Joey Jordison: O Homem Que Levou o Blast Beat Para o Mainstream
Joey Jordison (1975-2021). Tudo o que precisas saber sobre o gear de um dos melhores bateristas da sua geração.
Presença estóica atrás da bateria, ritmos sólidos e explosivos, fills frenéticos, técnica de pedal duplo bombástica e solos dignos de um virtuoso fizeram dele um dos favoritos no universo dos fãs dos Slipknot… e dos bateristas do género. A ele é atribuído o mérito de ter levado os beats mais extremos para o mainstream.
Uma dessas técnicas é o blast beat, que compreende geralmente uma figura repetida de 16 notas tocada a um ritmo muito rápido e dividida uniformemente entre o bombo, a tarola e o ride, o crash ou o hi-hat.
Uma técnica oriunda do grindcore e do hardcore punk, igualmente associada a certos estilos de metal, nomeadamente black metal e death metal, mas que se tornou uma das imagens de marca de Jordison, que a aplicou no universo mainstream no qual os Slipknot também se inseriram.
Joey era também conhecido por utilizar acentuações e padrões na quantidade e no tempo certos. Não tocava partes rápidas apenas porque podia, mas antes optava por misturá-las cuidadosamente com o resto dos instrumentos da banda, criando assim um som único.
Através de um uso criativo da bateria, com padrões a piscar o olho ao funk e utilização inteligente da síncope, além das mudanças repentinas no ritmo em contraste com as guitarras e os outros instrumentos, Jordison foi determinante para a criação do som frenético pelo qual os Slipknot são reconhecidos.
Mas subjacente a qualquer baterista está sempre o seu equipamento. Vamos por isso fazer uma visita guiada ao gear de um dos melhores de sempre, um baterista que era instantaneamente identificável apenas pelo som da tarola e a sua pancada violenta.
E, mesmo nos seus momentos mais ferozes, o estilo de Jordison foi sempre sustentado por uma sensação de caos controlado, como se pode perceber no tema que se segue.
Joey Jordison era um apaixonado pelas baterias da Pearl desde tenra idade. Teve o seu primeiro kit, uma Export Series de nove peças, com apenas 14 anos, passando a ser endorser da marca em 2004, provando fidelidade à marca de Yachiyo, Japão.
As configurações utilizadas por Jordison ao longo da sua prolífica carreira nunca variaram muito. Regra geral, e como podes verificar na sua página de artista no site da Pearl, Joey utilizava, nos últimos anos, três diferentes modelos de bateria: uma Reference Pure Piano Black, uma Reference Series 3D Black/Silver Burst e uma Reference Series Piano Black.
2014 – Scar the Martyr
O kit mais comum utilizado por Jordison era montado num sistema de rack ICON com dois bombos (22×18), pedal duplo P3002D Demon Drive, quatro timbalões de rack (8×7, 10×8, 12×8 e 13×9), três timbalões de chão (14×14, 16×16 e 18×16), uma tarola Reference 20ply (14×6.5), um gongo (20×14) e quatro rocket toms (6×12, 6×15, 6×18 e 6×21). Não sendo peças fundamentais nas suas composições, os rocket toms eram normalmente utilizados por Jordison em solos, para dar aquele sabor extra.
Em todas estas as peças eram aplicadas peles Remo, outra das marcas que patrocinaram a arte de Joey. Os timbalões eram normalmente “calçados” com Clear Emperor em cima e Ambassador em baixo, enquanto a tarola “vestia-se” com uma Controlled Sound em cima com dot, a mesma série que usava na pele do batente do bombo.
Ainda assim, Joey nem sempre usou a mesma marca de peles. Em 2018, numa entrevista ao MusicRadar, o músico revelou algumas alterações no seu set, nomeadamente no capítulo das peles, tendo passado a utilizar modelos da marca Evans, além de uma nova parceria com a Roland, utilizando vários pads electrónicos V-Drums, como o modelo PDX-8, da marca nipónica e ainda triggers da DDrum. Estes dois últimos equipamentos ajudavam a enriquecer o seu já de si grande som de bateria, alternando entre sons clássicos e acústicos com retoques electrónicos.
No departamento dos pratos, Jordison também não era comedido. Artista da Paiste desde 2001, o baterista fundador dos Slipknot utilizava qualquer coisa como 14 elementos. A saber: Wild Hats 2002 14″ (modelo descontinuado), RUDE Wild China 20″, 2002 Power Crash 17″, três Signature Splash (6″, 8″ e 10″), dois 2002 Power Crash (18″ e 19″), Signature Sound Edge Hi-Hat 13″ (modelo descontinuado), 2002 Power Ride 20″, três RUDE Wild China (15″, 16″ e 20″) e um Signature Mega Cup Chime 13″. Nos últimos anos, passou a incorporar no set pratos Paiste black coated. E só por aqui se podem perceber as diferentes tonalidades e efeitos que Jordison emprestava às músicas que tocava.
