público e com a luz verde da organização regressam, atacando sem cerimónias “Holy Hell” e última das últimas a excelente “Tribulation”.

Concerto simplesmente memorável, muito respeito demonstrado pelos fãs ao vocalista, que mesmo em condições difíceis decidiu continuar a mostrar e frontear uma banda tão icónica, notando-se claramente a sua enorme satisfação ao fazê-lo.

 Os Sublime Cadaveric Decomposition (SCD) tiveram a tarefa um pouco ingrata de tocar depois da descarga de violência física e psíquica que foi Possessed, no entanto havia muitos fãs que aguardavam este concerto, ajudando o facto de não terem conseguido comparecer à edição do ano passado. Um Death Metal/Grind furioso foi o que entregaram gerando muita movimentação e caos no Palco 2.

Como referido anteriormente, ao início da tarde foram afixados pelo festival cartazes com novos horários. Não foi publicado/referido directamente o motivo das alterações, apenas com alguma atenção se notava que Antaeus tinha desaparecido do alinhamento e colocado em seu lugar uma banda surpresa. E eis que, após algum burburinho durante a tarde, do fumo e da escuridão do palco 1 entram os míticos Mata-Ratos. “Napalm Na Rua Sésamo” e “Raça humana” dão o mote para o que iria ser uma festa incrível do início ao fim.  Durante as primeiras músicas foram sempre chegando novos reforços para o moshpit e stagediving loucos que se criaram. “Outra Rodada” e “Menina da Rua” continuavam a descarga, “Amor Eterno” e “C.C.M.” mostram a banda sempre a debitar clássicos num ritmo alucinante, sem tréguas e quase sem pausas, com o público a entoar as músicas e o vocalista a partilhar o microfone várias vezes nos refrões. Sequência final com “Eu Tenho um Pobre” e “Xu-Pa-Ki”, cantada alto e bom som pela plateia. Depois de saírem de palco, foi dada luz verde e ainda tiveram tempo de regressar para “Leis de Merda” e o grande clássico “A Minha Sogra é um Boi”. Boa aposta da organização, que conseguiu uma substituição em tão curto espaço de tempo e com um  efeito tão apreciado pelos festivaleiros, tendo sido um dos momentos altos de festa nestes 4 dias em Barroselas.

E quase a chegar ao fim, com honras de fecho do festival, entraram em cena os colombianos Internal Suffering. Longe de estreantes no SWR, já tinham dado um concerto demolidor em 2003 na edição VI do festival. Após um interregno na actividade da banda retornam às lides com o seu Brutal Death Metal ultra rápido e extremo. E foi mesmo isso que entregaram, um concerto muito extremo, com guitarra e bateria frenéticas, voz ultra gutural. O festival encerrava assim os concertos, com a festa a continuar noite dentro com o DJ Old Skull no SWR Arena.

De referir que os concertos nos palcos principais foram filmados e transmitidos em directo através de streaming na internet, uma iniciativa extremamente louvável e até pioneira dentro do próprio género, uma oportunidade para o festival e as bandas chegarem a um maior público.

As datas do festival para o próximo ano já estão anunciadas, marcamos encontro para os dias 23 a 26 de Abril de 2014.