Negro Celeste
2014-05-07, República da MúsicaA meio de bruma provocada pelas máquinas de fumo e dos monocromáticos choques entre a ausência de luz ou clarões brancos, os Celeste surgem, cada um deles, com uma única luz no crânio. Ciclopes high-tech, gigantes a fazer troar violentamente as cadências da sua curiosa fusão entre hardcore e black metal que, ao vivo, ganha uma dimensão mais pesada, mais sludge.
O tremendo embrulho que foi o som na Rep. da Música, mais o muito processamento que os franceses usam nos seus instrumentos, não foi suficiente para diluir a força com que a banda apresentou, essencialmente, o seu mais recente trabalho, “Animale(s)”. Repetindo a ideia de cima, este disco, ao vivo, soa com uma vivacidade muito próxima do aclamado primeiro álbum, “Nihiliste(s)”. As repetições perpetuadas não são monótonas, mas criadoras duma atmosfera pós-apocalíptica negra e opressiva. No fundo, a banda tem apostado num crescimento dos níveis de produção dos seus discos, mas ao vivo é capaz de manter uma visceralidade crua. É capaz de manter sólida a sua personalidade.
As repetições perpetuadas não são monótonas, mas criadoras duma atmosfera pós-apocalíptica negra e opressiva.
As banda que acompanham a tour, Revok e Comity, foram completamente out staged pelos Mantar. Sublinhe-se a tentativa de simpatia do vocalista de Revok com Lisboa, através de um «Viva o Benfica», ou o trabalho curioso de François Prigent [Comity] numa lap steel (ainda que o som tenha estado sempre bastante enrolado no PA). Mas o posthardcore da dupla de bandas francesa soou sempre vazio depois da devastação da dupla alemã. Os Mantar permancem por Lisboa hoje e amanhã. Vão ver o enorme baterista que é Erinc Sakarya. Não fosse suficiente a força descomunal com que bate nas peças, é ainda capaz de demonstrações sublimes de técnica, com precisão nas pancadas que, em zonas e com intensidades diferentes, alteram o carácter sonora da peça em questão – especialmente no seu trabalho de tarola. Ainda mais impressionante se pensarmos que os Mantar são bateria e guitarra/voz. A força dinâmica do baterista e o ar de desert rock, em muitos dos temas, tornaram-nos na banda da noite.
Os portugueses Don’t Disturb My Circles não fizeram mais que provar o que, quem os tenha já visto tocar pelo submundo, se sabe. São uma das mais interessantes bandas no underground nacional. Agressivos, técnicos – excelentes nas quebras sistemáticas de tempo – e com grande balanço. Um concerto demasiado curto.
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