Phoenix MB72: A Máquina De Desinfecção De Equipamento Made In Portugal
É nacional, foi desenhada e fabricada na Caparica durante os primeiros meses da pandemia, está testada e devidamente certificada, mas vende mais para fora do que dentro de portas. Falamos da Phoenix MB72, a solução portuguesa para esterilizar os equipamentos audiovisuais.
A área dos espectáculos, já se sabe, foi uma das mais prejudicadas com a chegada da pandemia da COVID-19, o que levou a uma paragem do sector por um longo e penoso período. E mesmo que já tenha retomado, ainda que muito lentamente, o sector depara-se agora com novas e exigentes medidas sanitárias, até porque, por questões óbvias de segurança e saúde pública, o equipamento deve ser desinfectado antes e depois de ser utilizado por artistas ou técnicos.
Confinados, sem trabalho e perspectivando um futuro pouco luminoso, o engenheiro de sistemas de áudio Joules Newell e o responsável da área de áudio do departamento técnico do Centro Cultural de Belém Nuno Grácio pensaram imediatamente em desenvolver uma solução profissional para desinfecção de equipamento audiovisual. E se rápido o pensaram, mais rápido ainda o executaram.
A série MB da Phoenix foi projectada e concebida «em apenas um mês e meio» com a nova realidade em mente, a pandemia da COVID-19. Com esta máquina, é possível colocar equipamentos audiovisuais que são «expostos a radiações UV-C de comprimento de onda 253nm, eliminando assim qualquer contaminação provocada por qualquer vírus ou bactéria». Desenvolvida, projectada e fabricada pela Newell Acoustic Engineering (distribuída para a Europa e Médio Oriente pela SayHey), através dos engenheiros de som Mário XL e Miguel Escada e da directora de marketing Germana Cruz, a Phoenix MB 72 é constituída por um microprocessador que garante o controlo do tempo de exposição correcto – dois minutos – e um bloqueio de segurança de alta precisão, mantendo os operadores protegidos contra qualquer radiação UV-C.
A AS visitou a oficina onde é fabricada esta máquina para saber como tudo começou e como tudo se processa. «Em finais de Março, o CCB pergunta-me onde posso arranjar uma máquina deste tipo. Como tenho colaborado com o Joules há uma data de anos, liguei-lhe. Imediatamente, pensámos em desenvolver uma máquina e, nesse mesmo telefonema, fez-se luz. A partir daí, o Joules começa a investigar, a falar com amigos e parceiros de várias universidades em Inglaterra, onde tem imensos contactos e analisa todos os estudos existentes acerca de raios UV-C para perceber qual a melhor abordagem», explica Nuno Grácio.
Desse telefonema até ao primeiro modelo pronto para ser testado e utilizado foi um ápice. «Demorou um mês e meio», sublinha Joules Newell. «Fabricamos aqui 80% das peças, através de impressoras 3D, temos 12 da PRUSA, o resto é comprado por aqui perto. As únicas peças não portuguesas são a lâmpada, que vem da Alemanha, uma placa, que vem da China, mas somos nós que a desenhamos, e o micro-computador. Tudo o resto ou é fabricado aqui ou adquirido em vendedores locais, como é o caso dos fios eléctricos, dos balastros, do alumínio e da madeira. É tudo cortado e montado na nossa oficina. Em Portugal não existe nada assim. Foi tudo desenhado, desenvolvido e construído aqui, é um projecto local».
Espreita o tutorial que explica como se utiliza devidamente a Phoenix MB 72:
As pessoas andam a fingir que desinfectam os equipamentos
Apesar de ser um projecto local, a empresa tem vendido muito mais para o estrangeiro, ao contrário do que era inicialmente expectável. A prová-lo estavam, à porta da oficina, as três máquinas já embaladas e prontas a serem enviadas para Nottingham, Inglaterra. «Já vendemos 10 unidades para Inglaterra e Irlanda e apenas três para Portugal: duas para o CCB e uma para o Teatro Constantino Nery, em Matosinhos», recorda Nuno Grácio.
«Falei com todas as pessoas e casas de espectáculos importantes do país e na altura toda a gente achou espectacular, mas na realidade continuam todos com os paninhos do álcool. Lá fora perceberam que não existe outra solução como esta no mercado; o que existe são máquinas chinesas pequenas ou então gigantes. Nós estamos no meio, dedicados ao meio do espectáculo ou das conferências, por isso é que a máquina tem os tabuleiros desenhados especificamente para os microfones», frisa Grácio, adiantando que a empresa tem, de momento, mais 20 encomendas… «mas todas para fora».
Dessas encomendas, «14 são de uma estação de televisão no Médio Oriente», refere Mário XL. Por cá, o medo, a falta de informação e a não-obrigatoriedade da utilização são, talvez, a explicação para a pouca democratização deste sistema. «Ou é falta de informação, ou medo de usar as máquinas», sustenta Germana Cruz. «Mas basta pesquisar um pouco! A Schoeps, por exemplo, fez os testes com os seus microfones e publicou no site. É apenas luz durante dois minutos… faz mal aos bichos e às mãos se as meteres lá dentro, mas não faz mal aos equipamentos», explica Grácio.
«Temos muito interesse, por exemplo, por parte de empresas em Inglaterra, porque lá as empresas que não desinfectarem convenientemente os equipamentos podem ser processadas», completa Joules. Em Portugal, defendem, «havia, e há, muito má informação sobre como desinfectar os equipamentos e as pessoas andam a fingir que desinfectam, sendo que já está mais do que provado que esta é a forma mais eficaz de desinfectar os equipamentos de palco ou de estúdio».
A empresa portuguesa tem a possibilidade de fazer máquinas personalizadas para peças grandes, mas lembra que, para um piano, por exemplo, é melhor ir para uma sala fechada e usar máquinas portáteis. Para espectáculos, lembra Miguel Escada, «esta é a máquina ideal, pode desinfectar guitarras, teclados, computadores, microfones, mesas de mistura ou de dj, equipamento de vídeo, de comunicações, etc, ao contrário do álcool, que danifica os equipamentos e não é eficaz». O objectivo da empresa, segundo Grácio, foi criar «uma solução para se poder trabalhar em segurança em Portugal e ajudar os colegas de trabalho, da estrada, dos teatros e por aí fora sem terem de recorrer a máquinas caríssimas feitas por laboratórios ou então a máquinas chinesas que nem sequer se sabe se são eficazes, pois são mal construídas e mal vedadas».
Caso haja necessidade de aumentar a produção, a equipa da Newell Acoustic Engineering quer «recorrer a técnicos portugueses de espectáculos que estejam sem trabalho». A Phoenix MB 72 está disponível para venda, mas também para aluguer, apresentado em duas modalidades: 350 euros por dia com operador ou 350 euros por semana sem operador.
Espreita a galeria para conheceres melhor a oficina onde tudo acontece e a equipa responsável pela Phoenix MB 72: