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Uivo Bastardo

Clepsydra

Ethereal Sound Works, 2019-05-13

EM LOOP
  • Eterno Retorno
  • Miasma
Nero

O álbum de estreia dos Uivo Bastardo transporta muitas promessas e reminiscências das pegadas gigantes de Dave Lombardo.

Os Uivo Bastardo surgiram em finais de 2017, altura que se dá a união de esforços entre Hélder RaposoAndré LouroDavid Jerónimo. Jerónimo assumiu também preponderância na produção do projecto, além da sua função como baterista, sem dúvida um dos melhores da nossa praça no espectro da música mais musculada. Isso está, aliás, bem latente neste primeiro disco da banda (em “Miasma” então, o baterista parte tudo).

Nos seus textos de apresentação lê-se: «As ideias e as estruturas embrionárias que existiam encontraram terreno fértil no trabalho de produção de David Jerónimo ajudando assim a forjar uma sonoridade intensa, orgânica e visceral. A porosidade estilística em que a mesma se alicerça situa o som de Uivo Bastardo nas franjas do largo espectro do rock pesado e do metal, com apontamentos de roupagem electrónica e industrial e sempre vociferado em português. Em termos líricos o imaginário inscreve-se num registo de pessimismo existencial. Desencanto e misantropia são as coordenadas poéticas que dão combustível ao que é expelido com urgência».

Desconstruindo este manifesto de intenções, os Uivo Bastardo não conseguem evitar alguma colagem a Bizarra Locomotiva, é a sensação mais imediata que surge com as primeiras audições. Mas com a renovação dos spins ao disco, vão surgindo elementos associativos, também por um tipo de execução instrumental mais desenvolto, aos poderosos Gojira e, recuando mais no tempo, especulando sobre o universo de referências do produtor, ao groove dos Grip Inc., de Dave Lombardo, e aos seus dois axiomáticos primeiros álbuns.

O nosso maior desacordo com o texto autodescritivo da banda prende-se com os o adjectivos orgânico e visceral. Porque o processamento sonoro das guitarras dá-lhes um revestimento demasiado artificial e pouco dinâmico. Nada contra, é uma questão de gosto e de estilo. Afinal, de certa forma, isso é um pressuposto exigido à estética industrial assumida pela banda. Todavia, aceite-se ou não a referência dos Gojira, a banda precisa de definir um plano atmosférico ao seu som como um todo. Dessa forma irá redimensioná-lo e dar-lhe um carácter mais vinculativo. Este álbum tem muitas promessas, mas mantém muita cosmética de um certo metal mais genérico.

“Clepsydra” foi produzido, gravado e misturado em 2018 na oficina de Jerónimo, os MalwareSoundStudios. Entretanto, a banda foi reformulada, com Hélder Raposo (voz), André Louro (teclados e programações), David Jerónimo (bateria), Paulo Bretão (baixo) e João Tiago (guitarra). Considerando os músicos e o natural crescimento promovido pelas dinâmicas de banda, ao invés do racionalismo puro de um projecto de estúdio, esperamos que a visceralidade seja uma realidade mais substancial no trabalho seguinte.