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The 1975 ou “1984” no Campo Pequeno

The 1975 ou “1984” no Campo Pequeno

2024-02-26, Campo Pequeno, Lisboa
Rodrigo Baptista
Jordan Curtis Hughes
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Naquele que foi o seu primeiro concerto em Portugal em nome próprio, os The 1975 apostaram as suas fichas todas e proporcionaram-nos um espectáculo teatral assente numa narrativa distópica. Matt Healy, o protagonista decadente e alienado, abriu-nos as portas da sua casa e, entre uma autodestruição simulada, revelou-nos uns The 1975 no pico da sua forma.

[Nota: não foi permitido à Arte Sonora fazer a habitual galeria fotográfica]

Depois das passagens pelo Optimus Alive 2014, NOS Alive 2016 e Super Bock Super Rock 2018 e 2023, os The 1975 estrearam-se finalmente em Portugal em nome próprio com a sua “Still…. At Their Very Best” tour, uma expansão temática e cenográfica do espectáculo idealizado e coordenado pelo líder e vocalista Matt Healy para a tour “At Their Very Best” de 2022 e 2023. Ainda a promover “Being Funny in a Foreign Language” (2022), e com uma setlist que ilustra a evolução da banda desde a sua estreia em 2013 com o álbum homónimo, os The 1975 predispuseram-se a percorrer as várias eras da banda com o intuito de satisfazer todos os fãs e de compensá-los pelo hiato dos palcos por tempo indefinido que vão iniciar após o término da tour.

Mal acabou a actuação dos Ben Stellar, banda de abertura que nem aqueceu nem arrefeceu o público, rapidamente desceu uma cortina negra com apenas um foco a projetar o logo da banda. 20:35 era a hora marcada para o início do concerto, uma hora particularmente prematura para uma banda “cabeça de cartaz” subir ao palco. Porém, mais tarde, depois das duas horas de espectáculo, esse horário acabou por revelar-se o mais indicado.

Com os ponteiros a baterem na hora marcada, as luzes apagaram-se e de seguida caiu a cortina para revelar-nos o cenário de sala de estar, que mais parecia uma casa de bonecas em tamanho real, inspirado naquele que já tinha sido apresentado na “At Their Very Best” tour. Aos poucos cada elemento foi entrando pela porta que se situava na parte de trás do palco e ao dirigirem-se para as suas posições cada um acendia um candeeiro. Primeiro o vocalista Matt Healy, o guitarrista e teclista Adam Hann e o teclista/multi-instrumentista Jamie Squire e só depois, já ao som de “The 1975”, entraram o baixista Ross MacDonald, o baterista George Daniel, a guitarrista Polly Money, o saxofonista John Waugh e a percussionista Gabrielle Marie King.

Pensado quase como uma ópera ou teatro musical, com três actos definidos, o espectáculo segue uma narrativa distópica onde o protagonista resignado aos seus excessos e a uma vida decadente acompanha as notícias na televisão que abordam a reputação da banda e a conjuntura político-social que o mundo atravessa.

Pensado quase como uma ópera ou teatro musical, com três actos definidos, o espectáculo segue uma narrativa distópica onde o protagonista resignado aos seus excessos e a uma vida decadente acompanha as notícias na televisão que abordam a reputação da banda e a conjuntura político-social que o mundo atravessa. O primeiro acto foi dedicado ao mais recente álbum do grupo, “Being Funny in a Foreign Language”, com “Looking for Somebody (to Love)”, “Happiness”, “Part of the Band”, “Oh Caroline”, a serem apresentadas de rajada. Logo desde início ficou demonstrado que os The 1975 procuram potenciar nesta tour a sua performance musical ao transformarem-se numa espécie de E Street Band de oito elementos com uma moldura sonora preenchida e extremamente colorida.

Mais à frente “A Change of Heart” de “I Like It When You Sleep, for You Are So Beautiful yet So Unaware of It” (2016) trouxe-nos umas interessantes harmonias vocais entre Healy e Polly Money, enquanto “Me” de “Music for Cars” (2013) ilustrou a sonoridade atmosférica já explorada pelos The 1975. “About You” mostrou-nos, mais uma vez, as capacidades vocais de Polly com a guitarrista a encarregar-se da ponte da música.

“When We Are Together” foi o momento de transição para o segundo acto. Enquanto a banda tocava o tema, vários roadies entravam e saiam de palco como uma empresa de mudanças para levar móveis, plantas e agrupar as várias televisões que se encontravam espalhadas. Terminada a música a banda ausentou-se, deixando apenas Matt Healy com a sua atenção virada para as televisões que se encontravam a transmitir vários canais de notícias. Enquanto assistia à transmissão, algo hipnotizado, Healy fazia flexões como que numa analogia para com a sociedade alienada e desinformada que se preocupa mais com o aspecto físico do que com a conjuntura político-económica do mundo. Healy acaba depois por entrar por uma televisão a dentro, mais uma vez, numa demonstração de que são os media que nos consomem e não o contrário. Estava assim iniciado o segundo acto, intitulado “Matty’s Nightmare”.

“Jesus Christ 2005 God Bless America”, uma faixa folk com Polly nos vocais, foi o único tema apresentado neste segundo acto, pois rapidamente saltámos para o terceiro, intitulado “Still… At Their Very Best”. Healy regressou a palco já com um visual renovado, desta vez vestido de fato, como que a assinalar uma mudança de atitude do protagonista da narrativa. “Senhoras e senhores!” exclamou Matt Healy agora com uma postura de anfitrião. «Vocês estão a ver os The 1975 ainda no seu pico.»  “If You’re Too Shy (Let Me Know)” arrancou a chamada reta dos maiores clássicos. Seguiram-se as dançantes “TOOTIMETOOTIMETOOTIME”, “It’s Not e  Living (If It’s Not With You)” e “The Sound”, intercaladas por um discurso de Matt Healy a enaltecer e a agradecer aos fãs por estarem presentes na primeira passagem da banda por Portugal em nome próprio. A balada “Somebody Else” acalmou os ânimos, mas não as emoções, assim como excerto acústico de “Guys”. Seguiu-se “I Always Wanna Die (Sometimes)”, com o seu refrão emo a ser entoado por todos, “Love It If We Made It”, “Sex”, e a faixa mais pesada da banda, a roçar o punk, “People”, que encerrou a noite.

As despedidas foram feitas à pressa e sem grandes trocas de afetos, com a banda a sair de palco exatamente pela mesma porta por onde tinha entrado. Para a memória fica um espetáculo que, além de nos colocar a dançar ao som de grandes hinos pop, trouxe uma mensagem pertinente e fez-nos questionar que mundo estranho é este em que vivemos?

SETLIST

  • The 1975 (BFIAFL)
    Looking for Somebody (to Love)
    Happiness
    Part of the Band
    Oh Caroline
    I’m in Love With You
    A Change of Heart
    Robbers
    Me
    Be My Mistake
    fallingforyou
    About You
    When We Are Together
    Jesus Christ 2005 God Bless America
    If You’re Too Shy (Let Me Know)
    TOOTIMETOOTIMETOOTIME
    It’s Not Living (If It’s Not With You)
    The Sound
    Give Yourself a Try
    Somebody Else
    Guys
    I Always Wanna Die (Sometimes)
    Love It If We Made It
    Sex
    People