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Blink-182 em Lisboa, O Elixir da Eterna Juventude

Blink-182 em Lisboa, O Elixir da Eterna Juventude

2023-10-02, Altice Arena, Lisboa
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
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Passado pouco mais de uma década, os Blink-182 voltaram a Portugal para nos levar numa viagem nostálgica até à fronteira entre os anos 90 e 2000. Um palco de 270º com uma bateria levitante, uma ambulância e um coelho insufláveis, dad jokes com fartura e grandes hinos do pop punk, assim foi o regresso a Lisboa do espetáculo do Mark, Tom e Travis.

Muito aconteceu desde a estreia dos Blink-182 em Portugal em 2012… O guitarrista e vocalista Tom DeLonge abandonou a banda, em 2015, pela segunda vez, alegando que queria dedicar mais tempo a atividades não musicais, nomeadamente à sua constante pesquisa sobre a vida alienígena. Seguiu-se a chamada “Skiba Era”, onde entre 2015 e 2022, Matt Skiba, líder dos Alkaline Trio, substituiu DeLonge na banda. Com Skiba, os Blink-182 gravaram os álbuns “California” (2016) e “Nine” (2019), dois trabalhos que dividem opiniões entre os fãs da banda e os críticos. 2020 trouxe a pandemia e uma natural pausa prolongada da banda. No entanto, a pior notícia ainda estava para chegar quando, em 2021, o baixista e vocalista Mark Hoppus anunciou que tinha sido diagnosticado com cancro. A notícia, que abalou fortemente o baterista Travis Barker, chegou rapidamente aos ouvidos de Tom DeLonge, tendo este percebido que aquele seria o momento certo para fazer as pazes com o seu eterno companheiro de banda antes que fosse tarde mais. Saradas as feridas entre os três, a notícia de que Hoppus tinha vencido o cancro acabaria por chegar já no final do ano. Podíamos assim dizer que estavam reunidas as condições para que acontecesse aquilo que todos os fãs dos Blink-182 esperavam há anos: a segunda reunião da formação clássica da banda.

A especulação em relação a um possível regresso de DeLonge à banda começou a acentuar-se em Outubro de 2022 e passados poucos dias surgiu mesmo a confirmação oficial, com os Blink-182 a anunciarem uma tour mundial, um novo álbum e o primeiro single “EDGING”. Com a tour já em andamento, foi preciso esperar até Outubro de 2023 para recebermos o anúncio oficial do novo álbum, intitulado “One More Time…”, e dois novos singles, a faixa titulo e “More Than You Know”.

A REUNIÃO FAMILIAR

À Altice Arena, os Blink-182 trouxeram a sua já previsível setlist, que vem com uma rodagem de vários meses de tour. Certamente que muitos, tal como nós, esperariam ouvir a estreia ao vivo dos novos temas, mas a banda decidiu deixar “One More Time” e “More Than You Know” de fora, e ofereceu-nos um concerto em formato best of.

“Assim Falou Zaratustra”, o poema sinfónico de Richard Strauss, mais associado, naturalmente, ao filme de Stanley Kubrick, “2001: Odisseia no Espaço”, foi o tema escolhido para acompanhar a apoteótica entrada da banda em palco enquanto o logo do grupo era desenhado na tela central ao ritmo da composição clássica.

Mal se ouviram os primeiros acordes de guitarra e o fill de tarola de “Anthem Part Two” o público explodiu e num ápice começaram a voar copos de cerveja, tal era o entusiasmo. Com um som extremamente equilibrado, onde não se notaram as deficiências acústicas da Altice Arena, os Blink-182 soltaram de rajada a esgalhada “The Rock Show” e a humorística “Family Reunion”, ambas com alguma contenção na voz de Mark Hoppus.

Com a primeira troca de instrumentos, veio também o primeiro momento de comunicação de Mark e Tom com público, claro sem nunca descurar o seu humor, umas vezes de caráter infantil, outras paternal. Mark dirigiu-se ao público com um gigante «Bom dia!» com um sotaque italiano e Tom de seguida perguntou-lhe: «Sabes falar espanhol?»… Mais à frente foi a vez de Tom “enterrar-se” ao deitar cá para fora um audível «Bonsoir!». Mas ninguém levou a mal, e prova disso foram as inúmeras gargalhadas que se escutaram do público.

