Feist @ Coliseu dos Recreios
2012-03-18, Coliseu dos Recreios, LisboaDepois do irlandês Fionn Regan ter ficado a pensar para com as suas cordas de guitarra se teria sido ele a “aquecer” o público ou o contrário o que havia sucedido, cedo se percebeu que Feist e os seus pares tinham o caminho aberto para reduzir o Coliseu a ruínas.
Essa ideia acentuou-se quando surgiram alguns sinais de impaciência da plateia perante a “demora” da canadiana em subir ao palco, o que aconteceu às 22h05, estamos a falar de um “atraso” de 5 minutos!!! Talvez alguns dos presentes estivessem ansiosos por tentar sair antes da meia-noite e ainda conseguirem atestar o carro, antes de outro pitoresco aumento nos preços dos combustíveis… algo frustrado pela forma como a cantora compensou esse atraso, tendo permanecido em palco durante duas horas e qualquer coisa.
Numa noite quase exclusivamente dedicada ao último álbum “Metals”, apenas os temas “Bittersweet Melodies” e “Cicadas And Gulls” não foram mostrados em Lisboa e ouviu-se “Pine Moon” que é faixa bónus da edição iTunes do álbum, a abertura com “Undiscovered First” demoliu logo qualquer barreira que pudesse existir entre os músicos e os ouvintes numa demonstração da magia pura que o palco fornece aos que a sabem trabalhar – com um corpo extraordinário, se comparado com o som do álbum, carregado de densidade, sobretudo no riff final, e com Paul Taylor, um baterista colossal e que, na minha opinião, está neste papel uns furos acima do grande colaborador que Leslie Feist tem em Chilly Gonzales. Possuidor duma batida arrasadora, de dinâmica enorme e um grande sentido musical, foi junto ao diretor musical Brian LeBarton – que tem no currículo o desempenho das mesmas funções (teclas e direcção musical) junto de Beck – um dos pilares que erigiram o concerto em torno da cantora.
Isto sem menosprezar minimamente a subtileza do trabalho do multi-instrumentista Charles Spearin e a constante indução no éter fornecida pelas vozes do trio coral feminino que tem acompanhado Feist em digressão, as Mountain Man – que inclusivamente puderam brilhar a solo antes do tema “Comfort Me”. Nessa altura estávamos a caminhar rapidamente, entre canções com um poder emocional fora do comum e a boa disposição de Leslie Feist a comunicar com o Coliseu para o final dum set durante o qual a canadiana mostrou que é também uma grande guitarrista. Usando o instrumento, quer acústico, quer elétrico, com pertinência, alma e acima de tudo com uma personalidade muito pouco comum, além do bom gosto que pontua as suas execuções – sem aquele excesso de testosterona que pontua as exibições de tantos guitarristas no universo do rock.
O retorno para o primeiro encore foi feito de uma forma curiosa, Leslie junto das Mountain Man apenas com viola acústica e um unplugged puro – literalmente todo o PA em off e as quatro músicas na frente do palco a cantarem de uma forma que torna redundante o uso de termos como intimismo na descrição de qualquer outra atuação, como tantas vezes é usado. Curiosamente, “The Limit To Your Love” foi mostrada com arranjos bastante mais eletrónicos, se pensarmos na versão crua que surge em “The Reminder”, talvez de forma a reclamar méritos de autoria a uma canção que catapultou James Blake. Ou então apenas uma tendência, pois a parceira de álbum “Sealion” foi mostrada com um mesmo ambiente mais carregado de arranjos eletrónicos. Com “Let It Die” a banda despediu-se de Lisboa.
Só Leslie Feist regressou novamente ao palco do Coliseu para se despedir de Lisboa, sozinha com a guitarra, cantando “When I Was A Young Girl”, “Secret Heart”, a cover de Ron Sexsmith, e “Intuition”.
SETLIST
- Undiscovered First
- A Commotion
- Graveyard
- How Come You Never Go There
- Mushaboom
- The Circle Married The Line
- My Moon My Man
- I Feel It All
- So Sorry
- Anti-Pioneer
- The Bad In Each Other
- Pine Moon
- Comfort Me
- Get It Wrong, Get It Right
- The Limit To Your Love
- Sealion
- Let It Die
- When I Was A Young Girl
- Secret Heart
- Intuition