Vodafone Paredes de Coura | Dia 1 | 25 anos de Etérea Juventude
2017-08-16, Paredes de Coura“Para Sempre”. É esta a frase que ilumina o pórtico do Festival Paredes de Coura e que serviu de mote para a celebração da sua 25ª edição.
Foto: © Hugo Lima | fb.me/hugolimaphotography | hugolima.com
Aquilo que começou como uma “brincadeira” entre amigos, tornou-se hoje um dos marcos principais da música alternativa em Portugal. Paredes de Coura é hoje em dia um verdadeiro santuário para melómanos e 25 anos é uma data realmente memorável.
«É o festival mais antigo com edições regulares», como referiu Adolfo Luxúria Canibal, e como tal merecia uma festa à altura. Essa festa foi feita ao longo de quatro longos dias de festival que, mais uma vez, primou por um cartaz bastante sólido com algumas surpresas.
Estamos a 16 de Agosto e os campistas mais ambiciosos já demonstram o cansaço resultante dos intensos dias de pré-festival na vila de Paredes de Coura. Alek Rein, Stone Dead ou Conjunto Corona abriram o apetite dos festivaleiros enquanto o recinto levava os últimos preparativos.
Chegados ao primeiro dia, via-se nos rostos dos campistas o entusiasmo pelo começo de mais uma edição do festival.
Os mergulhos no Taboão durante o dia deram lugar aos concertos no recinto durante o final da tarde e chegara finalmente a hora de arrancar com o Vodafone Paredes de Coura.
Neste primeiro dia, como já tem sido hábito, apenas ocorreram concertos no palco principal. A abrir tivemos direito a “Escola do Rock – Paredes de Coura”. Trata-se de um programa intensivo de formação, jam sessions e showcases para jovens músicos que culminou num espectáculo, bem ensaiado diga-se de passagem, no qual o conjunto passou por temas de algumas bandas (Tame Impala, Arcade Fire ou Pixies) que marcaram as edições anteriores.
Logo de seguida, os Wedding Present proporcionaram-nos uma verdadeira viagem ao passado. Depois de terem actuado em pleno campismo, num dos showcases surpresa proporcionados pela organização, os britânicos teletransportaram-nos de volta aos anos 80 ao som de “George Best”, álbum de estreia da banda. O indie pop revivalista apresentou-se como uma boa introdução para um dos espectáculos mais aguardados da primeira noite – Mão Morta.
Falar de Paredes de Coura sem falar de Mão Morta seria um erro crasso. Para além de serem a banda portuguesa com maior número de participações no festival, foi ali mesmo que apresentaram o seu disco mais aclamado “Mutantes S.21”. Assistimos portanto a um duplo aniversário em palco. Apesar de a ideia inicial ser tocar o álbum na íntegra, o conjunto de Luxúria Canibal protagonizou ainda alguns desvios dos quais em nada nos queixámos, nomeadamente “Até Cair” e “Velocidade Escaldante”.
Houve ainda tempo para cantar um “Parabéns a você” que, vindo da voz inconfundível de Adolfo acabou por ser um momento bem rock and roll.
Depois do verdadeiro interrail que é o álbum de Mão Morta terminámos em Lisboa, sem antes passar por outro tesourinho da banda. «Os nossos primórdios eram assim», anuncia Adolfo antes de cantar “Bófia” até cair direito ao chão anunciando o fim de mais um excelente espectáculo.
Depois de uma passagem rápida por um concerto morno de Beak>, projecto paralelo de Geoff Barrow (Portishead) que une o krautrock ao post-punk, chegava a altura de Future Islands, um dos nomes mais aguardados da noite.
Depois do lançamento de “The Far Field” estava lançado o pretexto para a banda Future Islands pisar o palco do festival minhoto. O concerto valeu por Samuel Herring, vocalista da banda, que levou a taça de pessoa mais energética em cima do palco nesse dia. Entre pulos, danças e um gesticular bem singular, Herring provou, mais uma vez, ser um frontman competente, capaz até de fazer a festa sozinho. O destaque vai para “Seasons (Waiting on You)”, um dos temas mais conhecidos da banda.
Para a História ficará o concerto que se seguiu. Kate Tempest apresentou-se em palco como um vulcão em constante erupção provando que as palavras são tudo o que é preciso para abalar um festival inteiro.
Acompanhada por três músicos, Tempest apresentou sem pausa para fôlego o seu novíssimo álbum “Let Them Eat Chaos”. Da política, à sociedade, passando pela tecnologia ou pela concepção de Deus, as suas palavras impiedosas procuraram acordar o público que, apesar de ali estar para se divertir, entende igualmente a cantiga como uma arma poderosa para denúncia do mal que se passa no mundo. E Kate sabe bem tudo o que de mal se está a passar e não tem medo de o dizer em palco à frente de milhares de pessoas. Numa verdadeira performance arte, Kate Tempest foi a narradora por excelência de um dos concertos mais poderosos que passou por Coura.