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Vodafone Mexefest’17: PAULi., Samuel Úria, Iguana Garcia, Cigarettes After Sex, Mahalia e Sevdaliza

Vodafone Mexefest’17: PAULi., Samuel Úria, Iguana Garcia, Cigarettes After Sex, Mahalia e Sevdaliza

2017-11-25, Vários locais, Lisboa
António Maurício
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A diversidade é um dos pontos fortes do Vodafone Mexefest, e muitos foram os talentos que se propagaram pela Avenida da Liberdade. Entre psicadelismodream pop, pop electrónico e simplesmente pop, as opções foram abundantes.

Sem a ajuda de ninguém, PAULi. apresentou-se na Sala Montepio, no Cinema São Jorge. O artista proveniente do Reino Unido executava o papel de DJ, ao lançar os instrumentais no seu portátil, e seguia focado em direção ao microfone. A voz de PAULi. não deixou dúvidas e confirmou que o seu trabalho vocal é o grande ponto forte dos seus projectos. Os instrumentais electrónicos caminharam sobre o calmo e o agitado durante todo o concerto. No entanto, são nos momentos com um tempo mais reduzido que a sua música mais se destaca. A voz do artista corta entre a calma electrónica com uma suavidade sublime, enquanto que nas batidas mais agitadas, o resultado final poderia ser melhor. A presença em palco é confiante e a actuação balança entre momentos interacção com o público, «Can I have a party on stage for myself? Is that ok?», e momentos de dança por si . O momento Instagram foi quando PAULI. fez questão de descer do palco e dançar com uma das fãs. Importa ainda salientar a presença de uma guitarra eléctrica (tocada pelo próprio) para complementar alguns dos temas, embora o seu acréscimo não tenha sido tão significativo de um ponto de vista harmónico ou técnico. A Sala Montepio foi a escolha acertada para receber PAULi., o concerto foi coerente, conciso, e o artista mostrou bem os dotes que desenvolveu até aqui.

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performance de Samuel Úria, na Sala Manoel de Oliveira (Cinema São Jorge), foi evidentemente bem preparada e pensada. Antes do músico entrar em cena, era possível observar uma decoração por todo o palco que incluía capas em tamanho ampliado e quando Samuel entrou, não chegou sozinho. A partir da segunda música, estavam exactamente 14 pessoas (a contar com Samuel) em conjunto. Uma mini-orquestra composta por duas guitarras, um baixo, uma bateria, um set de bombos, um teclado, um conjunto de coro e um sintetizador (que foi tocado com a presença inesperada de Tomara) que fez todo o sentido e trouxe vida e arranjos grandiosos. Úria sempre bem disposto, picava o público com as suas piadas e histórias e dançava com um movimento de pernas que poucas pessoas se atrevem a tentar. A entrada de Gisela João acalmou os ânimos, mas não retirou nem um pouco de atenção do palco. O dueto muito bem executado, com as vocais a encaixarem no tempo certo e com harmonia. No entanto, houve um problema de feedback durante a performance do par em que os agudos disparados pelas colunas entraram nos ouvidos do público com uma intensidade aterradora. “Carga de Ombro” foi talvez a música mais bem recebida pelo público e representou bem o talento que Samuel tem para oferecer ao vivo.

Também conhecido por João GarciaIguana Garcia apresentou-se na Sala Super Bock com o seu computador portátil, a sua guitarra, o seu sintetizador e pouco mais. O seu psicadelismo não tardou a entrar pela sala dentro, mas o público (talvez por ser cedo) teve uma postura plácida durante a performanceIguana dispara o essencial no seu portátil e com a ajuda dos instrumentos vai acrescentando e enriquecendo a música. A música começa, normalmente, em formato electrónico e vai sendo coberta por elementos psicadélicos e percussões ambientais. As vocais “perdem” ao vivo, não fazendo justiça aos trabalhos produzidos (para quem os ouviu). A actuação de Iguana Garcia é como ver um produtor a trabalhar e a desenvolver uma música no seu estúdio, no entanto, o resultado já é conhecido e pouco inferior em comparação com a versão de estúdio, com o acréscimo de fascínio de ver o trapezista sem rede.

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O segundo dia do Mexefest abriu o Coliseu dos Recreios com os Cigarettes After Sex, e (como não aconteceu no primeiro dia), à hora do concerto, 21h, o recinto já estava muito bem composto. A voz e as letras de Greg Gonzalez são o grande foco da banda e, consequentemente, do concerto, tendo em conta que a instrumentalização não transpira dificuldade. No entanto, a combinação de todas as peças resulta numa calma e melancolia que merece ser exibida ao vivo e o público não poupou aplausos no final de cada música. As primeiras notas de “K.” foram recebidas por uma ovação quase tão grande, senão maior, que o som vindo de palco e a actuação da banda não sucumbiu a qualquer pressão. Os quatro membros em palco não exibem grandes maneirismos, fazem o que têm a fazer de forma controlada e calma. Quando Greg fala com o público, as frases são curtas e incisivas, e a própria voz nem aparenta pertencer à mesma pessoa devido ao tom grave que contrasta com o agudo produzido em todas as faixas. “Nothing’s Gonna Hurt You Baby“, “Sunsetz“, entre outras, foram apresentadas com uma autenticidade tão grande, que pareciam estar a tocar directamente nossos headphones.

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A fila para ver Mahalia no cinema São Jorge estendia-se até ao final da rua, e dentro do próprio São Jorge, a fila para entrar na sala Montepio onde a artista estava programada estendia-se pelas escadas. Muita, muita gente para ver a britânica. Mahalia começa muitas das vezes por explicar o porquê de ter escrito as músicas que exibe e as suas entoações vocais não deixam margem a conversas paralelas quando inicia as canções. É daqueles casos em que a música ao vivo tem mais intensidade do que a versão de estúdio. Veio apoiada por um guitarrista que participa ocasionalmente no set e, quando necessário, a própria pega na guitarra e toca as suas próprias melodias. Existe ainda uma unidade de sintetização tocada por Mahalia que apesar da esparsa utilização (ou talvez precisamente por isso), quando entra, entra bem. O público rapidamente se deixou levar pelo talento e aclamando a actuação a meio das músicas, o que intensificou a experiência e roubou vários sorrisos. Quando chegou o momento de uma versão acapella, nem aqui as palmas se acalmaram, criando um ritmo sincronizado para a entrada das frases em rima. “Sober” ou “Hold On” justificam o porquê de tanto barulho para este estilo de R&B e “I Remember” ou mesmo o medley de “Cranes in the Sky/The Weekend“, de Solange Knowles e SZA respectivamente, consolidam o talento vocal puro e duro.

O sensualismo de Sevdaliza entrou em choque com a Sala Manuel de Oliveira no Cinema São Jorge. Sala completamente cheia para um espectáculo que combinou uma voz hipnotizante com movimentos de dança robóticos. A artista proveniente do Irão presentou o público com um estilo electrónico a cambalear no R&B e no trip-hop acompanhada por um sintetizador e uma bateria. Os instrumentais soaram com uma impenetrável parede de graves e até melodias contemplativas numa apresentação em que a artista não perdia o tom durante movimentos coreográficos artísticos e elaborados. Durante as primeiras quatro faixas contracenou com um bailarino que complementava as emoções da música de forma composta. As luzes também marcaram ritmo e aceleravam nos tempos mais rápidos, criando um ambiente cinematográfico e completo, como aconteceu em “That Other Girl“. O som da sala revelou-se suficiente e a voz de Sevdaliza deixou a plateia frontal em pé no final de faixas como “Amandine Insensible” ou “Human“.

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