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Ben Barter, Os Royal Beats de Lorde

Ben Barter, Os Royal Beats de Lorde

Nero
Ray Suen

O baterista que acompanha Lorde em digressão, numa entrevista sobre as suas origens e influências musicais, o seu estilo e o seu kit híbrido, onde mistura bateria acústica com batidas electrónicas.

Em entrevista para a edição Nº60 da Arte SonoraBen Barter, o baterista de Lorde, conta que teve a sua primeira bateria aos cinco anos de idade e que é extremamente grato aos pais por lhe permitirem manter a bateria e tocá-la em casa todos os dias. «Cresci num grande e antigo bungalow de madeira, sem qualquer possibilidade de proteger a audição dos meus pais e irmã (e, já agora, toda a vizinhança do bairro) quando treinava. Não era o baterista mais refinado nessa altura, tal como a maioria dos baterista. Pensem em fills atabalhoados de John Bonham e um robot cheio de ferrugem nas engrenagens a tocar por cima de “Kind Of Blue”, do Miles Davis».

Nascido no seio de uma família musical, começou a dar os seus primeiros concertos com os próprios pais, usando o jazz como linguagem principal. Daí às primeiras bandas punk rock passou a adolescência. Na conversa com a Arte Sonora, partimos do seu momento musical actual e explica-nos que para desenvolver o seu estilo sempre esteve muito atento a imensa música pop electrónica e o quanto esta, tantas e tantas vezes, acaba por perder a sua essência ao vivo. O que o tornou determinado em procurar reproduzir o realismo das produções originais: «Quando se produz um álbum electrónico fantástico tens o desejo de o converter da melhor forma possível em concerto. É recorrente que trabalhos electrónicos se “percam” ao vivo. Tento tornar tudo o mais real possível, uso vários elementos extraídos directamente do álbum e tento usá-los ao vivo. Basicamente, tento ser o mais fiel possível à produção original, porque as pessoas apaixonaram-se pelo álbum. Quando ouvem ao vivo, podem ter uma experiência ligeiramente diferente, mas está lá a produção do álbum com a qual se apaixonaram». Esse factor, quiçá, foi determinante em conseguir tornar-se o baterista desse fenómeno que é Ella Marija Lani Yelich-O’Connor, o nome verdadeiro de Lorde.

Parte de uma nova geração de bateristas, capazes de um trabalho conjugado entre acústico e electrónico mais consistente e criativo, o neo-zelandês Ben Barter, além da sua enorme versatilidade dinâmica, tem conseguido manifestar também criatividade até num sentido melódico dos arranjos. Em Anaheim (Califórnia), na NAMM’17, na booth da Ludwig (marca da qual é endorser), falámos com o baterista que acompanha Lorde em digressão.

Como sucedeu tocares com Lorde?
Eu sou da Nova Zelândia, tal como a Ella. Uma das minhas primeiras bandas, quando tinha uns 18 anos, teve como manager o Tim Youngson, que começou a agenciar Lorde logo no início. Também conhecia o produtor dela, o Joel Little, que é um bom amigo meu. Falei com eles… Era arquitecto na altura, estava a odiar a minha vida. Fui chamado a uma audição “contra” três amigos meus – a Nova Zelândia é um país pequeno, toda a gente se conhece – e, felizmente, consegui o trabalho. No início só era suposto fazer seis concertos, mas mantive-me.

O som do álbum, como referiste, determina a tua forma de tocar. Também é determinante para a configuração do teu drumkit?
Absolutamente. Comecei com um kit bastante reduzido, que foi crescendo consoante as minhas necessidades. Um factor central foi acrescentar coisas aos hi-hats, que são a base do kit. Permitem-me fazer off-beats com a mão esquerda e on-beats com a mão direita, o que fui desenvolvendo. Tenho mais coisas à esquerda que a maioria dos bateristas teria. Porque grande parte da música dela [Lorde] é composta por acidentes, como off notes e assim, o que acho mais fácil fazer com a mão esquerda. Muitos bateristas colocam, simplesmente, um Sampling Pad SPD à sua frente. Tem apenas a ver com a forma como acho mais simples trabalhar com as minhas mãos e aprender as canções.

A minha “cena” é manter as coisas o mais simples possíveis, porque não quero que nada falhe. Podia, facilmente, adicionar um portátil e disparar aí todos os samples, mas quando fazes uma actuação maior, como a dos Grammy ou os programas tipo “Late Night”, a última coisa que pode acontecer é algo falhar e não haver um plano alternativo. Muita gente faz playback, mas nós temos sempre que tocar tudo ao vivo. Manter tudo simples, para mim, é uma questão de segurança.

E aquele mega som de bombo?
Além da Ludwig, uso também um pedal electrónico, o Roland KD-9, do lado direito do pedal bombo normal. A dinâmica entre os dois sons funciona bastante bem.

A base acústica é uma Ludwig Legacy Classic. E os pratos?
Uso pratos Zildjian. Com um par de hi-hats 14” K Constantinople. Mas a Ella não tem muitos pratos nos álbuns, usando mais os efeitos que referi antes. Mas gosto bastante dos novos pratos Zildjian da gama K Custom Special Dry (uma novidade apresentada na edição de 2017 da NAMM), cujo som é das coisas mais bonitas que já ouvi. Estou muito entusiasmado por usá-los em digressão.

E os Sampling Pads são Roland…
Sim, uso o Roland SPD-SX. É muito sólido e óptimo, porque podes colocar os teus próprios samples lá dentro. Em muitos dos módulos eletrónicos para baterias tens de usar os samples da fábrica. Também estrearam os novos módulos Roland TD-50 [os modelos K e KV], para os quais espero mudar. [Após a entrevista, Ben Barter tinha reunião agendada com a Roland, na booth da marca na NAMM’17]

E qual a DAW que usas?
Ableton! Desde que comecei a tocar, foi o que me habituei a usar. É a DAW que mais se usa em concertos, portanto quando toco com outras bandas, em que tenho backing tracks, posso usá-la também. O Ableton Live 9 é muito útil para isso e acho bastante fácil trabalhar todos os stems de bateria, posso “retalhá-los” e carregá-los para os meus próprios pads. Com Lorde, normalmente, dão-nos todos os stems. É muito simples de operar, a única coisa que acho difícil é fazer tracking de baterias. Quando estou a gravar a bateria não é fácil fazer multi-tracking. Espero que chegue o dia em que melhorem isso.

É importante ter uma voz única e, independentemente de que voz for e o quão simples, torná-la num som incrível.

Estou curioso. Quais foram as tuas influências?
Gosto bastante da malta dos anos 60 e 70. Bernard Purdie, James Gadson, os The Isley Brothers… Adoro esse pessoal mais velho. Mais recentemente, o Nate Smith é um dos bateristas que mais aprecio. Também gosto de alguns rockers. Adoro o Zak Starkey (e até uso as suas baquetas), que tem uma sensibilidade espectacular! Gosto de bateristas que conseguem tocar um beat super simples, mas que o façam soar incrível. Isso é o verdadeiro talento: tocar um beat de rock simples e torná-lo incrível, diferente de qualquer outro. É importante ter uma voz única e, independentemente de que voz for e o quão simples, torná-la num som incrível. Dar-lhe profundidade, o tempo e intensidade, o sentimento que lhe colocas.

Acho que só falta falares das tuas peles…
Tenho usado Evans, as G2. São bastante boas. Mudo-as a cada dois concertos. Há algumas canções com Lorde em que as carrego com mais força, como em “Easy”, e acabo com pena do kit. No bombo uso uma EMAD, que me reforça o som. Têm bom ataque.