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Bullet For My Valentine em Portugal, Mais Vale Tarde Do que Nunca

Bullet For My Valentine em Portugal, Mais Vale Tarde Do que Nunca

2023-02-18, Sala Tejo, Altice Arena
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
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Perante uma Sala Tejo ávida para ver a estreia dos Bullet For My Valentine em Portugal, a banda galesa disse presente e proporcionou aos fãs uma noite memorável que percorreu todos os clássicos de uma carreira que já conta com 20 anos. Jinjer e Atreyu fizeram as honras de abertura.

Estávamos em 2005, quando os galeses Bullet For My Valentine explodiram no panorama do heavy metal internacional. Colados a uma nova cena musical americana, o metalcore melódico, que tinha como timoneiros bandas como Avenged Sevenfold, Trivium, Killswitch Engage ou Atreyu (companheiros nesta tour), os Bullet For My Valentine quiseram desde cedo demonstrar que o seu metalcore, polvilhado com elementos de death metal melódico sueco, também tinha qualidade e pujança para se bater com o dos seus pares.

“Poison” foi o cartão de visita apresentado pelos Bullet, e no imediato se percebeu que, apesar da inexperiência, Matthew Tuck, Michael “Padge” Paget, Jason “Jay” James e Michael “Moose” Thomas já apresentavam uma certa maturidade em termos composicionais e uma proficiência invulgar enquanto executantes dos seus instrumentos, talvez justificadas pela sua idade algo “avançada” (24-27) aquando da gravação do álbum de estreia. “Poison” acabaria por gerar malhas que são até hoje obrigatórias nos concertos da banda, como “Tears Don´t Fall”,  “4 Words (To Choke Upon)”, “Suffocating Under Words of Sorrow (What Can I Do)” e “All These Things I Hate (Revolve Around Me)” e levou a banda a tocar em salas emblemáticas como o Coal Exchange em Cardiff e a Brixton Academy em Londres. 

Passados 18 anos “Poison” é tido como um clássico do metalcore melódico, e os Bullet apresentam-se na actualidade como um dos grandes porta estandartes desta “New Wave Of Modern Metal”. 18 anos foi também o tempo que demorou para que os Bullet se estreassem em Portugal, e certamente que muitos fãs já teriam perdido a esperança, mas a Prime Artists conseguiu tirar o coelho da cartola e proporcionou a todos os amantes de heavy metal uma noite que certamente ficará marcada na história.

Os Bem Dispostos 

Os primeiros a subir ao palco foram os também estreantes Atreyu. A banda de Yorba Linda, California, foi considerada em tempos (princípios de 2000s) um dos nomes mais promissores da cena metalcore americana, contudo nunca conseguiram sobrepor-se ao hype gerado aquando do seu começo e hoje em dia são uma banda de pequena/média dimensão com pouca expressão, principalmente no mercado europeu. Em Portugal demonstraram ter alguns fãs, e ao longo de cerca de 30 min apresentaram um set bastante competente e bem disposto. “Strange Powers Of Prophecy” deu início ao concerto e rapidamente todas as atenções se focaram nessa figura imponente e carismática que é o vocalista Brandon Saller e que ao longo da performance esteve bastante comunicativo. Ouviu-se ainda “The Time Is Now” e a velhinha “Ex’s & Oh’s”, esta última foi a faixa mais antiga que revisitaram do “longínquo“, “A Death-Grip on Yesterday” (2006). Por esta altura, já o guitarrista Travis Miguel se dirigia ao público em bom português, uma moda que parecesse estar a pegar, com Saller mais tarde a justificar que o guitarrista se encontra a aprender a língua. “Save Us” trouxe os primeiros cânticos participativos da noite e uma maior dinâmica para o concerto que, depois de “Drowning” e “Battle Drums” teve um momento de extrema galhofa entre os Atreyu e o público, isto porque aquando da sua visita ao Castelo de São Jorge na manhã do concerto, os Atreyu ficaram tão maravilhados com a vista de Lisboa que acharam que deveriam tocar uma música especial. Ao perguntarem ao público se a queriam ouvir todos gritaram que sim, mas o que surgiu de seguida foi uma partida com Saller a entoar uma versão acapella de “I Wanna Dance You Somebody” de Whitney Houston, escusado será dizer que motivou várias gargalhadas. A despedida acabaria por chegar com “Blow”, para alguns foi pouco tempo de atuação, já para outros foi o suficiente para que os que não estavam familiarizados com as discografia dos Atreyu, possam agora mergulhar na sua música e descobrir algumas jóias escondidas do metalcore. Um nota para a excêntrica e divertida Sushi Guitar da Kiesel Guitars que Dan Jacobs empenhou.

A competência musical de Roman Ibramkhalilov, na guitarra, Eugene Abdukhanov no baixo e Vladislav “Vladi” Ulasevich na bateria falou mais alto em temas como “Colossus” e “Wallflower” que revitalizaram o público para a cartada final que surgiu com “Call Me A Symbol”.

