Guitarras Eléctricas e o Tejo
No luxuoso palco do CCB, entre guitarras e amplificadores, exultamos os 35 anos de UHF.
Há uma solenidade nos UHF, uma hierofania no palco da banda. Não se gosta de todos os discos criados por António Manuel Ribeiro mas, caramba, toda a gente gosta de alguns. São 35 anos com várias faces e vários riffs que, de uma atitude punk inicial a um sentido mais clássico do rock actualmente, marcaram a música portuguesa e marcaram um par de gerações. O 15º álbum de originais, “A Minha Geração”, foi precisamente o axioma para visitar os 35 anos de discos dos UHF. Os UHF são eles próprios duas gerações, António Manuel Ribeiro e António Côrte-Real. Os guitarristas conversaram connosco sobre guitarras, o som dos UHF e a carreira de uma banda que teima em gostar de rock.
Sentado na plateia (ainda) vazia da imponente sala principal do CCB, Ribeiro olha o imenso palco e confessa que no final dos anos 70 teria um colapso cardíaco se tivera subido a um tal palco na altura. «Aquele canto para a mesa de palco/monição daria perfeitamente para tocarmos. Nem sequer tínhamos aparelhagem, um espaço destes não era imaginável», diz Ribeiro que explica de seguida como se materializa o inimaginável. Não existem clichés errados, «há inspiração e depois transpiração, não há hipótese de chegar aqui sem isso». Clichés à parte, há mais qualquer coisa: «Há convicção e determinação».
Tínhamos três semanas para gravar. Três semanas… Dias útis, ao Sábado e Domingo não se trabalhava! E uma mistura apenas, para cada canção, que tinha que dar tudo certo! [Era punk], claro. Era preciso ir buscar essa energia.
É a partir de 83 que Ribeiro começa a perceber que a sua vida será, pelo menos por mais algum tempo, trovar entre o overdrive de amplificadores. Essa percepção começou com «a escrita, as canções que fui escrevendo e se tornaram bandeiras que as pessoas agarravam». Uma geração montou e outras continuam a montar os “Cavalos de Corrida” ou a subir a “Rua Do Carmo”. O que funda a importância dos UHF são canções que o público agarra.
E o que distingue as canções de UHF? Ribeiro evoca o mais recente álbum para responder. «Por exemplo, “A Tia Dorinda” é uma canção que podia ter sido gravada num estúdio em Los Angeles, mas tinhamos que levar para lá o sabor do Tejo». Para Ribeiro, «esse é o casamento que se foi construindo, gravados nos estúdios JM, em Almada, o baixo e a bateria estão em LA, a guitarra tem um odor bem americano também, o resto ficou cá. A letra e a entoação vocal têm Lisboa».
Foi no CCB e na Casa da Música, em 2013, que a banda gravou as “Duas Noites em Dezembro”. António Côrte-Real, ofereceu-nos uma visita guiada e exclusiva pelo palco e por todo o backline usado pela banda (player em baixo).
ARTIGO ORIGINALMENTE PUBLICADO NA AS#38