sPiLL, Super Sexy Fight Songs
Espontaneidade jazz, verticalidade electrónica e agressividade rocker. O álbum dos sPill visto track-by-track.
Originalmente desenhado como uma expressão de fusão entre cores “jazzísticas” e experimentação electrónica, sPiLL têm vindo a ganhar uma propulsão mais agressiva. Nas palavras de André Fernandes: «Há uns dez anos atrás havia outras influências. Andava a ouvir muita música electrónica e a banda era um escape para fazer isso». Depois de um hiato e um período de actividade errática, o novo álbum, “What Would You Say?”, é resultado da última reestruturação da banda e da nova formação: Sara Badalo (Voz), André Fernandes (Guitarra), Óscar Graça (Teclas), Miguel Amado (Baixo) e André Sousa Machado e Marcos Cavaleiro, os dois bateristas. André Fernandes refere que o disco «tem uma estética mais agressiva e directa, dentro de influências que me preenchem a cabeça. De bandas como Deerhoof ou Queens Of The Stone Age. Esse rock com guitarras e baterias à frente».
GET AWAY | Guitarras cheias de twang e um final demolidor de bateria. Todavia, o destaque está todo na voz de Sara Badalo, carregada de poder eloquente, frenética e provocante, assumindo despudorada o protagonismo como a nova frontwoman da banda.
WHAT WOULD YOU SAY | Canção experimental, cruzando estruturas rítmicas complexas e oscilações de intensidade. Essa esquizofrenia é também corporizada sonoramente na guitarra, numa convulsibilidade entre o peso do main riff, o slapback de delay nos acordes harmónicos, dedilhados limpos e os ringtones nos solos.
BREAK UP SONG | André Fernandes não faz qualquer questão de negar Queens Of The Stone Age como uma referência nas composições de “Super Sexy Fight Songs”. Neste tema, ritmicamente, surgem as primeiras pistas disso. Contudo, as raízes jazz dos músicos acrescentam um factor de diferenciação e divergência aos sPiLL, a banda soa com sofisticação em vez de irascível.
WHITE LIES | Com um corpo sonoro mais electrónico, a condução nos sintetizadores e a cadência do baixo tornam directo e dançável um tema de diálogo e exploração melódica entre a guitarra e a voz que, tendo disfarçado subtilmente um crescendo, subitamente, surgem com uma intensidade inesperada.
GONE | «Os sPiLL sempre tomaram as decisões mais estranhas, neste tipo de coisas. A “Gone”, que foi escolhida como single para vídeo, é a música menos ilustrativa da sonoridade do disco». São as palavras de André Fernandes sobre uma canção que, pela sua atmosfera, suavidade vocal e simplicidade envolvente da guitarra, transmite uma sensação de elegância Radiohead.
HOMME | Se “Break Up Song” deixa intuir QOTSA, aqui está tudo às claras (o título inclusive, obviamente). Um instrumental carregado de peso e propulsão, com o corpo sonoro da guitarra colado ao de “Songs For the Deaf”. A canção mais “roqueira”, mais directa e mais QOTSA do disco. Porrada!
FOLLOW YOU | Atmosferas borderline shoegaze, com incursões melódicas em torno de um riff “circular” de baixo, que aqui está com um tamanhão sonoro “daqueles” e serve como uma âncora trip hop à abstracção instrumental.
ALL THE LITTLE THINGS | O cruzamento e congregação de todas as personalidades e correntes estéticas na base dos sPiLL e do disco. Espontaneidade jazz, verticalidade electrónica e agressividade rocker. A banda percorre cada um dos momentos com uma impressionante ligeireza dinâmica, passando por um arrasador solo de guitarra, até ao clímax eléctrico do último refrão. Malhão!
SUPER SEXY FIGHT SONG | Uma vez mais, surgem riffs e pontes rítmicas até ao deserto californiano e aos QOTSA. Um dos momentos altos do álbum e aquele riff final poderia ser perpetuado. Um fait-divers: nesta canção, o timbre e dinâmica vocal de Sara Badalo aproxima-se de Róisin Murphy!
UNCLEFUCKER | A encerrar o álbum, um instrumental despretensioso em que somos surpreendidos com um ou dois pequenos pormenores que parecem acenar a Frank Zappa.