Numa entrevista ao canal de YouTube da Digital Tour Bus, para a rubrica Gear Masters, Jordison aproveita a visita guiada ao seu equipamento para declarar o amor a um modelo específico de baquetas – 777 da Promark – que utilizou durante tantos anos que a marca norte-americana não poderia deixar de desenvolver um par de baquetas com o seu nome: as Promark TX515W Signature Series Drumsticks – Joey Jordison – Wood Tip – Hickory.
Por fim, e não menos importante, o banco. Nos últimos anos, e depois de muito tempo a utilizar bancos redondos convencionais, Jordison passou a sentar-se num banco da Pearl com encosto – D2000BR -, que, segundo revelou, não só lhe permitia abordar o kit com outro conforto, como pendurar o sistema de escuta sempre que necessário.
Biografia do Baterista Mais Rápido da História do Metal
Nathan Jonas Jordison nasceu em Des Moines, Iowa, a 26 de Abril de 1975. Cresceu perto, na pequena cidade de Waukee, tendo sido um jovem introvertido e que estava longe de ter as melhores notas na escola.
Cedo começou a adorar música. «Lembro-me de ter cerca de cinco anos e de ouvir os meus pais tocar “Tattoo You”, dos Rolling Stones. Eram grandes coleccionadores de vinil e grandes fãs de música, e ainda eram jovens, por isso estavam sempre a tocar música a altas horas da noite. Esse disco foi praticamente a introdução à minha carreira musical», revelou, numa entrevista em 2016.
Depois dos Rolling Stones, descobriu Led Zeppelin, The Who, Kiss e Black Sabbath ainda muito jovem, no início dos anos 1980, e formou a primeira banda quando ainda frequentava a escola primária. Na altura, Joey tocava guitarra com um amigo que não era lá muito bom a tocar bateria, o que o levou a querer sentar-se, rapidamente, atrás do kit, mostrando – já naquela idade – a sua perseverança.
Os pais alimentaram o seu interesse pela música, mas nem tudo lhe foi dado. Aos 14 anos, quando desejou o seu primeiro kit de bateria, uma Pearl Export, Jordison teve de ir trabalhar com o pai durante as férias de verão, facto que viria a agradecer já em adulto. «Agradeço-lhe bastante. Fez-me ver que a vida custava a ganhar», disse.
O tempo passou e Joey Jordison continuou empenhado em estudar o seu instrumento de eleição, passando horas atrás de horas a fazer exercícios à volta do kit, aperfeiçoando a sua técnica.
Como heróis da bateria, inspirava-se em monstros sagrados como John Bonham (Led Zeppelin), Neil Peart (Rush), Keith Moon (The Who), Bill Ward (Black Sabbath) ou Dave Lombardo (Slayer/Fantômas).
Jovem adulto, Joey tocava agora com um grupo de metalheads de Des Moines, os Pale Ones, que mais tarde viriam a ser os Meld, até Joey ter sugerido, em 1995, a mudança de nome para Slipknot.
Em pouco tempo, a formação da banda expandiu-se para nove elementos que usavam máscaras tenebrosas e fundiam metal com sabor a rap, argumentos que os viriam a colocar na vanguarda da explosão do nu-metal. E Joey foi o principal motor dos Slipknot nos primeiros tempos. Nos ensaios, era fundamental, dando imensas ideias, compondo e desenhando beats que se tornaram ingredientes cruciais para o sucesso súbito e planetário da banda.
Ficou nos Slipknot até 2013, saindo por razões pessoais. Alguns anos mais tarde, viria a revelar sofrer de uma doença neurológica (mielite transversa).
Foi substituído por Jay Weinberg – e de forma brilhante, assinale-se – antes do lançamento do álbum de 2014, “.5: The Gray Chapter”. No ano passado, o filho de Max Weinberg, baterista de Bruce Springsteen na E Street Band, falou sobre o momento em que assumiu a cadeira de Joey. «Não diria que estava a caminhar sobre cascas de ovos. Compreendi o meu papel no contexto de uma banda a mudar dramaticamente a sua dinâmica, trabalhando em novas canções sem dois dos seus membros fundadores [Joey Jordison e o falecido baixista Paul Gray]. Isso era enorme para uma banda que, nesta altura, já existia há quase 20 anos ou algo assim».
Na sua carreira, Jordison fez ainda parte dos Vimic, Scar the Martyr e Sinsaenum e rubricou participações com Metallica, Otep, Necrophagia, Rob Zombie, Korn, Ministry, Satyricon, System of a Down, Roadrunner United (banda formada para comemorar o 25º aniversário da Roadrunner Records) e 3 Inches of Blood.
Nathan Jonas Jordison a.k.a. Joey Jordison morreu no dia 26 de Julho de 2021. Tinha 46 anos. R.I.P.