Rhye: Música quente e fria
2017-07-06, NOS Alive, Passeio Marítimo de AlgésMichael Milosh, a cara e a voz por detrás do colectivo Rhye, regressou ao Heineken e mais uma vez realizou o milagre de conseguir encher a volumetria daquele espaço com um som que foge completamente às batidas dançáveis ou às guitarras a rasgar que mais habitualmente povoam o recinto.
As melodias etéreas de Rhye, que conseguem ser simultaneamente melancólicas e sexy, parecem à partida pouco adequadas aquele espaço, pedindo antes uma sala pequena e aconchegante. No entanto, a força das canções e a mestria de uma banda que não deixa notas desarrumadas, faz com que o som se espalhe pelo recinto como uma lufada de ar quente. Ou talvez seja ao contrário, e sejamos nós, o público, que somos transportados para a intimidade do som, como que se estivéssemos a partilhar o palco com os músicos. Descontraído, sentimental sem ser piegas, bem-humorado, dono de um timbre assombroso Milosh é quem Sam Smith queria ser quando fosse grande.
Descontraído, sentimental sem ser piegas, bem-humorado, dono de um timbre assombroso Milosh é quem Sam Smith queria ser quando fosse grande.
Os Rhye trazem na carteira duas novas canções (partilhadas no dia a seguir) “Please” e “Summer Days”. A primeira é uma melodia soul de um crescendo subtil, a segunda tem uma toada mais dançante, música ideal para fins de tarde de Verão. Os novos singles fizeram a transição para “Open”, que não perde nada das suas texturas subtis ao vivo, e a conclusão com o brilhante “Hunger”, uma daquelas fusões impossíveis de coolness e dança, quente e fria ao mesmo tempo. Pelo meio existem pérolas como “Shed Some Blood”, que encontra os Rhye no seu mais Sade(iano), o que nunca é uma coisa má, ou o dançável “3 Days” que resulta bem melhor ao vivo. Uma banda que com subtileza suave e bem pensada consegue dominar assim o Heineken (coisa que muita guitarra e amplificador não conseguiu) já merecia concerto em nome próprio numa sala condigna. Esperamos pelo segundo álbum.