“Feeling This”, “Reckless Abandon” com o seu singalong a pedido de Tom, e “Violence”, com um mini-solo de Travis como introdução, mantiveram a energia nos píncaros e demonstraram que o timbre único de DeLonge, repleto de expressividade, é, apesar dos comentários de gozo, talvez a grande imagem de marca dos Blink-182. Mais adiante, “Dumpweed” trouxe-nos as primeiras e únicas palavras de Travis Barker. Após um entusiasmado «Olá Lisboa!», a banda arrancou para o tema de “Enema of the State” com uma ambulância insuflável a surgir por detrás do palco numa clara alusão à capa do álbum.  Seguiu-se “EDGING”, a única amostra de “One More Time…” suou com pujança e o seu refrão singalong demonstrou que tem pergaminhos para se tornar num clássico e figurar em futuras setlists.

Sem muito gear em cima palco, apenas foi-nos dada a possibilidade de dar uma vista de olhos nos instrumentos que Mark, Tom e Travis rodaram ao longo do concerto. Mark e Tom são ambos endorsers da Fender e para esta tour cada um trouxe consigo um arsenal de modelos custom construídos pelos master builders da Fender R&D Model Shop. Hoppus foi alternando entre várias Jaguar equipadas com Seymour Duncans com acabamentos berrantes e com diferentes pinturas custom. Já DeLonge alternou entre várias Starcaster, com um único Seymour Duncan humbucker na ponte, e também com diferentes pinturas custom. Esperávamos ver a sua mítica Stratocaster de um só humbucker, que voltou a ser comercializada este ano, mas Tom não descolou mesmo das Starcaster. Por sua vez, Travis Barker utilizou um kit DW Jelly Bean em acrílico colorido e pratos Zildjian.

Tom DeLonge não perde uma oportunidade para reiterar que a sua teoria sobre a vida alienígena estava correta, e foi precisamente desta forma que introduziu o clássico “Aliens Exist”. Seguiu-se “Cynical”, uma das duas passagens da noite por “California”, o tal álbum com Matt Skiba na voz e guitarra, e que ainda hoje divide opiniões. Para esta faixa, Mark deslocou o seu suporte do microfone para uma zona lateral do palco onde os fãs têm a visibilidade reduzida e dedicou-lhes o tema ao referir «Esta é só para vocês!». O ambiente galhofeiro continuou quando Hoppus pegou novamente no suporte do microfone e espetou-o à frente de Barker para interpretarem “Happy Holidays, You Bastard”, primeiro na sua versão original e de seguida numa versão frenética a pedido de Tom. Já “Stay Together For The Kids” surgiu como uma dedicatória de Hoppus a todos os emos que defendem veemente que fazer parte desta subcultura não é apenas uma fase de adolescência.

“Down” trouxe-nos a secção do espetáculo onde o protagonismo foi quase todo para Travis Barker. Numa plataforma levitante e giratória, Travis demonstrou que, apesar do seu historial, as alturas não lhe assustam e foi com uma tremenda destreza e estilo que executou “Bored To Death”, a arrepiante “I Miss You”, a emocional “Adam’s Song”, que segundo Hoppus ganhou todo um novo significado após a sua batalha com o cancro, e ainda “Ghost on the Dance Floor”, com direito a um solo de bateria já na parte final da música.

A reta final do concerto foi anunciada como um falso encore, com Mark Hoppus a justificar de forma humorística que iriam tocar mais quatro músicas devido a obrigações contratuais. Ouviram-se então de seguida os acordes do êxito “What’s My Age Again?”, com a mascote da banda, um coelho, a surgir por detrás do palco num gigante insuflável. Seguiu-se “First Date”, com os versos “Forever and ever/ Let’s make this last forever” certamente a representarem o desejo de todos os presentes de permanecer naquele concerto para sempre. Mas o fim avizinhava-se e o hino “All The Small Things” e “Dammit”, esta última o único tema da fase da banda pré-Travis Barker, foram as escolhidas para encerrar uma noite que, mais do que uma celebração dos Blink-182 e da sua música, foi uma demonstração de que a juventude pode ser eterna.

SETLIST

  • Anthem Part Two
  • The Rock Show
  • Family Reunion
  • Man Overboard
  • Feeling This
  • Reckless Abandon
  • Violence
  • Up All Night
  • Dysentery Gary
  • Dumpweed
  • EDGING
  • Aliens Exist
  • Cynical
  • Happy Holidays, You Bastard
  • Happy Holidays, You Bastard (Versão Rápida)
  • Stay Together for the Kids
  • Always
  • Down
  • Bored to Death
  • I Miss You
  • Adam’s Song
  • Ghost on the Dance Floor
  • What’s My Age Again?
  • First Date
  • All the Small Things
  • Dammit