Band Of Skulls, Old Skull
O álbum de estreia deste power trio britânico revelava ideias cheias de força e vitalidade, temas directos e, há dez anos atrás, a renascença de um sentido old school. Predicados para uma conversa com a baixista Emma Richardson.
Há sempre um certo risco para uma banda que esteja em início de carreira – a paixão pela mitologia em torno das referências que se tomam, afinal quem não quereria ser um Deus do Rock? Mas o álbum de estreia dos Band Of Skulls não é algo de wannabes. Tem um certo fogo, uma autenticidade visceral. “Baby Darling Doll Face Honey” é um manifesto poderoso, com inovação, tradição, passado e futuro. Uma estreia que assentava nas raízes que percorrem imensos músicos devotos às litanias de Led Zeppelin ou Rolling Stones, mas que não deixava de ser uma afirmação pertinente de que o estilo estava (e está) vivo, dentro duma linha que vem sendo trilhada por outros nomes, com Jack White à cabeça.
O primeiro álbum da banda celebra o seu décimo aniversário. Numa altura em que o MySpace fazia as vezes do Spotify e outros serviçoes de streaming actuais, falámos com a baixista Emma Richardson sobre o disco, sobre a sua paixão pela pintura e sobre a paixão que o velho rock ‘n’ roll continua a suscitar. «Se pretendes ser algo que não és, as pessoas desvendam isso. As audiências, as pessoas que ouvem música, não são estúpidas. Nós gostamos de sair e beber uns copos [risos] e fazemos o som que fazemos, haverá bandas que procuram acreditar e viver dentro dessa crença, dum certo misticismo rock ‘n’ roll, não sei… Sei que nós somos autênticos, procuramos ser autênticos, acreditamos naquilo que fazemos e adoramos a música que fazemos, portanto temos a esperança de que as pessoas sintam essa autenticidade».
Os Band Of Skulls tiveram um início vertiginoso. Juntaram-se e, quase imediatamente, gravaram o álbum. A banda já tinha muito bem definido o som e a estética que queria?
Já tocáramos juntos numa banda chamada Fleeing New York, na qual estava sempre a entrar e a sair gente. Não estávamos, de facto, a tocar música já há algum tempo. Formámos este novo projecto, com uma nova direcção de trabalho, e escrevemos um novo conjunto de canções. Soava como uma banda nova e assumimos o novo nome. Conhecermo-nos ajudou e esta nova sonoridade é sentida como a direcção certa.
O próprio álbum foi feito em algo como dois ou três meses. Já tinham uma ideia concreta de que produtor usar, o estúdio onde fazê-lo?
No nosso home studio, em Southampton, completámos praticamente os temas. Quando fomos para estúdio, foi mesmo ir apenas gravar e conseguir o som que idealizámos, pois as coisas estavam já finalizadas. Isso poupou imenso tempo. Trabalhar com o Ian Davenport foi muito bom, porque ele é muito relaxado e o processo foi muito rápido, permitiu-nos evitar uma saturação de trabalho.
Até aí, a vossa única experiência em estúdio havia sido enquanto Fleeing New York?
Havíamos gravado um trabalho que lançámos nós próprios, nessa altura, no nosso estúdio. A nossa primeira experiência num estúdio profissional foi agora mas, como disse, já tínhamos a ideia de como deveria soar, foi apenas uma questão de encontrar o local e as pessoas certas e todas as coisas encaixaram no devido lugar. Tivemos sorte.
Corrige-me se estiver errado, mas os Radiohead trabalharam nesses estúdios [Courtyard Studios]. Houve alguma excitação extra derivada desse facto?
Sim, gravaram ali o primeiro e o segundo álbum, creio. Há certamente uma atmosfera ali… Mas não é como se lá sentíssemos os fantasmas dos Radiohead [risos]. Penso que em qualquer bom estúdio há um certo tipo de vibração, de todos os músicos que por ali passaram a gravar, a fazer música e história. Foi um excelente sítio para gravar.
Estranhamente, e sendo simplista, depois dos Led Zeppelin o blues foi sendo colocado de lado na estética do rock mainstream. Com a afirmação de gente como White Stripes ou Black Keys, houve uma renascença. Vocês estarão também dentro dessa intenção de ressurgimento?
Sempre tocámos e adoramos este tipo de música, não o estamos a fazer agora para fazer parte de qualquer cena ou porque é popular de novo. Quando tocamos é aquilo que sai. É muito bom estarem a surgir bandas com este tipo de discos. Este estilo, desde que os White Stripes o “trouxeram” de volta, começou a ficar novamente muito popular, mas sabes, está sempre a mudar a cena, por vezes a pop está mais em cima e outras vezes o rock recupera a popularidade. É um pouco cíclico e imprevisível – há muitas bandas a fazer todos os tipos de música, não sei se é tanto uma exigência do público, mas aquilo em que as editoras ou as rádios apostam no momento. Nós continuaremos a tocar este tipo de som, seja popular ou não.
Por outro lado há ainda o novo veículo para as bandas se mostrarem, a internet, mas a quantidade de coisas que surgem não podem acabar por provocar um contacto superficial entre o ouvinte e a música?
Acho importantíssimo que uma banda tenha uma boa presença online actualmente. Antes era tudo envolvido por um grande mistério: os Led Zeppelin ou os Rolling Stones não tinham algo como o MySpace, a forma de seguir a banda era comprar o disco ou ir a um concerto, fazer parte dum “fan mail”, tudo por cartas… Hoje é um pouco estranho, remove-se um pouco o mistério, mas não se pode perder o momento. Se as pessoas não sabem nada sobre ti, acabam por perder o interesse naquilo que fazes. Acho que é algo bom, ter a música exposta assim, quanto mais pessoas ouvirem a tua música melhor, mas não sei se será benéfico ter que dizer tudo às pessoas a todo o momento. Contudo, é bom estar mais próximo dos fãs.
Há uma certa intuição, quando surge uma ideia, de que aquilo faz sentido e é o que deve ser seguido. É algo que não consigo explicar, apenas sei.
O artwork do álbum e o que envolve a banda, no geral, é baseado em pinturas tuas. De que forma é que essas duas formas de arte, uma vez que também compões, comunicam?
Penso que pintar e fazer música são processos algo similares, pelo menos para mim. Porque, para começar, há uma tela em branco e então tens algumas ideias, um esboço sobre a composição. Então recuas e tentas descobrir aquilo que é suposto acontecer a seguir, para completar o que fizeste. É muito parecido com fazer música em que temos uma ideia à qual procuramos acrescentar elementos e, uns dias mais tarde, depois de ouvir o que temos, procuramos definir isso. E depois há uma certa intuição, quando surge uma ideia, de que aquilo faz sentido e é o que deve ser seguido. É algo que não consigo explicar, apenas sei.
E qual pensas ser, de ambos, o veículo mais poderoso de comunicação, mais susceptível de emocionar quem contempla?
Acho que a música, definitivamente. Se uma canção te toca e te apaixona, terá um maior impacto emocional que uma pintura. Bom, mas também há pessoas que através da observação dum quadro ficarão tristes ou imensamente felizes. Ou seja, também emociona, mas duma forma diferente. Penso que a música é mais envolvente e perpassa a audiência duma forma que a pintura não consegue.
Entrevista integral publicada originalmente na AS#15.