The Killers – a guitarra sublime de Dave Keuning
Momentos antes do arrasador concerto que os norte-americanos deram no estádio do Restelo, no festival SBSR, a Arte Sonora esteve à conversa com um dos melhores guitarristas desta nova vaga do pop/rock, sobre as suas motivações e sobre a sua sonoridade.
Já fizeste muitas mudanças para adaptar o teu equipamento às exigências do som dos The Killers?
Tenho evoluído nesse aspecto desde o início da banda, comecei apenas com dois pedais de efeitos, depois quatro… e tenho tentado, sou um defensor do mínimo de pedais possível mas, sabe-se lá como, acabei com dez, penso que é o mínimo [risos]. Tive que desenhar uma conveniente pedalboard, torna tudo mais fácil, mudar o som, as combinações de pedais – se quero usar um tube screamer, com um pedal de delay e trocar de amps, tudo ao mesmo tempo – é mais fácil conseguir fazê-lo apenas num botão a ter que carregar três. No fundo não é só musicalmente que se evoluí. Também uso agora um sistema wireless. Nunca o havia feito antes da digressão de “Day & Age”. Não penso que alguém se preocupe com isso, no entanto para muitos a filosofia é o keep it real o mais possível, mas… pode haver uma diferença microscópica no som, há muitas opiniões diferentes a esse respeito, mas já não tropeço mais nos cabos, portanto é uma boa opção [risos].
E os amplificadores?
Não mudei muito. Nos últimos dois/três anos tenho usado Higwatt [o Hiwatt Gilmour 100], mas sempre usei o Fender Hot Rod Deville e ainda uso e fazem parte do meu som. Estou a usar colunas Hiwatt também, no início usava Marshall. Também gosto das Marshall (que uso em casa, por exemplo), mas prefiro as que uso agora. Na minha opinião têm o som um pouco mais cheio.
A tua sonoridade enquanto guitarrista leva-me a perguntar-te se és influenciado pelo The Edge…
Sou! Admito, e, raios, todas as vezes que toco um pedal de delay não consigo deixar de pensar no Edge, mas é um pedal e toda a gente pode usá-lo, soa bem, isso não lhe pertence. Mas sim, sou influenciado pelos U2, pelo seu som, por ele e por outros como o Billy Corgan, o Jimi Hendrix, mesmo o Robert Smith. Há um certo número de pessoas para as quais olho, por diferentes razões.
A razão pela qual a guitarra soa diferente em cada álbum dos The Killers é, de facto, algo que tem a ver com as misturas.
Esteticamente a presença da guitarra, com o passar dos álbuns, diminuiu ou sublimou-se?
A razão pela qual a guitarra soa diferente em cada álbum dos The Killers é, de facto, algo que tem a ver com as misturas. E detesto isso porque passo de sentir as guitarras muito baixas na mistura para estarem onde devem estar. Penso que as pessoas ao vivo, em certas canções, conseguem perceber melhor onde e o que estou a tocar do que em estúdio. Mas também acontece as pessoas dizerem “não se ouve muita guitarra nesta canção” e na “Human”, por exemplo, a abertura com aquele pequeno riff, muita gente não sabe sequer que é feito com a guitarra e que atravessa todo o tema. Há muitos temas assim, com muito mais guitarra do que as pessoas sequer percebem, mas está lá! E estou a tocar e ocupadíssimo o tema todo! [risos]
Demoras muito tempo a trabalhar o som em estúdio?
Sim, em alguns álbuns foi mais simples, mas no “Sam’s Town” demorámos muito tempo em cada canção, a tentar guitarras diferentes, amplificadores diferentes, à procura do que funcionava melhor. O álbum levou cinco meses a ser gravado. Neste último tentámos ser um pouco mais rápidos, o Stuart [o produtor Stuart Price], foi muito rápido e eficiente, no bom sentido. Nunca nos sentimos apressados, simplesmente houve uma boa “micagem”, as coisas saiam com um bom som, repetíamos uns takes que ele ia guardando e nunca parámos de gravar. Foi uma maneira diferente de fazer as coisas, mas na verdade gosto de ambos os métodos.
Uma banda beneficia mais a tocar em festivais ou a fazer uma digressão em nome próprio?
No festival pode beneficiar de ter algumas pessoas na audiência que talvez numa digressão própria não viria ver o concerto. Pessoalmente eu prefiro os festivais, pela atmosfera. Muita gente, bom tempo, ar livre…
Enquanto músico não te transtorna teres menos tempo e espaço para te preparares, usares todo o teu equipamento…
Nem fazemos soundcheck em festivais. Mas eu até que gosto disso, primeiro porque me liberta a tarde toda [risos] e segundo porque torna as coisas mais excitantes, a primeira vez que sobes ao palco já estás de frente para a audiência e a tocar a sério, por assim dizer.