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Tim Hecker: destruir para construir

Tim Hecker: destruir para construir

2014-10-25, Musicbox
Timóteo Azevedo
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A noite de sábado do Jameson Urban Routes, no Musicbox ficou marcada pelo regresso de Tim Hecker à capital, contando ainda com as actuações de Moonface, Medeiros/Lucas, Voxels e Sonja.

Sala às escuras, bem preenchida, à espera que o canadiano Tim Hecker viesse entregar as suas ogivas. Palco empestado de novoeiro, e apenas um foco ténue sobre a figura de Hecker. De cada lado, dois amplificadores Fender para garantir presença no som. A introdução começa levemente a subir, «devia ter trazido uns tapões», comenta alguém ao meu lado. A parede de som começa-se a adensar, e o tecto alto do MusicBox torna-se pequeno para albergar com definição o bolo de frequências que brotam do PA. Do álbum “Virgins”, lançado no ano passado, é “Virginal I” que se segue num turbilhão de pianos. Aliás, grande parte do alinhamento é feita por músicas de “Virgins”.

É na busca por um som o menos sequencial possível, destruído, distorcido, que o caminho por entre camadas sonoras se vai fazendo.

Hecker escolhe apresentar os temas de forma contínua sem interrupções, indo mexendo nos knobs, cortando e aumentando umas frequências aqui e ali, mas respeitando aquilo que podemos ouvir em álbum. Nesse sentido, torna-se ainda mais evidente percebermos que, acima de tudo, Hecker é um studio artist. É na busca por um som o menos sequencial possível, destruído, distorcido, que o caminho por entre camadas sonoras se vai fazendo. Há toques da musique concrète com o uso de sons ditos não musicais, há pequenas amostras de pianos, sintetizadores, guitarras brutalmente processadas e editadas, há sons de ambiente distantes, há os elementos certos para tornarem tão distinguível a música de Hecker, mesmo dentro do género. Todas estas camadas só em concerto se mostram em pleno, no sentido físico da palavra. Os graves entram-nos pelo corpo, os agudos arrepiam-nos a pele, e a convulsão de sons fazem-nos sentir que estamos a pairar numa nuvem sonora. O concerto termina em auge audível, com Hecker a despedir-se do público em vénias. «Foi porrada, senhor. Foi porrada», dizem as caras que aplaudem.

Em total contraste, Moonface sobe ao palco de seguida e apenas um piano o espera em cena. «Bem, são 2:30, isto vai ser só isto. Um tipo sozinho a cantar ao piano», diz Spencer Krug depois da primeira música. Na verdade, a hora muda, e o atraso dá mais uma hora para a vida nocturna acontecer. «Se quiserem ir-se embora eu compreendo». Mas o público mantém-se. Sem eu próprio conhecer muito sobre o trabalho de Moonface, a curiosidade foi espicaçada. Não é todos os dias que vemos no Musicbox um homem a cantar sozinho ao piano. Spencer tem lançado música sob o nome Moonface desde de 2010. A última vez foi em Setembro com o EP “City Wrecker”, e foi centrado nesse álbum que o concerto aconteceu. Músicas pessoais, letras inesperadas, e uma estranha beleza nisso tudo.

moonsface

Horas antes, a abrir o início da noite tivemos Medeiros/Lucas. Pedro Lucas e Carlos Medeiros são os nomes, evidentemente, associados ao projecto, que pela primeira vez foi apresentado ao vivo em formato banda, com Ian Carlo na bateria, e Óscar Silva (Jibóia) na electrónica e baixo. Descobrimos o interessante que traz este projecto: há ali um encontro inesperado de linguagens díspares que resultam numa mescla onde se junta a tradição portuguesa com sonoridades do médio-oriente, havendo um sentido de renovação com abordagem electrónica/eléctrica. Para rever.

Fotos: Alípio Padilha