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O MELHOR ÁLBUM NACIONAL 2014

O MELHOR ÁLBUM NACIONAL 2014

Nero

Descobre quais os resultados da votação, a escolha dos leitores e a escolha editorial.

No mês de Dezembro os nossos leitores votaram no seu álbum favorito de 2014. A votação podia ser feita num dos 20 álbuns que a AS elegeu. E o vencedor das escolhas dos nossos leitores é…

[Carrega na imagem para veres as votações]

A escolha editorial é a seguinte:

andre fernandes

#1 | ANDRÉ FERNANDES, WONDER WHEEL | Quando perceberem que as, tão bem, enredadas estruturas e apontamentos melódicos não são pop, estarão a ouvir um deslumbrante álbum de jazz. Quando perceberem que estão presos no encanto das linhas vocais de Inês Sousa, estarão dentro de estruturas de fusão que chegam a ser “rockeiras”, devido à electricidade da execução de guitarra de André Fernandes, ao “peso” das baterias de Alexandrão Frazão e à condução a piano de Mário Laginha. Como âncora estética, sempre sóbrio, está o contrabaixo de Damien Cabaud. Quando perceberem que estão diante de um line-up estelar, saberão que estão a ouvir um dos melhores álbuns do ano.

Da doçura romântica de “Wonder Wheel” que percorre o disco até ao final agridoce com “Lilac Wine”, passando pelas tempestades de energia que são “300 Pessoas” ou o final de “Canção nº3”, André Fernandes foi capaz de harmonizar elementos acústicos e eléctricos, passíveis de esquizofrenia, numa dinâmica saudável que discorre como a própria vida: em rotação ilusoriamente perpétua, até ao momento que cessa.

Mão Morta

#2 | MÃO MORTA, PELO MEU RELÓGIO SÃO HORAS DE MATAR | “Pesadelo Em Peluche” colocou os Mão Morta no mainstream, televisivo, radiofónico, festivaleiro… colocou-os nos iPods de muitos cujo conhecimento da banda era pouco mais que epidérmico. “Pelo Meu Relógio São Horas De Matar”, em poucas semanas, explodiu toda a simpatia que o álbum anterior havia granjeado aos Mão Morta. Este álbum é a compleição do círculo que foi a Revolução de Abril. O sonho dos cravos foi destruído pela sua própria candura romântica. Sem destruição não há revolução efectiva. “Pelo Meu Relógio…” corre o risco de vir a ser sempre encarado, com leviandade estulta, como uma arma de arremesso às altas esferas sociais, económicas e políticas, mas o esbofetear ao indivíduo que se permitiu narcotizar por essas mesmas esferas é uma catarse muito mais violenta.

Sonoramente saúda-se o regresso ao que Luxúria Canibal referiu como “selvajaria”. Mais lento, denso e desesperante. “Pássaros A Voar” ou “Preces Perdidas” mostram a mestria melódica que a banda passou a dominar, “De Coração Aceso” ou “Ossos De Marcelo Caetano” remetem-nos para o som clássico da banda. “Pelo Meu Relógio…” é a prova, se necessária, de que os Mão Morta são o maior tesouro da música portuguesa. Quiçá, a nossa única banda que assumiu o eremitério como local de descoberta da visceralidade essencial do rock. Não existe um álbum inócuo ou sequer “repetido” na discografia dos bracarenses e este é tão marcante como capaz de deixar intuições de caminhos que a banda poderá explorar com maior vigor num futuro lançamento.

af_digipack NOS 6 Keep Razors Sharp

#3 | KEEP RAZORS SHARP [HOMÓNIMO] | Não é coisa muito comum em Portugal, isto dos “supergrupos”. E daí resultarem bons discos será coisa ainda mais rara. Na sua estreia homónima, os Keep Razors Sharp optaram por unidade em vez de egos. Assumiram algo do psicadelismo texano, mas deram-lhe o músculo tradicional das gravações dos estúdios Black Sheep. Não vive só do consumo dos fumos de The Black Angels, nota-se a devoção Dylanesca herdada de um projecto como os Slowriders e a comunhão geracional em torno do “Oásis” de Manchester.

A riqueza harmónica deste álbum será o seu maior triunfo. O som cheio e vivo impregna os temas de uma solidez material que tantas vezes está ausente neste revivalismo psicadélico, mesmo nos momentos mais trippy, como “Africa On Ice” e “Scars & Bones”. No final isso resulta num álbum que, acima de discussão de influências, conquistou o enigma da audição ininterrupta. “Keep Razors Sharp” é dotado de outra raridade na indústria musical nacional. Não tem a ver com som, mas tem a ver com o culto pelo álbum. Uma capa deslumbrante, autoria de Sara Feio, que merece uma edição em vinil.