Quantcast
REPORTAGEM: Doenças Neurológicas – O Poder da Música

REPORTAGEM: Doenças Neurológicas – O Poder da Música

Nuno Sarafa
Miguel Grazina Barros

Esta é uma viagem ao mundo das doenças do foro neurológico e ao poderoso papel da música, que apesar de não resolver de vez estas patologias, pode funcionar muitas vezes como um verdadeiro auxiliar em prol da qualidade de vida.

Nome incontornável do rock alternativo português, líder carismático dos Capitão Fantasma desde 1988, Jorge Bruto foi um dos grandes impulsionadores do movimento punk e rockabilly em Portugal. Incómodo, provocador, polémico, é um dos últimos ícones do rock português e boa parte da sua vida está retratada no documentário de 2017, “Fantasma Lusitano”, realizado por Nuno Calado e David Francisco.

Jorge tinha 43 anos quando a doença de Parkinson lhe trocou as voltas. Ficou apavorado. Pensou que iria morrer em menos de um compasso. Faltava-lhe informação. Actualmente, com 57 anos, e depois de grandes lições aprendidas através da doença, o também mentor de Emílio e a Tribo do Rum, Bruto & The Cannibals ou Club Sin continua a fazer música com os seus Capitão Fantasma. Porque a música é muitas vezes… maior do que a vida. E a vida… não pode parar.

Depois da doença de Alzheimer, que afecta cerca de 200 mil pessoas em Portugal, Parkinson é a doença neurodegenerativa mais comum, atingindo milhões de pessoas em todo o Mundo. Em Portugal, um estudo de 2017 estima uma prevalência de pelo menos 180 casos por cada 100 mil habitantes, ou seja, cerca de 18 a 20 mil pessoas no total.

Esta doença resulta da redução dos níveis de dopamina, uma substância que funciona como um mensageiro químico cerebral nos centros que comandam os movimentos, sendo quatro os sintomas que se destacam: lentidão de movimentos, rigidez muscular, tremor e alterações da postura.

Esclerose Lateral Amiotrófica, que em 1987 venceu Zeca Afonso, Alzheimer, diagnosticada em 2016 a Tony Bennett, actualmente com 95 anos, Parkinson ou a menos conhecida Distonia Focal, que afecta cerca de 5.000 portugueses e cujo principal sintoma são as contracções musculares involuntárias, que podem manifestar-se em piscares de olhos repetitivos, na incapacidade em controlar o pescoço ou em dificuldades de escrita.

Sendo certo que a música não resolve de vez estas doenças, pode funcionar muitas vezes como um verdadeiro auxiliar em prol da qualidade de vida. Física e mental.

Estas são algumas das doenças neurodegenerativas, todas elas incuráveis, todas elas aprisionam mentes sãs em corpos muitas vezes paralisados e que nem sempre reagem aos estímulos cerebrais.

Sendo certo que a música não resolve de vez estas doenças, pode funcionar muitas vezes como um verdadeiro auxiliar em prol da qualidade de vida. Física e mental. Um caso paradigmático em Portugal são os 5ª Punkada, banda que nasceu há quase 30 anos no seio da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra. Já percorreram Portugal de norte a sul e deram concertos em Inglaterra, Alemanha, Bélgica, França, Grécia, Espanha, Itália ou Finlândia, num total de mais de 300 actuações.

Mas foi apenas em Dezembro de 2021 que editaram, pela Omnichord Records, o seu primeiro disco, “Somos Punks ou Não?”, e que contou com as participações de Surma e Victor Torpedo e produção de Rui Gaspar, dos First Breath After Coma. Paulo Jacob, musicoterapeuta da associação, é um dos guitarristas da banda e também conversou com a Arte Sonora acerca do papel fundamental da música na qualidade de vida destas pessoas.

É indesmentível que a música tem um efeito incrivelmente poderoso no cérebro humano. Além das funções terapêuticas, cantar, tocar um instrumento ou simplesmente ouvir uma canção activam várias áreas do cérebro que controlam a fala, o movimento, a memória e a emoção. A música tem mesmo o poder de aumentar, de forma surpreendente, a massa cerebral, ajudando o cérebro a reparar certas lesões.

Esta reportagem conta com os testemunhos de Jorge Bruto (Capitão Fantasma), Hugo Ferreira (Omnichord Records), Teresa Leite (Associação Portuguesa de Musicoterapia) e Rui Camilo (Secretário da Associação Portuguesa de Parkinson).

Carrega no play para assistires à reportagem.