O Sonho Americano de A$AP Rocky
2018-06-08, NOS Primavera Sound, PortoO Rocky Balboa, de Sylvester Stallone, distribui socos, o A$AP Rocky de Rakim Mayers distribuiu rimas e pirotecnia no Porto.
O hip-hop está cada vez mais popular e, nos últimos anos, o cartaz dos NOS Primavera Sound tem apostado em nomes internacionais como Kendrick Lamar, Run The Jewels ou Skepta. Este ano, A$AP Rocky ou Rakim Mayers, líder do colectivo A$AP Mob, foi convocado para ser cabeça-de-cartaz. Não foi difícil perceber que a enchente de público presente (especialmente na linha da frente) era constituída por uma camada jovem, adeptos do hip-hop que lidera tabelas americanas. Rocky é uma estrela na América e simultaneamente uma estrela mundial. Um resultado da cultura americana super amplificada pela internet.
O recentemente editado “Testing” constituiu a maior fatia da setlist, com a potente “Distorted Records” a fazer as honras de abertura. Com as linhas carregadas de distorção, graves abrasivos e rimas rápidas do rapper do Harlem, a porção frontal do público saltava e gritava as letras de pulmões cheios e em êxtase continuou com a rápida sucessão para “A$AP Forever”, o single construído a partir de um sample de “Porcelain”, de Moby. A alta energia continuou com “Buck Shots” ou “Praise the Lord”, e os primeiros mosh começaram a surgir à esquerda e à direita.
São revelados momentos mais melosos e reflexivos dos trabalhos de estúdio, com “L$D” ou “Kids Turned Out Fine”. No entanto, a capacidade vocal de Rocky é limitada no espectro das baladas lentas, direcionadas para um(a) vocalista pop. São necessárias para regular o espectáculo e apresentar diversidade, mas são, sem dúvida, o calcanhar de Aquiles do músico ou, mantendo a analogia do boxe, o seu gancho esquerdo, sendo ele destro.
Os sons mais graves, peça fundamental neste hip-hop, estavam concisos e sentiam-se bem, já a voz necessitava de uma mistura um pouco mais precisa e mais assertiva entre as batidas.
A confiança de quem sabe que é popular e que não tem satisfações a dar esteve permanentemente presente. Rocky apresentou-se sozinho (os instrumentais eram disparados por um DJ “escondido” algures no backstage), fumou substâncias ilícitas, recebeu sutiãs do público feminino e foi o responsável pelo maior mosh pit de todo o festival. Na antepenúltima música, os mosh pits laterais estavam ainda maiores e, antes de soltar a caótica “Wild For The Night”, o músico ordenou que os dois se juntassem. Resultado? Um buraco enorme no meio de recinto que entrou em colapso no drop, entre o dióxido de carbono e os confetti projetados pelo palco, e que certamente proporcionou um excelente conteúdo visual de promoção, especialmente para os drones do festival.
Num olhar mais geral, Rakim construiu um espetáculo sólido para os fãs do género. Os sons mais graves, peça fundamental neste hip-hop, estavam concisos e sentiam-se bem, já a voz necessitava de uma mistura um pouco mais precisa e mais assertiva entre as batidas. A cabeça de um crash test dummy (4-5 metros) no meio do palco, os visuais projetados e a pirotecnia constante (fogo de artificio,CO2 e confetti) apimentaram e adicionaram profundidade à performance.
O destaque recai certamente na fase inicial, quando a estamina estava no máximo e focada nas faixas mais pujantes do novo álbum. Para os que conheciam, foi a oportunidade para cantar, saltar e entrar nos mosh com um dos maiores artistas do hip-hop internacional. Para quem foi conhecer, o teste não foi negativo, mas também não atingiu a nota máxima.
SETLIST
- Distorted Records
A$AP Forever
Buck Shots
Praise the Lord (Da Shine)
Fukk Sleep
Kids Turned Out Fine
L$D
Raf
Telephone Calls
Angels
Gunz N Butter
OG Beeper
Tony Tone
Goldie
Everyday
No Limit
F**kin’ Problems
Wild For The Night
Yambourghini High
Call Drops