Quantcast
Graveyard, Blues Rock à Moda de Gotemburgo

Graveyard, Blues Rock à Moda de Gotemburgo

2023-05-28, Lisboa Ao Vivo
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
7
  • 6
  • 8
  • 7
  • 7

Perante um LAV semidespido, os Graveyard destilaram o seu hard/blues rock retro e serviram-nos um concerto assente em riffs acid rock, solos virtuosos e vocais bluesy.

Na geografia do heavy metal, Gotemburgo é uma das cidades mais importantes no que diz respeito ao desenvolvimento dos seus subgéneros. Foi nesta cidade que, em meados dos anos 90, surgiu o death metal melódico, um estilo que assenta numa fusão entre o death metal abrasivo de Estocolmo e o heavy metal tradicional da NWOBHM. Bandas como At The Gates, In Flames e Dark Tranquility foram as pioneiras do género e colocaram a cidade no mapa do heavy metal. Hoje em dia, quando se fala de death metal melódico ainda se utiliza a expressão “o som de Gotemburgo” para referenciar este subgénero e estas bandas. Contudo, a cultura musical da cidade não se faz só deste estilo, e se há uns tempos referenciámos o heavy metal circense dos Avatar, hoje enaltecemos o hard/blues rock setentista dos Graveyard.

Formados em 2006, os Graveyard têm vindo a construir a sua identidade sonora com base num som retro reminiscente dos anos 60 e 70. Géneros como o blues rock, o rock psicadélico e o proto metal fazem parte da lista de referências da banda e quando misturados formam essa moldura sonora distinta que caracteriza os Graveyard.

Para este concerto, os Graveyard trouxeram uma setlist em formato best of, isto porque, para além do seu último álbum “Peace” ter sido editado em 2018, também já tinha sido apresentado em Portugal no festival SonicBlast, em 2019. Desta forma, e sem novo álbum à vista o quarteto sueco teve assim mais liberdade para explorar o seu catálogo.

A abrir o concerto esteve a bluesy à la The Doors “Hard Times Lovin’” de “Lights Out” (2012), uma faixa que com o seu andamento lento demonstrou ser uma escolha interessante para dar início ao espetáculo. Já o acid rock mais gingado de “Hisingen Blues” revelou que o alinhamento iria apresentar uma alternância entre faixas mais lentas e com um certo carácter de balada e faixas mais power e frenéticas.

Com uma voz arranhada, bluesy e soulful Joakim Nilsson eleva-se nesta faixa e apresenta-se como um vocalista extremamente dotado, ao nível de um Warren Haynes e Jay Buchanan

Com um som bastante equilibrado desde o início, apenas sentimos falta de mais presença na voz de Joakim Nilsson, que ficou um pouco abafada pelo volume dos outros instrumentos. Contudo, este aspeto foi melhorando ao longo da atuação. “Uncomfortably Numb”, um trocadilho com a icónica faixa dos Pink Floyd, curiosamente apresenta uma sonoridade southern rock, bem ao estilo de uns Gov’t Mule e Lynyrd Skynyrd. Aliás, a secção final do solo é bastante reminiscente do clássico “Free Bird”, com a progressão de acordes a ser igual à da faixa dos Skynyrd. Com uma voz arranhada, bluesy e soulful Joakim Nilsson eleva-se nesta faixa e apresenta-se como um vocalista extremamente dotado, ao nível de um Warren Haynes e Jay Buchanan. Já em “Buying Truth (Tack & Förlåt)”, Nilsson demonstrou que não é apenas um exímio vocalista, mas também um guitarrista dotado, que domina a pentatónica. Munido da sua Gibson ES-330 e de um Marshall Bluesbreaker o músico partiu para um solo pleno de feeling e intenção.

Em “Bird of Paradise” foi a vez do baixista Truls Mörck bilhar nos vocais e de Jonatan Larocca-Ramm replicar o mítico “Woman Tone” de Eric Clapton com a sua Gibson SG Special de 1970 conectada a um Marshall Plexi. Aliás, este timbre foi uma constante no som de Jonatan ao longo de todo o concerto, e mais uma vez um aceno a uma sonoridade de guitarra que foi cunhada nos anos 60. Em “Slow Motion Countdown” o ritmo voltou a abrandar para mais uma balada bluesy que nos tocou bem nos sentimentos, ou não fosse Nilsson mestre nessa arte. Foram poucas as palavras proferidas ao longo do concerto, excetuando alguns “obrigados”, os Graveyard deixaram a música falar por si, com o público a corresponder com algum mosh e crowdsurf.

Para o fim ficaram o proto metal à la Blue Cheer de “Goliath” e a “stoner blues” “The Siren”, com Nilsson mais uma vez a agigantar-se nas suas valências enquanto vocalista e guitarrista virtuoso. Destaque ainda para o baterista Oskar Bergenheim que, apesar de discreto, apresentou-se de forma muito competente ao longo de todo o concerto.

No encore “Walk On” e “Ain´t Fit to Live Here” pareceram ser um só, pois a transição entre uma e outra foi impercetível, as faixas prolongaram-se depois numa jam solística que levou os presentes à loucura.

A ovação final à banda demonstrou que os Graveyard não precisam de grandes salas para prosperar, pois é nestes ambientes mais intimistas que as suas atuações resultam. O concerto no LAV foi mais uma prova dessa capacidade nata e, a julgar pelas seis passagens por Portugal, desde 2011, certamente que esta não terá sido a última passagem pelo nosso país.

Deixamos também uma nota para a banda de abertura, os portugueses The Quartet of Whoa! que, apesar dos problemas técnicos a nível de som, conseguiram apresentar uma atuação competente ao longo dos cerca de 50 minutos que lhes foram dados.

SETLIST

  • Hard Times Lovin’
    Randy
    Hisingen Blues
    Cold Love
    Uncomfortably Numb
    Buying Truth (Tack & Förlåt)
    Bird of Paradise
    Please Don’t
    It Ain’t Over Yet
    Slow Motion Countdown
    Hålet
    Goliath
    The Siren
    Walk On
    Ain’t Fit to Live Here