Phil Collins & Led Zeppelin, O Fiasco do Live Aid 1985
A desastrosa actuação dos Led Zeppelin no Live Aid, em 1985, na sua primeira reunião após a morte de John Bonham, é um dos concertos mais infames da história do rock. Phil Collins, na sua autobiografia, lava daí as mãos e ataca Jimmy Page e Robert Plant.
Em 2016, Phil Collins publicou a sua autobiografia “Not Dead Yet”. No livro, o baterista dedica algum tempo a uma memória pouco agradável. Considerado um dos grandes bateristas da pop e do rock, o músico está associado a um concerto infame: a actuação desastrosa dos Led Zeppelin no Live Aid em 1985.
Os Led Zeppelin separaram-se logo após a morte do seu lendário baterista John Bonham. E se hoje se sabe que isso foi o melhor passo a tomar, terá muito que ver com o facto de que, nas poucas excepções em que a banda se reuniu em palco, nunca ninguém terá conseguido calçar verdadeiramente os sapatos de Bonham.
Mas em 1985, a ideia da banda em ressurgir com Phil Collins na bateria não parecia totalmente despropositada, afinal Collins era um baterista com uma técnica inatacável, com um tremendo legado nos Genesis e com colaborações ao lado de alguns dos maiores músicos pop rock. E ainda Tony Thomson, um monstro na bateria, com um percurso ao lado de gigantes como Bowie, Elton John ou os Chic. Tudo parecia certo no papel.
Todavia, o concerto no Live Aid foi horrível. E, ao longo dos anos, Collins foi muitas vezes apontado como um dos maiores culpados. Na sua autobiografia, o músico defende-se, refere a situação caricata e algo misteriosa a envolver Tony Thomson e ataca Jimmy Page e Robert Plant. Eis um excerto:
«Desde o início do set que soube que as coisas iam correr mal. Onde estou sentado, não consigo ouvir perfeitamente o Robert, mas consigo ouvir o suficiente para perceber que ele está longe da sua melhor forma. O Jimmy igual. Não me recordo de tocar “Rock And Roll”, mas obviamente que o fiz. Mas recordo-me de uma enorme quantidade de tempo em que posso ouvir o que o Robert diz ser “tricot”: bateria extravagante. E se encontrarem as filmagens (do lado dos Zeppelin deram o seu melhor para apagar isso da história), podem ver-me a fazer mímica, a tocar no ar, a manter-me afastado para evitar uma catástrofe. Se soubesse que a ideia era uma banda com dois bateristas, teria saído do projecto muito antes de sequer me aproximar de Filadélfia.
Em palco, não tiro os olhos de Tony Thompson. Estou vidrado nele. Tenho que o seguir – ele opta por liderar à força e ignorou todos os meus conselhos. Pondo-me no seu lugar, provavelmente ele pensou: ‘Isto é um início de uma nova carreira. Já cá não está o John Bonham. Eles vão querer outra pessoa. Isto pode ser o início de uma reunião dos Led Zeppelin. E não preciso deste inglês de merda a meter-se no meu caminho’. Não o estou a julgar, Deus dê descanso à sua alma. O Thomson era um baterista fantástico. Mas foi muito desconfortável e se pudesse ter abandonado o palco, teria ido embora a meio da “Stairway”… Ou antes. Mas imaginem o falatório que daria? Abandonar o palco durante a Segunda Vinda? Quem raio pensa o Collins que é? O Geldof teria algo com que se passar de facto.
Após aquilo que parece uma eternidade, terminamos. E penso: ‘Meu Deus, aquilo foi horrível. Quanto mais depressa terminar tudo, melhor’. Há um momento de horror. No backstage, Alan Hunter, VJ da MTV, está à espera para entrevistar os Led Zeppelin. Ainda a pingar suor, com um sabor amargo a persistir na minha boca, juntamo-nos no exterior da caravana da desgraça. Dentro do estúdio móvel, introduzem a entrevista com as seguintes palavras: ‘Num dia de muitas reuniões, talvez a mais antecipada seja a dos Led Zeppelin. Aqui e agora, entrevistamos os membros reunidos…’ O Hunter inicia as suas perguntas e torna-se rapidamente óbvio que ninguém o está a levar a sério. O Robert e o Jimmy fazem-se difíceis, respondendo de forma vaga e pretensiosa a perguntas simples; o John Paul Jones está ainda mais silencioso que um rato de sacristia. Sinto pena do Hunter. Ele está numa emissão em directo, uma audiência mundial está a segui-lo com a respiração em suspenso e estes gajos estão a fazê-lo parecer um idiota.
Para fechar a porta do cavalo, após este ter escapado, os Led Zeppelin não permitiram que a actuação fosse incluída no DVD oficial do Live Aid. Porque, naturalmente, os envergonhava. E descubro que sou recorrentemente apontado como o culpado disso. Não há a possibilidade de ser culpa dos sacrossantos Led Zeppelin. Foi esse velhadas que viajou para cá no Concorde que não ensaiou. Ele foi o culpado. Esse show-off».