The Dandy Warhols, Boémios & Psicadélicos

Naquele que foi o seu primeiro concerto de clube em Portugal, e apenas o terceiro em nome próprio após a sua estreia por cá em 2002, os The Dandy Warhols trouxeram até ao LAV o seu rock alternativo repleto de psicadelismo, garage rock e alguns pozinhos de power pop.

Para quem está dentro do universo do rock alternativo os The Dandy Warhols não necessitam de qualquer introdução. Juntos há quase trinta anos, a banda liderada por Courtney Taylor-Taylor não move grandes massas, mas apresenta um público fiel que confirma o seu estatuto enquanto banda de culto. Ao longo da sua carreira foram explorando vários géneros, e ainda hoje é difícil encaixá-los numa só gaveta, é por isso que muitas das vezes são descritos como uma banda de rock alternativo, mas o que é certo é que podemos facilmente identificar elementos de neo-psychedelia, space rock, garage rock, power pop e até new wave.

A sua tipologia de espetáculo remete para a simplicidade da cena alternativa dos anos 90, onde a imagem do rig presente na garagem ou sala de ensaio é diretamente transposta para o palco. Desta forma, não existem quaisquer tipos de decorações nem cenografia, o foco é todo na música e nos seus intervenientes. É certo que no início no concerto, os técnicos ainda tentaram projetar qualquer coisa na tela gigante que se encontra por detrás do palco, talvez o logo da banda, mas após várias tentativas falhadas acabaram por desistir.

Atrasados sensivelmente meia hora, sendo que o concerto não apresentava banda de abertura, os The Dandy Warhols entraram no LAV pelo meio do público, algo incomum e que apanhou muitos dos presentes desprevenidos. A abertura do concerto deu-se ao som de “Be-In” do álbum “… The Dandy Warhols Come Down”, faixa que colocou logo em evidência toda a maquinaria da teclista Zia McCabe que faz-se acompanhar de um Korg MS-20, utilizado para tocar as partes de baixo, um Moog Little Phatty Stage II e um Kurzweil K2000 VP.

Para esta tour, os The Dandy Warhols optaram por apresentar um alinhamento em formato best of, visto que para além de não terem nenhum álbum anunciado para este ano, também “Tafelmuzik Means More When You’re Alone”, o útlimo álbum de estúdio editado em 2020 não teve qualquer representação na setlist. O shoegaze de “Ride” foi a primeira espreitadela a “Dandy Rules OK”, o longínquo álbum de estreia do grupo editado em 1995. Com um timbre hipnótico, Courtney Taylor-Taylor consegue ser ao mesmo tempo, uma figura carismática e misteriosa. A performance de Courtney caracteriza-se pela sua estranha configuração de microfones, isto porque o músico não se limita a utilizar um único microfone, como é habitual para um vocalista, usa dois e vai alternando entre eles durante as músicas para conseguir diferentes efeitos sonoros.

À semelhança do que já tínhamos assistido no concerto dos Pixies, também os The Dandy Warhols optam por interagir pouco com o público, com as transições entre as músicas a serem feitas de forma quase ininterrupta. “Not If You Were the Last Junkie on Earth”, “We Used to Be Friends” e “STYGGO” demonstraram a consistência rítmica de Brent Deboer, que apesar da sua postura relaxada apresentou-se com a sua backbeat sempre no pocket enquanto o guitarrista Peter Holmström explorava toda uma vasta paleta sonora psicadélica com recurso a várias guitarras e baixos, entre eles um Fender Bass VI de seis cordas.

“Every Day Should Be a Holiday”, o single de 1997, foi uma das mais celebradas da noite, com Courtney sozinho em palco a cantar a faixa apenas acompanhado pela sua Epiphone Sheraton vermelha conectada a um VOX AC30. “Bohemian Like You” era a música pela qual todos esperavam e não desiludiu. O tema do álbum “Thirteen Tales from Urban Bohemia” (2000), catapultou os The Dandy Warhols para o sucesso mundial quando, entre 2001-2004, foi utilizada pela Vodafone para vários anúncios de televisão. Aliás, com o dinheiro que Courtney Taylor-Taylor arrecadou em royalties, cerca de 1.5 milhões de dólares americanos, comprou um quarteirão e transformou-o num complexo com espaço para gravação, edição de filmes e web design.

Zia acabaria o seu solo com um crowdsurf até ao bar do LAV como que a dar a deixa: «Agora vamos beber uns copos e celebrar.»

“Horse Pills”, “Get Off” e “Godless”, também de “Thirteen Tales from Urban Bohemia”, o álbum mais representado em conjunto com “…The Dandy Warhols Come Down”, surgiram na reta final e demonstraram o porquê deste ser o álbum mais bem sucedido do grupo. Com uma sonoridade mais power pop este foi sem dúvida o álbum que levou os The Dandy Warhols até um público mais abrangente.

Para fechar o concerto a banda reservou “Pete International Airport / Boys Better”, uma faixa nunca gravada em estúdio que combina todos os elementos sonoros dos The Dandy Warhols e que culminou num solo de Zia McCabe no Korg MS-20, já depois dos restantes elementos se terem ausentado do palco. Claramente a que mais interagiu com o público, Zia acabaria o seu solo com um crowdsurf até ao bar do LAV como que a dar a deixa: «Agora vamos beber uns copos e celebrar.» Terminava assim uma noite memorável para todos os fãs do rock mais alternativo e abrasivo.