Rastilho Records & Mão Morta Reeditam “No Fim Era o Frio” em Duplo LP
Um dos melhores discos da música portuguesa em 2019, “No Fim Era o Frio” dos Mão Morta merece a devida reedição em LP em Setembro 2021 via Rastilho Records.
Gravado por Ruca Lacerda, no Largo Recording Studios, em Maio de 2019, e masterizado por Frederico Cristiano no Mechanical Heart Mastering em Braga, apresenta 11 temas/módulos. As ilustrações da capa e contra capa são da autoria de José Carlos Costa.
O álbum foi originalmente editado no dia 27 de Setembro de 2019. Dois anos depois, a Rastilho Records juntou-se à banda para o reeditar em CD e duplo LP. As encomendas/reservas podem ser feitas aqui https://bit.ly/3sg49Ba.
Nas palavras de Adolfo Luxúria Canibal: «Este álbum apresenta-se como uma narrativa distópica onde conceitos como aquecimento global ou subida das águas do mar servem de cenário para um questionar e decompor de diferentes paradigmas do quotidiano. São paradigmas que nos rodeiam e com os quais nos relacionamos e replicamos, desviados para um enquadramento onde a familiaridade ganha a estranheza que permite a sua percepção. Mas uma percepção demencial, num horizonte ficcional que nunca sabemos se é real ou delirante e onde as composições criadas dão novas vidas e leituras ao frio cosmológico e à solidão humana, aqui ecos de uma mesma inadaptação existencial e vazio afectivo».
No dia 18 de Outubro de 2019, a banda trouxe o disco a Lisboa e a LAV esteve a rebentar pelas costuras, num concerto que a AS acompanhou com reportagem. Mais de mil pessoas foram testemunhar a estreia ao vivo de “No Fim Era O Frio” na capital. Os Mão Morta merecem esta devoção ou não estivessemos diante de uma banda que, ao jeito de uns Bad Seeds ou de uns Melvins, raramente desiludam naquilo que fazem e na pertinência das suas edições discográficas.
Já no final desse ano, a nossa redacção elegeu o trabalho como um dos Melhores Álbuns Nacionais de 2019.
“O Mundo Não É Mais Um Lugar Seguro” estabelece o majestoso ambiente sonoro do álbum. Sintetizações luxuriosas e guitarras sobrecarregadas de efeitos criam uma parede fria e, de certa forma, também extremamente envolvente às palavras distópicas de Adolfo Luxúria Canibal. Distopia ou realismo mágico? “Um Ser Que Não Se Ilumina” contém o charme estrutural de uns Swans, mas com todas as idiossincrasias de Mão Morta.
O seu corpo, a sua estrutura e força rítmicas, o desespero prímevo vocal… “Quem És Tu”/”Oxalá”, novo movimento de introdução e canção, com destacadas vozes corais. O enorme peso de “Passo O Dia A Olhar O Sol”. O hipnotizante díptico “Invasão Bélica”/”A Minha Amada”com a sua propulsividade rítmica, ainda que simples, num cruzamento entre electrónica e acústica; os drones sónicos de sintetização e cordas; e as palavras que quase descrevem uma fantasia erótica e distópica de Paolo Eleuteri Serpieri, criaram um dos melhores momentos da discografia dos Mão Morta.
“Deflagram Clarões De Luz” é um boogie orelhudo. Um rock ‘n’ roll que se gruda instantaneamente na memória. Se haverá uma canção que poderá ser isolada deste homogéneo disco, é esta e o seu mesmerizante final, cujos “clarões” melódicos transportam alguns dos momentos mais calorosos no conceito “No Fim Era O Frio”.
A terminar, “Isto É Real”, passe a idiotice de enumerar referências a Mão Morta, soa a uns The Stooges mais contemplativos, antes de “Sinto Tanto Frio” encerrar o álbum, revestindo-o uma vez mais dum espesso corpo de guitarras e de densidade no baixo e nas sintetizações. Um discão que vale a pena ter em vinil.
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