Santos Rebeldes
Na antecâmara da estreia em concerto dos The Saints em Portugal, Chris Bailey falou-nos do mais recente álbum e das guitarras que costumam viajar consigo.
Os The Saints são uma banda subestimada. Talvez porque, tendo sido pioneiros do movimento punk, a imprensa britânica nunca lhes tenha dado credibilidade pelo facto de serem australianos ou, simplesmente, pela inconformidade genérica, presente na criatividade do frontman Chris Bailey. Essa criatividade está bem exposta no novo álbum, o díptico “King Of The Sun/King Of The Midnight Sun”. Aí, Chris Bailey comprime quase 4 décadas de canções e inconformidade criativa. A banda actua, 24 de Abril, pela primeira vez em Portugal. No Stairway Club, em Cascais, vai fazer-se história. Chris Bailey, na antecâmara do concerto, trocou algumas ideias com a Arte Sonora.
Em momento algum senti a necessidade de me conformar com as regras de outrem, no que concerne à música
Os The Saints são um nome de referência no punk, mas ao longo deste tempo abraçaste todo o tipo de sonoridades. Fizeste-o para a banda sobreviver ou para manter a sanidade mental?
Imagino que seja uma combinação de ambos… Em momento algum senti a necessidade de me conformar com as regras de outrem, no que concerne à música. Sei que é mais fácil ser estereotipado, mas não perco muito tempo a preocupar-me em cumprir expectativas de uma determinada “imagem” ou em obedecer a estereótipos.
“King Of The Sun/King Of The Midnight Sun” como que capta os vários ângulos da banda. Como foram escolhidos os temas? Os que funcionam bem em ambos os discos ficaram ou, por outro lado, escolheste os que seriam mais desafiantes?
Normalmente, antes de ir para estúdio já tenho uma ideia de como o disco deverá soar. Procuro e consigo uma coesão entre os temas, mas também espero sempre que as canções possam “existir” enquanto peças solitárias. Uma boa canção deverá ser capaz de sobreviver a uma multiplicidade de interpretações musicais divergentes.
A era digital também facilita essa preparação que referes. Tendo nascido na era analógica, como vês esta já clássica questão?
O digital tornou mesmo as coisas mais fáceis e compactas. Sinto nostalgia em relação ao analógico e sou grato pelas lições aprendidas a trabalhar nesse mundo, mas sinto-me igualmente “em casa” no domínio digital. Na verdade, não afectou realmente o “song writing”, isso será sempre um exercício mental interior. Em casos extremos, agora podes “teclar” um álbum ou sintetizar uma orquestra inteira – e, ainda que isto funcione sem sombra de dúvida, prefiro combinar ambos os aspectos e usar tantos instrumentos “reais” quanto aqueles que forem possíveis.
Falando em instrumentos. Ao longo dos anos, tens mudado muito de instrumentos e rig?
Não tenho um rig específico, imutável. O que uso depende muito da situação. Sou apegado às guitarras da Gretsch e possuo algumas, mas ao vivo uso uma Epiphone Genesis (que adoro) e também tenho guitarras acústicas Takamine e Cole Clark. Já em estúdio, tendo a usar uma Les Paul ou uma Fender Strat… O meu piano é um Yamaha. Para a guitarra gosto de usar o Marshall JCM 900 e, quando toco baixo, uso muitas vezes um Schecter através de um clássico Ampeg SVT.
E o que podemos esperar do concerto?
Tentamos sempre tornar cada concerto tão único quanto possível, portanto talvez nós e o público consigamos ter sorte e “ligar”.
Foto: Benoît Fatou.