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Psychic TV, do estranhamento ao entranhamento

2014-09-13, Valada
Timóteo Azevedo
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Psychic TV no Reverence Valada: provavelmente a banda mais alienada do alinhamento.

A par com os Hawkwind eram a banda mais antiga no festival, mas também um dos cabeças de cartaz menos conhecidos. Com percurso iniciado com o fim dos Throbbing Gristle, os Psychic TV têm tido um som mutante, fruto também das diferentes formações que o colectivo foi tendo. Do industrial, do electrónico, do punk, do psicadélico e até da pop, as abordagens têm sido diferentes ao longo dos anos. Ultimamente é no psicadélico que a banda têm ancorado o seu som, incluindo versões de outras bandas do género. E foi dessa forma que, entre o peso de A Place To Bury Strangers e o sideral de Hawkwind, abriram o concerto no palco Reverence, com a “Interstellar Overdrive” dos Pink Floyd. “Boa música. Mas não me digam que vai ser um concerto só de covers”, pensamos nós, os eternos insatisfeitos. “Memories tell us one thing, everything must go”. Enfim, “Greyhounds of the Future”, esse tema-tese sobre anti-matéria, tempo e desrealidade, vem depois encher-nos as medidas numa versão estendida.

Genesis P-Orridge é das figuras mais transgressivas na música moderna, e até o género faz questão de questionar. “É um homem ou uma mulher?” Pergunta alguém ao meu lado. É Genesis Breyer P-Orridge, ou Genesis P-Orridge, para os amigos. Resumindo: é mentor/mago dum bando de esquizóides que lutam lirica e musicalmente pelo fim do mundo como os séculos construíram. Guitarras cobertas de efeitos, baixo repetitivo, teclas em camadas sonoras que forçam entrada no nosso espaço psíquico, e vozes. Vozes às vezes quase em formato spoken-word. Caldo conjugado com as projecções de vídeo, que são parte importante da actuação, tudo numa performance singular. P-Orridge e os Psychic TV tanto amores e ódios fizeram despertar ao longo dos anos. Também sobre o concerto no Reverence as opiniões não foram unânimes. Quanto a mim, aqui está uma memória que vale a pena conservar.