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ENTREVISTA | MIRAMAR: Nova Ode Marítima, Por Peixe & Frankie Chavez

ENTREVISTA | MIRAMAR: Nova Ode Marítima, Por Peixe & Frankie Chavez

Nuno Sarafa

“Miramar II” é o título do segundo capítulo de uma aventura que juntou, há meia década, dois dos heróis nacionais da guitarra, Peixe e Frankie Chavez. O novíssimo disco da dupla é, naturalmente, o tema central da conversa.

O ano, 2017. A região, o interior do Alentejo. O evento, Guitarras ao Alto, série de concertos pensada para duos inéditos de guitarra. Assim começava uma memorável parceria – que se deseja longa – entre dois mestres das seis cordas, e umas quantas mais.

Uma história contada a dois e em que o narrador são as próprias guitarras, ou a de Miramar não fosse música instrumental e experimental que evoca o mar e a paz de espírito. Mas também o seu paradoxo. Quando atravessa terras áridas como as de um deserto cortado por uma qualquer espécie de Route 66. No fundo, uma viagem em que o único lirismo é sonoro e que pode levar o ouvinte mais distraído para lugares longínquos. Quase sempre ao sabor das ondas, sejam do mar ou de areia.

Recebido o primeiro convite, Pedro Cardoso (Peixe) e Francisco Chaves (Frankie Chavez) refugiam-se durante dois dias numa casa em Miramar, pequena vila costeira do concelho de Gaia que viria a dar nome ao projecto, e trabalham em canções para esse tal festival. Sempre de forma «natural e espontânea». Em 2019, editam o primeiro álbum, homónimo. Bem recebidos por público e crítica, encetam uma série de concertos que os levam a vários cantos do país, e não só.

A necessidade de tocar como quem precisa de respirar, de escapar às rotinas do quotidiano e de fazer algo diferente e sem regras – como toda a arte devia ser – mantiveram a maré viva. E entre Abril e Dezembro de 2020, Peixe e Frankie voltaram à nova praia de eleição, onde o produtor João Bessa tem o seu estúdio, Miramar Sessions, e gravam 12 temas, incluindo a versão de “Celulitite”, de Conan Osíris.

Sobre o novo tomo, escreve o poeta e dramaturgo Daniel Jonas o seguinte: «A música de Miramar, sendo experimental, requer ouvidos tipo búzio, afeitos a escutarem um mar de guitarras mais evocativo do que real. Ela é um laboratório de lugares, um tipo de viagem à volta de um quarto, e o seu desdobramento cénico uma virtude da sua tensão. Dir-se-ia ser este tipicamente um país pequeno para dois solistas, não fosse este um espaço de fuga de dois paisanos, duplicado por dois horizontes únicos de paisagem».

E Daniel Jonas não poderia estar mais certo. A música de Miramar é, efectivamente, especial, sensível, profunda, vem de um lugar único – o interior de dois verdadeiros craques que a entregam com a mestria e a delicadeza de quem tem, sem dúvida, amor à sua arte.

As músicas e os arranjos vieram de lugar nenhum, sem mapa e sem origem palpável

O novo disco da dupla tem distribuição da Universal Music Portugal, é apoiado pelo Fundo Cultural da SPA e conta com a participação do pianista e compositor Mário Laginha no tema “Recolher”, que resultou, palavras da dupla, de um «curto mas intenso encontro», em que as guitarras se cruzaram com o piano de forma fluída e orgânica.

Peixe afirma que «as músicas e os arranjos vieram de lugar nenhum, sem mapa e sem origem palpável, brotam do interior dos nossos corpos musicais que se estimulam mutuamente e desencadeiam no outro a magia da criatividade, a fluidez inexplicável das coisas que contra as probabilidades se tornam simples».

Podes ouvir a entrevista completa dos Miramar à Arte Sonora no player que se segue, que inclui uma versão exclusiva do tema “Estocolmo”, e, acto contínuo, aproveita para conheceres o novíssimo “Miramar II” e ler a nossa review ao novo disco de Peixe e Frankie Chavez.