Com um cartaz mais curto a preocupação passou da hora de início para a hora de fim. No segundo dia do Vodafone Paredes de Coura, Idles, BADBADNOTGOOD e Beach House a brilharem no palco Vodafone.
Os barcelenses Gator, The Aligator tiveram a honra de abrir o dia 17 no palco Vodafone FM. Mas é dos Porridge Radio o primeiro destaque, a banda britânica tem estado em alta desde o lançamento do último álbum “Waterslide, Diving Board, Ladder to the Sky” em Maio de 2022. Um disco que continuou o relançamento da banda e procedeu “Every Bad” em 2020. A banda de Brighton já edita desde 2015, ano da sua formação, mas foi com estes dois últimos discos que alcançaram um maior sucesso comercial.
A capa do álbum deste ano inclui o escorrega aquático, a prancha de mergulho e a escada para o céu do próprio título e, no palco Vodafone FM, esse mesmo título fez-se fundo animado. A referida escada para o céu movimentava-se num loop infinito. Ao longo do concerto a “imagem” ia ficando cada vez mais embebida em efeitos até “End of Last Year”, na terceira faixa do alinhamento ainda não era bem percetível e assim se manteve até “U Can Be Happy If U Want To”. No final desta voltou à fase inicial e assim se manteve até ao final com a escada para o céu infinitamente contínua. O melhor é sem dúvida a viagem.
Na sequência, “Eugh” continuou o crescendo que se foi sentindo ao longo do concerto com o público cada vez mais solto. A faixa que se seguiu, “Birthday Party” recolheu o máximo do público até este ponto.
A certa altura, «houve um erro de comunicação» diz Dana Margolin para o baterista Sam Yardley, contudo a confusão não se ficou pelos dois e a equipa de palco. Maddie Ryall, baixista, também não descodificou a situação e ficou sem perceber qual seria a música extra, algo que um pequeno ajuste nos pedais não resolvesse rapidamente e escassos segundos bastaram para que se regressasse à sincronia entre todos. A questão seria sobre quanto tempo ainda teriam para atuar, até porque depois de uma bem recebida “Long”, nem Dana nem os fãs queriam que o concerto ficasse por ali.
Margolin anuncia que afinal ainda iriam tocar mais dois temas: “Sweet” e “Back to The Radio”, as escolhidas para o fecho de um concerto que só pecou por curto, não fosse o calor sentido pelo público no final tão confortável quanto honesto. Porridge Radio fez o complicado, conquistar o público. Alterando a disposição dos presentes, sendo recompensados no final com altas e calorosas palmas.
Viajando para o palco principal, os BADBADNOTGOOD, não precisaram de muito tempo para encantar o público, através da mescla do espírito de improvisação do jazz, as influências do rap e do hip hop e um assumido gosto inspiracional por vários e diversos géneros musicais por este mundo fora como MPB, Bossa nova, Art Pop e Indietronica, para mencionar alguns.
Os Norte-americanos têm no arsenal grandes armas, consolidadas ao longo da já substancial carreira. Uma dessas armas foram os fantásticos visuais, ainda é cedo mas certamente farão parte do top3 do festival senão forem os melhores mesmo. Pelas mãos, ou melhor, pelo projetor a cargo de Sylvain Chaussée, sequências de películas de 16 mm eram sobrepostas e manipuladas de diversas maneiras criando um festival de cores, imagens e cenas.
Depois de em 2017 terem passado pelo Paredes de Coura e de em 2018 no EDP Cooljazz os canadianos regressaram fortes a Portugal com mais projetos editados na bagagem. Contudo foi “Lavender” do disco IV de 2016 que mais recebeu do público. Tomando a direção do baterista, Alexander Sowinski, a multidão bateu palmas e baixou-se até ao auge da música que conta com a participação de Kaytranada, explodindo com euforia num momento partilhado no Instagram da banda.
