Tom Dowd & The Language of Music
Documentário sobre a vida e carreira de Tom Dowd, um dos mais importantes produtores da história da música. Um predestinado que potenciou o som e as canções de alguns dos maiores músicos e bandas de sempre.
O lendário Tom Dowd (20 de Outubro de 1925 – 27 de Outubro de 2020) foi um produtor que começou a gravar ainda no tempo do som mono e atravessou todas as evoluções tecnológicas que foram feitas na indústria fonográfica ao longo da carreira.
Ainda os The Beatles estavam a gravar em 4 pistas e, nos Estados Unidos, Tom Dowd já gravava em 8, num sistema desenvolvido por si próprio. Foi um dos grandes pioneiros e inovadores da gravação multicanal, que permite registar separadamente múltiplas fontes de som e criar um resultado final uniforme. Resume a Wiki que «o método tornou-se possível a partir da ideia de captar individualmente determinados sons em diferentes partes de uma mesma fita, que poderiam ser tocados simultaneamente a outros ou sincronizados manualmente». Antes da era digital, era assim feita a distribuição do áudio.
Por exemplo, o fenomenal “At Fillmore East” foi gravado durante duas noites – 12 e 13 de Março de 1971. Tom Dowd já tinha trabalhado no segundo álbum de estúdio dos Allman Bros., “Idlewild South”. O lendário produtor trabalhou com um multitracker de fita. E se foi um desafio ter que captar as dinâmicas de dois bateristas, além de dois guitarristas (o que, acreditem, não era assim tão comum em 1971), as coisas complicaram-se quando a banda apareceu no soundcheck, inesperadamente, com o saxofonista Rudolph “Juicy” Carter, na altura um perfeito desconhecido, e o membro “não-oficial” de longa data Thom Doucette, para tocar harmónica.
Dowd chegou a recordar, sobre esse trabalho: «Esperava que pudéssemos isolá-los, para os podermos limpar e usar as canções, mas eles começaram a tocar e os sons estavam a dispersar por todo o lado, tornando as canções inutilizáveis». Ao intervalo do concerto, Dowd dirigiu-se a Duane, pedindo que cortasse os sopros. O guitarrista adorava-os, mas concedeu.
Produtor genial, além dos Allman Brothers, Dowd trabalhou com nomes como John Coltrane, Ray Charles, Ornette Coleman, Charles Mingus, Thelonius Monk, Eric Clapton (bastaria referir que foi o cérebro nos bastidores de “Layla”), Cream (podem ler aqui a nossa apreciação a “Disraeli gears”) ou os Lynyrd Skynyrd, entre muitos outros. Além de ser um guru do som e um inovador, Dowd tornou-se um mestre em gerir egos. Bastante ligado à Atlantic Records, foi um dos responsáveis por assinar os Led Zeppelin, a 23 de Novembro de 68.
Tendo um papel tão preponderante na história da importante editora e da música e tendo trabalhado estes discos todos, que venderam milhões e milhões de cópias, poderia pensar-se que era multimilionário, mas não. Dowd vivia num modesto apartamento em Nova Iorque. Diz, no documentário, que precisava de pouco mais que um piano de cauda para poder sobreviver nesse apartamento.
“Tom Dowd & The Language Of Music” esteve, inclusivamente, nomeado para os Grammys. É um pedaço de história que vale a pena ser visto por melómanos, músicos e apaixonados do áudio. A história de um daqueles que muitas vezes desconhecemos, porque não aparece à frente das câmaras, atrás de uma guitarra ou de microfone em punho.