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Beat Bugs: “Até agora, ninguém esteve dentro do submarino amarelo.”

Beat Bugs: “Até agora, ninguém esteve dentro do submarino amarelo.”

Pedro Miranda

A dias da estreia da nova série da Netflix, entrevistámos Josh Wakely, criador do programa infantil que deu vida ao imaginário dos Beatles.

O produtor australiano Josh Wakely viu-se levantado do anonimato no espaço de poucos meses. Depois de uma série de trabalhos independentes no cinema e no teatro, assegurou na íntegra os direitos criativos dos Beatles e adaptou-os à programação infantil, num contexto em que as composições de Lennon e McCartney são pano de fundo para as aventuras de cinco amigos num mundo mágico. No processo, conta com a ajuda de um vasto rol de artistas de renome, que colaboram com a série gravando versões das canções intemporais do quarteto.

No decorrer da série podes ouvir as versões de Eddie Vedder, P!nk, James Bay, Sia, The Shins, Of Monsters and Men, Chris Cornell, Regina Spektor, James Corden, Rod Stewart, Jennifer Hudson, Aloe Blacc, Robbie Williams, Frances, The Lumineers e Tori Kelly. A Republic Records vai editar a banda sonora oficial para a primeira temporada de Beat Bugs exclusivamente com a Apple Music.

“Beat Bugs” já estreou na Netflix em Portugal, e aproveitámos para conversar com o seu criador sobre as suas inspirações, o processo de composição da série e o seu papel na perpetuação da memória de uma das maiores bandas da história da música. A segunda temporada da séries já está assegurada e chega ao serviço de streaming a 18 de novembro.

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Como surgiu a ideia para “Beat Bugs”? Foi algo que começou pela série infantil, pela música dos Beatles ou por ambos?
Eu costumava ouvir e ler as letras das canções, e adorava tantas deles, de “Yellow Submarine” a “Getting Better”, de “Ticket to Ride” a “Help”. E pensei que ficariam perfeitas quando combinadas com alguma animação e escrita de qualidade. Mais à frente, apercebi-me que canções como “All You Need is Love” e “All Together Now” continham grandes mensagens de amor. A maior parte delas, à excepção de “Sgt. Pepper”, continha grandes mensagens, e pensei que trazer estas canções a uma audiência familiar seria uma ótima ideia. Demorei muito tempo a conseguir os direitos da música e quase 3 anos a desenvolver a série, mas valeu a pena.

A música dos Beatles tem algo de atractivo em relação ao conteúdo infantil que facilita a união dos dois?
Desde logo, eles têm histórias incríveis, que fazem-nos imaginar como é navegar num submarino amarelo ou desbravar um campo de morangos eternamente… são boas histórias, e as crianças são cativadas por boas histórias, mas também por boas melodias: eu tenho um filho pequeno, de 8 anos, e ele adora música, como a maior parte das crianças da idade dele. Finalmente, eles tinham grandes mensagens. A canção de abertura do programa é “All You Need is Love”, e é uma grande mensagem para se partilhar com as crianças e suas famílias. Porque as mensagens são tão positivas e envolventes, as suas histórias tão atraentes e as suas melodias cativantes, achei que seria uma combinação vencedora.

Demorei muito tempo a conseguir os direitos da música e quase 3 anos a desenvolver a série, mas valeu a pena.

O que separa “Beat Bugs” de outros programas ou filmes inspirados nos Beatles?
Bem, os Beatles protegem muito os seus direitos. A totalidade dos direitos das canções nunca havia sido dada, e foi concedida aqui, e penso que isso deveu-se às diferentes personagens e histórias, e ao facto da série se passar num mundo mágico. Acho que foi por isso que acabaram por me conceder os direitos, porque permitir-me-iam ir a lugares a que as pessoas nunca foram. Até agora, ninguém esteve dentro do submarino amarelo, ninguém esteve no campo de morangos que nunca acaba, ninguém explorou ao seu máximo potencial a imaginação mágica de Lennon e McCartney. E foi isso que tentei fazer aqui, de uma forma que espero que seja fresca e inovadora e que permita que o seu legado se perpetue por décadas.

Teve a oportunidade de conhecer algum dos Beatles em pessoa?
Não, ainda não. Nunca imaginei conhecer ninguém melhor que a Sia ou a P!nk, mas a minha vida está num “Magical Mystery Tour” neste momento, portanto espero que no futuro tenha essa oportunidade.

É evidente, ao assistir a série, que cada uma das personagens principais tem as suas próprias características. Alguma delas foi inspirada em algum dos Beatles?
Não, de todo, e acho que esse foi um dos motivos pelos quais foram-me concedidos os direitos. Estava muito menos interessado em recriar algo em torno das personalidades dos Beatles, e muito mais interessado nas histórias e nos mundos que eles criavam. O Crick, por exemplo, adora criar coisas, o Walter é exuberante e teatral, a Kumi é a líder e muito próxima do amigo Jay, que pode ser um pouco pernicioso mas apoia-se nos seus amigos, e depois há o Buzz, que é muito como o meu filho. Foram todos pensados para apelar às diferentes personalidades das crianças, para que elas se possam rever nestas personagens.

“Beat Bugs” contém versões feitas por artistas como Eddie Vedder, Of Monsters and Men ou Regina Spektor. Os artistas tiveram de adaptar-se aos critérios pedidos pelo programa?
A produção musical foi criada dentro do próprio programa, eu e um colega estivemos encarregues do processo e reunimo-nos com os artistas para dialogar. Eu precisava de gentileza e força para “Blackbird”, por exemplo, ou de carisma e uma grande voz para “Sgt. Pepper”, mas também precisava da natureza etérea e extraordinária de Of Monsters and Men para “Eleanor Rigby”, ou da paixão e do propósito de Eddie Vedder para “Magical Mystery Tour”. Ou seja, abordei-os esperando que trouxessem as suas qualidades particulares a cada canção. E foram todos muito generosos, tornaram-se tão investidos quanto eu em recriar estas músicas para uma nova geração, para que outros possam conhecer as excelentes histórias das canções dos Beatles.

Há algum artista em particular com quem quer trabalhar no futuro nestas versões dos Beatles?
Sim, à medida que vamos avançando. Tenho uma lista extraordinária de todos os meus artistas favoritos para estas duas primeiras temporadas, mas ainda gostaria de trabalhar com Taylor Swift, Bruce Springsteen ou Dave Grohl… Há sempre mais histórias para contar e mais artistas dispostos a envolver-se, mas eu diria que estamos orgulhosos do alinhamento que temos no momento.

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Acha que programas como “Beat Bugs” são um meio eficaz de estender o legado dos Beatles às novas gerações?
Eu espero sinceramente que sim, dar continuidade ao seu legado é muito importante. Acho que, daqui a cem anos, estaremos a falar sobre o seu trabalho da mesma forma que falamos de Shakespeare agora, e essa foi uma parte muito importante da minha paixão em perseguir este projecto durante tanto tempo. É um prazer poder fazer isto, criar algo que perdurará em si e que continuará a promover a educação musical das crianças através das excelentes canções e histórias dos Beatles.

Foto de entrada: Grace: A Storytelling Company