A cada intervalo entre músicas eram solicitadas palmas para um membro da banda sendo que, no final houve espaço para um homenagem ao falecido MF Doom. O icónico rapper e beatmaker, colaborou mais do que uma vez com o grupo. Em “Guv’nor”, sob a persona JJ Doom, um dos pseudónimos de MF e em “Ray Gun” faixa que também incluiu Ghostface Killah e faz parte do álbum colaborativo entre o membro dos Wu-Tang e os canadianos. A relação do grupo com MF Doom, e em última análise com o rap e hip-hop, vem da conceção da própria banda fosse o segundo single de sempre divulgado pelos canadianos, chamar-se “DOOM” e incluir três faixas do próprio re-arranjadas. Aliás, nem perguntem porque é que BADBADNOTGOOD se escreve em maiúsculas.
Adiante. O palco principal, ia agora receber IDLES e tal mudança brusca de atitude requereu jogo mental. Contudo, não se revelou problema.
Prego a fundo desde o primeiro acorde, os britânicos vieram dar o espetáculo pelo qual são conhecidos. Desde a presença em 2018 já lá vão dois discos e dois álbuns ao vivo. Quatro anos depois, Jon apresenta-se com um literal “olá” e um “obrigado”, mas retoma o inglês para pedir uma divisão da esquerda para a direita. O público parece não ter percebido à primeira, não acatando o pedido de Talbot.
Porém, o que se seguiu foi o mais feroz mosh até agora no festival, com o guitarrista Lee Kiernan a mergulhar para o público. Mais tarde foi a vez do outro guitarrista, Mark Bowen, também se juntar à audiência, descendo o palco e subindo aos braços dos fãs que o elevaram para cantar uma pequena parte do hit “Danny Nedelko”
Um concerto que transbordou energia pelo menos para 2 terços da audiência, com o restante terço a considerar as escolhas da sua própria juventude. Em palco Jon e os restantes contorciam-se, abanavam o rabo e moviam-se agitadamente trocando guitarras durante canções não quebrando, nem por segundos o ritmo elevado.
Como no Coliseu de Lisboa, Mark, estava em palco de vestido, numa declarada provocação às normas de género, característica reconhecida da banda. Também de indumentária notável, o baterista, Jon Beavis, tinha uma camisola de alças improvisada de uma T-shirt inspirada no design de drageias populares no Reino Unido onde se podia ler “Can We Still Be Friends”.
Os Beach House, que também apresentaram visuais fortes apesar da sobriedade dos mesmos. Sucesso na simplicidade, algo também aplicável na música da banda até certo ponto.
O duo de Baltimore fez-se trio com o baterista, James Barone. Com “Once Twice Melody” a abrir para fazer da noite fria cama, o concerto foi o mais próximo a um cobertor quente e confortável. O relvado em frente ao palco Vodafone sofá e o palco televisão, os fãs sentiam-se em casa com Alex Scally e Victoria Legrand a actuarem nas suas salas de estar. O ponto alto foi “Space Song” guardada para o final mas destaque também para “PPP” e “Silver Soul”.
Para quem esteve em Idles, os Beach House foram a banda sonora ideal para o descanso, até porque o bailarico iria continuam com Viagra Boys. Completa a troca dos públicos, era só uma questão de tempo até o caos voltar a Paredes de Coura.
A banda, que tem de escrever Viagra com asteriscos para os seus mails não caírem em caixas de spam, foi energética e pragmática na aparição. O público? Também.
Mosh logo no início, braços e punhos no ar e até flexões. Em “Sports”, o tema que recebeu do público a maior ovação, vimos Sebastian Murphy a acabar deitado depois de umas belas flexões durante a performance.
A banda formada em 2015, editou dois álbuns completos, neste e no último ano, configurando maior parte do alinhamento apresentado. Habituados a territórios lusos, depois de em 2019 atuarem duas vezes em Portugal. Uma no NOS Primavera Sound no Porto e outra no Super Bock em Stock na capital.
Vale o reavivar de memória porque, no concerto do Porto, as primeiras palavras desferidas por Sebastian foram «Boa tarde, Barcelona». O vocalista assume uma postura irreverente, até a dormir. No Vodafone Paredes de Coura confessou que, num sonho, pensava ser um crustáceo a nadar pelo Oceano Atlântico sem propósito, até perceber que não se sente muito diferente. Findo o interlúdio retoma a desbunda ao palco secundário. Um concerto sólido, onde o número de elementos só contribui para uma excelente presença de palco com a singularidade de cada a normalizar a de Sebastian.
Houve tempo ainda para Murphy volta a fazer das suas agradecendo ao público do… «Porto».