Vodafone Mexefest’17: Liars, Everything Everything, Childhood, Paulo Bragança, Luís Severo
2017-11-25, Lisboa, vários locaisO segundo dia de Mexefest teve iguais partes de talento nacional e internacional.
Num festival com as características do Vodafone Mexefest, a tendência de optar por actos internacionais é mais do que compreensível, é natural. Mas nesta busca pelo mais exclusivo, há talento nacional que, não raro, se perde por entre as frestas dos horários conflituantes e que, talvez com igual ou superior mérito, mostrou as suas valências neste segundo dia de festival.
Logo nos primeiros momentos assistiu-se, na Casa do Alentejo, à atuação das portuenses Sopa de Pedra, que com todo o valor trouxeram um pouco da música tradicional portuguesa a um festival que se quer, e com razão, contemporâneo. A variação destoou de forma positiva, ou não executasse o colectivo integralmente feminino as canções tradicionais e de cantautores portugueses com admirável harmonia e diligência. Em confronto direto, e num âmbito que puxaria pelo mesmo estado de espírito, estava, sozinho e ao piano na grande sala do Tivoli, Luís Severo, que encantava com rendições despidas dos seus temas de cantautor conhecidos por explorar, curiosamente, as mesmas vicissitudes com que se deparam muitos dos lisboetas que circulavam pela Avenida da Liberdade.
Mais tarde, mais um acto português com gostinho a internacional: o luso Paulo Bragança, que há anos não punha os pés no país para atuar, serviu-se de uma banda que contava com nomes como Carlos Maria Trindade para dar um espetáculo ímpar na Casa do Alentejo. Misturando sons mais tradicionais aos mais vanguardistas e guitarras portuguesas a samples e electrónicas, foi esplêndido na sua mostra de dramaturgia e musicalidade. Muito à revelia do que se passava, pouco depois, na Estação do Rossio, onde os britânicos Childhood se apoiavam num indie rock reconhecível, ainda que mais encorpado do que a maioria dos atos deste género (com teclados e mesmo saxofone) para uma performance tão enérgica quanto dançável.
Alguns dos últimos grupos de destaque enveredariam mesmo por essa vertente mais rock. Falamos (à excepção de Sevdaliza, que trouxe vasta multidão ao Cinema São Jorge) de dois dos mais procurados concertos da noite: Everything Everything, que ocuparam o slot principal do dia no Coliseu dos Recreios, e Liars, que sem o mesmo protagonismo gozam de algum estatuto de culto internacionalmente, e aproveitaram-se dele no palco da Estação do Rossio. Os primeiros, enveredando por uma corrente indie mais dançável (aquela que os popularizou em discos como Get to Heaven), proporcionaram uma agradável experiência na maior sala do festival, à medida que os segundos, de uma tradição pós-punk mais abrasiva e hostil, foram uma boa variação num evento que havia sido, até ali, comparativamente leve no leque musical oferecido.
A prova de que é, afinal, de diversidade e oportunidade que vive um festival como o Mexefest, que não fracassou em proporcionar, este ano, mais da sua índole de assinatura, como seria de esperar.
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