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Dead Combo + Mazgani@Sintra Misty [15.09.11]

Inês Barrau

Por Nélio Matos | Fotos Conceição Pires

O dia foi dos indignados, daqueles indignados que desceram do Marquês de Pombal até São Bento, mas a noite, essa foi de Mazgani e dos Dead Combo, lá para os lados de uma Sintra envolta em nevoeiro.

De regresso ao Sintra Misty, Mazgani, acompanhado por Sérgio Mendes na guitarra, mostrou canções do seu disco “Song of Distance” de uma perspectiva intimista e crua.

Com um sentido de humor irónico e corrosivo, Mazgani foi provocando o público nos intervalos das músicas, onde ia soltando frases que legendavam o seu próprio concerto, “esta é muita boa” ou “a partir de agora é sempre a subir, é como o IVA”. No meio de tudo isto teve tempo para se levantar da cadeira, abandonar a guitarra e chegar-se à frente do palco para cantar, dançar e até desfilar. Ainda apresentou duas novas músicas em estreia mundial às quais chamou “A Nova” e “Nova II”.

Despediu-se com a música “Last words” e deixou a mensagem “All you need is love, é o que vocês precisam”.

No meio do humor e da dança, Mazgani deu um concerto que acabou cedo demais. Era preciso mais um bocadinho para perceber se o artista embalava para um bom concerto e se dava as mãos ao público ou se ficava atrás da cortina da ironia da qual nunca se pareceu libertar para sua própria defesa.

Os Dead Combo de Tó Trips e Pedro Gonçalves apresentaram o recém lançado “Lisboa Mulata”. O concerto começou com a cortina ainda fechada e quando esta subiu tínhamos à nossa frente um palco reduzido a metade onde estava toda a “maquinaria” dos Dead Combo organizada escrupulosamente, como se de uma pequena sala de ensaios se tratasse, com direito a megafones e a rosas.

A dupla começou nas guitarras com o tema “Lisboa mulata”, seguiu-se “Cachupa man” e por trás deles eram passadas imagens de Lisboa a preto e branco. Era o início de um passeio pelo novo disco que muito vai beber a raízes africanas.

Em seguida, a Ana que trabalha no café Adamastor, em Lisboa (na Rua Marechal Saldanha, que segue para o miradouro de Santa Catarina), passa do anonimato quando vê o seu nome inscrito numa música dos Dead Combo, “Ana Adamastor”.

Pedro Gonçalves levanta-se para empurrar a luz pendurada no centro do palco e pega no contrabaixo para nos conduzir ao som de “Rombero” que ouvimos com a luz a balançar. Depois “Aurora em Lisboa” e “Morninha do Inferno”.

Tó Trips anuncia “Sopa de Cavalo Cansado” como sendo uma música que tem a ver com os anúncios do Primeiro Ministro, “é vinho e sopas”, diz.

Voltamos a ouvir as duas guitarras em “Esse Olhar que Era Só Teu”, que é “basicamente um fado”, diz Trips, dedicado a Amália. “Putos a Roubar Maçãs” surge-nos com um arranjo mais complexo e em seguida “Blues da Tanga”, que “é uma malha tão má de blues que decidimos colocá-la no disco”, anuncia Tó Trips.

Tempo ainda para um cover de Tom Waits, “Temptation”, onde o kazoo de Trips ensurdeceu a música. “Marchinha do Santo António Descampado” deu vontade de dançar e viu os músicos abandonarem o palco e a deixarem as guitarras em loop.

Mas voltaram e agradeceram o facto de o público os gostar de aturar, tocaram “Mr Eastwood” e fecharam com “Cacto”, “a primeira música que fizemos juntos” diz Tó Trips.

Com honras de primeira audição, ao vivo, de “Lisboa Mulata”, os Dead Combo mostraram, mais uma vez, que a sua música é um veículo que nos permite viajar por paisagens muito díspares, onde cada qual pode entrar e fazer o seu filme, mesmo estando sentado numa cadeira.

É bom ouvir boa música feita em Portugal.