A actuação de Stevie roçou o “Wonder”
2012-06-02, Parque da Bela VistaPara iniciar a tarde, entraram no Palco Mundo os portugueses The Gift, e em 50 minutos revisitaram vários temas da sua carreira. Começaram com “Driving You Slow” e “11:33”. Passaram por “OK! Do You Want Something Simple?”, “Question of love” e acabaram com “Music”. Do àlbum “Explode”, trouxeram-nos “Made for you”, “RGB”, “Race is Long” e “The Singles”. Os momentos altos do concerto e de maior efusividade por parte do público vieram com as baladas “Fácil de entender” e “Primavera”, tema recente mas que já conquistou o público. Sónia Tavares apesar de ter sido mãe à pouco tempo, está em boa forma. The Gift cumpriram e até agora a aposta do Rock in Rio, neste dois dias, em bandas portuguesas está ganha.
O encanto que Joss Stone trouxe ao palco e a pujança da sua voz, começou desde cedo a levantar a questão sobre se, consideradas todas as bandas e a soma dos seus concertos, este não seria o melhor dia na relação quantidade/qualidade do Palco Mundo nesta edição do RiR. Em termos de qualidade de som essa questão parecia ter pouco a debater. Joss Stone teve contra si apenas o inexplicável abismo que marca a diferença de output entre headliners e restante composição do cartaz. Com o som bem definido e bastante ênfase na sua voz, que já naturalmente se posiciona em frente ao ensemble, foi mostrando os singles que a tornaram conhecida do grande público e ainda teve tempo para mostrar alguns temas inéditos. Do trabalhos mais recentes, a versão de “You Got The Love” (o clássico house dos The Source), foi o que causou mais reconhecimento. Espalhou charme e sensualidade e não precisou de decotes, nem de calções apenas com zipper como tecido. Nada na moda, portanto, como de resto a sua soul e R&B são, felizmente, démodé daquilo que nos invade nas rádios e tv sob a mesma designação. Aos que não concordam, resta-me dizer que “I Got The Right To Be Wrong!”
Também dito por tantos como algo fora de moda surgiu o artista mais aclamado da noite. Bryan Adams teve uma actuação irrepreensível, balanceada por momentos puramente “rockeiros” como “Kids Wanna Rock”, com aqueles de doce deleite do amor juvenil como “Heaven” ou “Everything I Do”. Talvez por nunca se ter assumido claramente como um rocker durão passa o seu guitarrista lead sempre despercebido nas listas de grandes nomes da guitarra eléctrica, mas a verdade é que Keith Scott é um monstro a tocar – o próprio Bryan Adams, não se portou mal no desenvolvimento do som emparelhado de guitarras. Mas chega a ser criminoso o ostracismo a que Keith Scott é votado, um guitarrista que é exímio em todos os aspectos da guitarra eléctrica, som/timbre, dinâmico, tempo, picking, limpo, versátil, rápido… e o termo monstruoso é o único que ocorre para descrever a qualidade do som de guitarra eléctrica que favoreceu o concerto. Na maior parte do tempo construído com uma dupla Gretsch/Stratocaster… a palavra que ocorre é meltdown! Grande, grande concerto.
Stevie Wonder era há muito esperado e trouxe consigo músicos exímios, para aquele que foi um dos melhores concertos do RIR (com Bruce, disputa o pódio). O som ajudou à festa, com uma limpidez assoberbante, e a verdade é que é difícil escrever sobre a actuação. Porque as palavras por mais hiperbolizantes que sejam, parecem eufemismos perante a grandeza do que se viveu na Bela Vista.
Entrou em palco a tocar a Keytar e o público não se apercebeu logo, mas assim que a persona é mostrada nos ecrãs já não há margem para dúvidas. Mr. Stevie Wonder in the house para uma noite de soul, muita soul! A questão é que a Keytar passou os anos 80 como um mero acessório extravagante de música electrónica e Stevie Wonder fez a justificação ao nome do instrumento neste concerto. Com um som de “guitarra” a roçar a perfeição, tal como a dinâmica de execução que imprimiu – aliás o feeling com o instrumento levou Stevie ao chão, a evocar a expansão emocional dos guitarristas dos anos 50 e da era dourada do rock n’ roll, ou a loucura que invade tantas vezes Angus Young!
Entre muitas improvisações e jam – bem haja! – Stevie Wonder desafiou constantemente o público para que o acompanhasse e não raras vezes a multidão parecia acreditar que via um dueto, naquela que foi uma setlist impossível de seguir com exactidão. Houve momentos com entradas algo atabalhoadas, devido ao sentido imprevisto que o músico imprimiu ao concerto, mas por outro lado permitiu também agraciar o público nacional com a língua portuguesa, ao ritmo de clássicos da bossa nova como o clássico de 1971, de Jocafi, “Você Abusou”!
Além da formalização que deu ao conceito da Keytar, a actuação, que foi pontuada por apontamentos mais famosos como os seus super clássicos “Higher Ground” ou “Superstition”, acabou por nos fornecer uma nova definição para dicionário. Assim, a partir de hoje, a definição para o neologismo groove em futuros dicionários de língua portuguesa será: o concerto de Stevie Wonder no Rock In Rio Lisboa em 2012!
Só foi pena que muito do público se tenha deslocado para Bryan Adams e durante a actuação fosse abandonando o recinto… um crime!
PALCO SUNSET
Assim que se ouviram os primeiros acordes do clássico português “Foram Cardos Foram Prosas”, com uma nova roupagem dada por Amor Electro, o público começou aproximar-se, e rapidamente o espaço do Palco Sunset ficou cheio. Para acompanhar Amor Electro, sobe ao palco o compositor brasileiro Paulinho Moska, e canta alguns temas como “Um Móbile no Furacão” ou “País Tropical”, bem aceites pelo público. As vozes de Marisa e Paulinho casam muito bem, combinando o electro pop com o violão de Moska, animando assim o final de tarde no palco Sunset. “Barco Negro” e “A Máquina” foram os temas mais aplaudidos pelo público.
Para fechar o palco Sunset, o público esperava por três músicos bem conhecidos e respeitados na música portuguesa. O concerto começou morno com apenas João Gil e Luís Represas em palco e para começar escolheram os temas “Rouba-corações”, “Diz-me tudo meu pai” e “Oh meu querido Pai Natal”. Jorge Palma sobe ao palco para cantar o seu tema “Encosta-te a mim” e “Portugal Portugal”. Igual a si próprio, Jorge Palma acabou por improvisar bastante, como é habitual, e João Gil e Represas não tiveram outro remédio do que ir no balanço da improvisação. Com João Gil e Represas novamente em palco ouvem-se temas bem conhecidos do público como “Loucos de Lisboa” ou “125 Azul”. É sempre bom ver estes senhores, incluindo Jorge Palma, em palco.