Quantcast
Manel Cruz, o bom filho à casa torna [Casa da Música, Porto]

Manel Cruz, o bom filho à casa torna [Casa da Música, Porto]

2024-02-28, Casa da Música, Porto
Ricardo Rego
Lazarus Agency
9
  • 10
  • 10
  • 7

Sozinho em palco com um ukulele, uma guitarra e um baixo acústicos é assim que se apresenta Manel Cruz na digressão intimista que passou pela Casa da Música no dia 28 de Fevereiro de 2024.

O bom filho à casa torna e muitas casas tem o Manel Cruz na cidade do Porto. Dos primeiros concertos com os Ornatos Violeta no Sinatra’s, passando pelo Silo Auto, até à Sala Suggia na Casa da Música em nome próprio, devem haver poucos lugares nesta cidade onde o Manel não tenha tocado. E o mais impressionante é que, seja a solo ou com bandas, em salas pequenas ou grandes, em festivais ou em nome próprio, esgotou-as todas. Hoje foi mais uma noite esgotada, a segunda seguida, na sala principal da emblemática Casa da Música.

É impossível dissociar o Manel Cruz a solo do Manel Cruz dos Ornatos Violeta, dos Pluto, dos Supernada, do Foge Foge Bandido. Esta noite, mais do que uma celebração das suas diferentes facetas, foi uma noite do Manel a ser Manel. Tocou o que quis, como quis, com o público na mão, sem ter caído na tentação de puxar dos galões e, para agradar, tocar as músicas que o tornaram famoso.

Esta noite, mais do que uma celebração das suas diferentes facetas, foi uma noite do Manel a ser Manel.

Apresentou-se sozinho em palco com um ukulele, um baixo acústico e aquela guitarra acústica da Takamine com o autocolante do tubarão. Um instrumento que está a caminho de se tornar um dos objetos icónicos da história da música em Portugal. Atrás dele, uma tela com uma tímida, mas eficiente projeção de forma e cor que mudava a cada música.

«É um prazer muito grande estar aqui… Conhecer o Porto finalmente.» Começou assim uma viagem onde, durante uma hora e meia, o Manel nos levou pelo seu longo catálogo musical, cantando e contando histórias de cada música que apresentou. Algumas sobre amor, outras sobre a “dor de corno”, outras sobre esperanças defraudadas. Pelo meio “Pode beijar a noite”, a segunda canção mais curta da Europa, «segundo um jornal de Oliveira de Azeméis», seguida da canção mais curta da Europa, “Mau Hálito”. Um alinhamento feito essencialmente de músicas do projeto Foge Foge Bandido e Vida Nova, com dois piscar de olhos aos Ornatos Violeta: “Falso Graal”, uma música antiga que quando foi apresentada aos Ornatos eles acharam que era «muito escura para um adolescente», e “Devagar”, uma composição lindíssima, lançada no álbum “Inéditos/Raridades”.

Em relação à sala, destaque para a incrível qualidade do som e o, igualmente incrível, respeito do público, em silêncio absoluto durante todas as músicas. Já entre músicas, teria sido escusado o Manel ter de lidar com um senhor que lá estava a mandar bitaites, em melhor modo Tio Bêbado das festas de família.

Vejo no Manel um velho amigo com quem aprendi muito. Admiro-lhe a coragem, a transparência e a convicção.

Apesar de já ver o Manel Cruz ao vivo desde 1997, não o conheço pessoalmente. Aliás, a única vez que me cruzei com ele fora de uma sala de espetáculos foi numa padaria na Rua de Santa Catarina, quando lhe pedi um autógrafo para a minha filha mais velha. No entanto, e acredito que o mesmo se aplique a muitas das pessoas que estavam hoje na Casa da Música e a muitas das pessoas que vão ler este artigo, vejo no Manel um velho amigo com quem aprendi muito. Admiro-lhe a coragem, a transparência e a convicção. Tem muitas provas dadas nestas três qualidades. Entre outros exemplos, não escondeu porque acabou com os Ornatos Violeta e porque é que retomaram. Não escondeu que faz música por prazer e também para pagar contas (porque o prazer não as paga). Não aceitou as críticas de ser o Poster Boy da Câmara Municipal do Porto nas questões do STOP e pôs o dedo na ferida, manifestando a sua opinião sobre o tema em primeira voz. Cria e desconstrói na mesma medida. Faz o que quer, quando e como quer. Não parece ter máscaras, nem fazer de conta.… ah… e escreve bem como o car*lho.

O Manel Cruz podia ter tocado músicas mais consensuais, das tais que pagam as contas? Podia. O concerto foi bom? Foi. O concerto foi ótimo? Foi o que foi.

SETLIST

  • 1. Onde estou eu
    2. Como um bom filho do vento
    3. Mal nenhum
    4. Sonho e forma
    5. Acordar
    6. Ginger Lynn
    7. Pode beijar a noiva
    8. Mau hálito
    9. Quem sabe
    10. Foi no teu amor
    11. Algures perto do mar
    12. Navio dela
    13. Falso Graal
    14. Desce à cama
    15. –
    16. Lágrimas são para correr
    17. Canção sem título
    18. Devagar
    19. Lua de fogo
    20. Reencontro
    Encore
    21. Uma razão para seguir
    22. Vida nova