Quando As Circunstâncias Não Ajudam

Esta foi a segunda vez que vimos os Jinjer num espaço de um ano, depois de termos estado no concerto do LAV em Junho do ano passado. Desta forma, torna-se praticamente impossível não usarmos um termo de comparação entre os dois concertos. Se o concerto do LAV tinha sido bastante intenso e muito “In You Face”, este concerto na Sala Tejo foi muito mais disperso e menos inspirado, o que nos leva a crer que, por mais competentes que sejam os Jinjer, estes não são uma banda para palcos e salas muitos grandes no nosso país, ou então foi mesmo o facto de se apresentarem como banda de abertura e com o tempo contado. Mas centremo-nos agora exclusivamente na performance de ontem. “Who’s Gonna Be The One” deu as honras de abertura e à entrada de Tatiana Shmailyuk no palco todos ficaram maravilhados com a sua indumentária florescente cujo o brilho no escuro provocava um efeito extraordinário. Seguiram-se temas como “Judgement (& Punishment)” “Pit of Consciousness” e “Perennial”, mas todos debitados de uma forma muito mecanizada e a correr sem que existisse praticamente espaço para que Tatiana interagisse com o público, que bem correspondia com muito crowdsurfing. A competência musical de Roman Ibramkhalilov, na guitarra, Eugene Abdukhanov no baixo e Vladislav “Vladi” Ulasevich na bateria falou mais alto em temas como “Colossus” e “Wallflower” que revitalizaram o público para a cartada final que surgiu com “Call Me A Symbol”. Se este foi o melhor concerto de Jinjer em Portugal? Não, mas as circunstâncias também não ajudaram. Esperamos assim voltar a vê-los no seu habitat natural, em nome próprio e numa sala adequada à sua dimensão em Portugal.

Finalmente!

Passados 18 anos desde a edição do álbum de estreia “The Poison”, os Bullet For My Valentine estrearam-se por fim em Portugal. Recebidos em extrema apoteose por um público que há muito ansiava pela presença dos galeses no nosso país, deu para perceber desde o início que este era um concerto especial para a banda de Matt Tuck, pois como referiu a meio do concerto «não existem muitos sítios no mundo onde ainda não tenhamos tocado.» “Knives”, do álbum homónimo de 2021, deu o pontapé de saída e logo se percebeu que o público estava ali para cantar todas as palavras de cada de música. “Over It” e Piece Of Me” surgiram logo no início como que a despachar os temas de “Gravity”, álbum editado em 2018 que não teve a aprovação da maioria dos fãs por apresentar uma sonoridade muito alternativa bastante colada ao nu metal.

“Rainbow Veins” e “Death By A Thousand Cuts” revisitaram o álbum homónimo, mas ficaram completamente ofuscadas por “Don’t Need You”, essa malha estrondosa que os Bullet editaram como single em 2017 e que hoje em dia já é um clássico indiscutível nas setlists da banda.

Entre músicas Matt Tuck dirigiu-se ao público para deitar cá para fora um sentido «Finalmente!» e continuou na mesma toada ao desculpar-se com a expressão «Mais vale tarde do que nunca». Com um som irrepressível, os Bullet iam desfilando clássico após clássico e com a primeira visita a “The Poison” a surgir com a cármica “4 Words (To Choke Upon), essa faixa que tantos emos consumiram ao longo da sua adolescência. “You Want a Battle? (Here’s a War)” de “Venom” (2021) colocou à prova os dotes vocais do público ao proporcionar um sing along colossal, e demonstrou que o baixista Jamie Mathias é um portento vocalista, aliás o seu papel em muitas das músicas de Bullet é de co-vocalista, demonstrando que a sua função na banda vai muito para além das quatro cordas. A veloz “The Last Fight” trouxe o primeiro vislumbre de “Fever” (2010) antes dos ânimos se acalmarem para a power ballad, “All These Things I Hate (Revolve Around Me)”, iniciada por Michael “Padge” Paget na guitarra acústica, e também ela cantada a plenos pulmões. Mas rapidamente o ritmo voltou a acelerar com a “thrashalhada” de “Scream Aim Fire” a permitir o primeiro grande circle pit da noite e a colocar em evidência a destreza técnica do baterista Jason Bowld. “Suffocating Under Words of Sorrow (What Can I Do)” é o exemplo perfeito de tudo o que o metalcore melódico representa musicalmente e foi recebida de braços abertos por todos aqueles que já sofreram desgostos amorosos durante a adolescência. Já “Rainbow Veins” e “Death By A Thousand Cuts” revisitaram o álbum homónimo, mas ficaram completamente ofuscadas por “Don’t Need You”, essa malha estrondosa que os Bullet editaram como single em 2017 e que hoje em dia já é um clássico indiscutível nas setlists da banda.

Quando demos por nós o tempo tinha passado a correr e já íamos a caminho do encore. Primeiro surgiu “Your Betrayal”, cuja intro ao vivo consegue atingir proporções arrepiantes, depois seguiu-se possivelmente o tema mais esperado da noite e aquele que certamente qualquer fã de Bullet utilizou para apresentar a banda a um amigo. Falamos claramente da emocional “Tears Don´t Fall” que contou inicialmente só com a guitarra e voz de Matt Tuck para cantar os primeiros versos e refrão juntamente com o público. De seguida entrou a banda para partir para a versão que todos conhecemos e diga-se de passagem que nunca um berro a dizer “Let’s Go!” foi tão catártico como o que se deu ontem à noite na Sala Tejo. “Waking The Demon” teve as honras de encerramento, a esgalhada faixa de “Scream Aim Fire” (2008) voltou a colocar o público em alvoroço e pôs um ponto final a uma noite memorável que jamais os fãs portugueses e provavelmente os próprios Bullet For My Valentine irão esquecer. Tal como referimos em relação à estreia dos A Day To Remember, também esperamos que os Bullet For My Valentine não demorem mais 18 anos para regressar a Portugal.

SETLIST

  • Knives
    Over It
    Piece Of Me
    4 Words ( To Choke Upon)
    You Want A Battle? (Here’s A War)
    Hearts Burst Into Fire
    The Last Fight
    Shatter
    All These Things I Hate (Revolve Around Me)
    Scream Aim Fire
    Suffocating Under Words Of Sorrow (What Can I Do)
    Rainbow Veins
    Don’t Need you
    Death By A Thousand Cuts
    Your Betrayal
    Tears Don´t Fall ( Acoustic Intro)
    Waking The Demon