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FESTIVAL OPTIMUS ALIVE’11 [08.07]

Nero

Um problema numa das vigas da estrutura do palco principal causou um enorme problema à organização que, não estando satisfeita com a insegurança que era causada por esse factor, acabou por cancelar as actuações de Klepth, The Pretty Reckless e You Me At Six. Chegou a haver receio, por parte de uma enorme legião de fãs, que 30 Seconds To Mars tivessem também a actuação cancelada, contudo, a Everything Is New conseguiu ainda reactivar a estrutura do palco e permitir que os dois headliners se apresentassem ao público. Com um atraso, de resto inevitável, que acabou por ser um mal menor.

Quanto à música, já no palco Super Bock sobem Ed MacFarlane, Jack Savidge, Edd Gibson, os Friendly Fires com o seu vibrante dance punk encontram logo “Jump In The Pool” o ritmo certo para agarrar o público, “In The Hospital” soa a familiar e o ritmo parece aliciar os presentes que encontram em “Kiss Of Life” a razão de perceberem que até conheciam a banda pois o coro do refrão, juntamente com o nome da diva Barbra Streisand, tem sido o “ai Jesus” das pistas de dança comercias da Europa e um pouco por todo o mundo. A banda funde no seu som as garras dum talentoso guitarrista, capaz de se manifestar quer com distorção, quer com sintetização, e ainda também por uma secção de sopros que acrescentava ao set uma sensação bem funky. A banda deu tudo em palco, aliás, a dada altura uma maraca chegou mesmo a cumprir as funções de slide! E no final o vocalista deliciou o público, juntando-se ao mesmo por minutos.

Então o revivalismo folk americano de Angus e Julia Stone traz alguma inconstância. A voz de Julia parece o nó onde se cruza a voz de Björk com a de Natalie Merchant e faz suspender tudo em torno de si, bela e serena. Mas depois a jovem música é capaz do melhor e do pior, se surpreende a tocar trompete, parece pretensiosa com a guitarra eléctrica, sem ser capaz de preencher os espaços que os momentos etéreos criados pela restante banda lhe davam, foi apenas simplista. Há demasiadas influências no som da banda que parece ainda não ter decidido qual acaba por ser mesmo o seu e isso retira alguma objectividade aos temas – que parece regressar em momentos mais assumidos por Angus, seguindo mais numa direcção Bob Dylan, e naqueles em que a banda se resumia a ele e aos baixista e baterista. Foi estranho, mas quantos mais elementos se encontravam a tocar menos preenchimento harmónico e dinâmico era conseguido.

Chega a vez de entrarem os Fleet Foxes, a grande revelação indie do ano e é pela voz de Robin Pecknold que iniciamos a mais uma viagem pelo folk, com toques de Fairport Convention, de temas como belos como “Mykonos”, “He Doesn’t Know Why” ou “The Shrine” e pelo já obrigatório “White Winter”. O som demorou um pouco a estar equilibrado, talvez devido a tanto instrumento acústico ou semi-acústico, se por ter sido imediatamente preocupado com o equilíbrio nos jogos de harmonização vocal com um nível de afinação pouco comum, mesmo pelo facto do vocalista ter usado um Shure SM7, que lhe deu uma excelente protecção contra ruído electro-magnético, parecia indicar o cuidado com as vozes. Terminaram um dos melhores concertos do festival com o tema título daquele que consideramos um dos melhores álbuns do ano até agora – há que procurar conhecer bem para se poder apreciar e a legião de fãs vai aumentar depois de ontem, com certeza.

Sempre em crescendo de força e emoção surge no palco Super Rock o concerto da noite. Há muita gente que lamenta o afastamento de Blixa Bargeld dos projectos de Nick Cave, da perda da sua precisão emocional e da conquista da “porqueira” que Warren Ellis promove. Quem prefere Ellis só conseguiu sorrir ontem. Munido duma Jaguar, do violino ou das suas famosas mini-guitarras o músico obriga Nick Cave a suar sempre o palco para não ser ofuscado. Um concerto que chegou a roçar caminhos do submundo do rock, com momentos pesadíssimos, e exploração de noise rock. Ouvimos temas como “Heathen Child”, ai mãe… que groove, que baterias de Jim Sclavunos, juntas à solidez do baixo de Martyn Casey, que quando ligava fuzz nas suas linhas nos transportava simplesmente para o universo do sludge! Nick Cave afirma com um encanto chauvinista “I must above all things love myself” e ouvimos “No Pussy Blues”, mais vale só que mal acompanhado! O público pede encore e tem direito à versão de “Grinder Man Blues”, um original de Memphis Slim, que inspirou o nome da banda e à qual Cave acrescenta uma exortação interessante para considerar: “Two thousand years of christian history… baby, you got to learn to forget!”

Atari Teenage Riot no palco Clubbing dão uma lição de digital hardcore, afinal desde 1992 nestas andanças, não era de esperar menos de uma banda que terá influenciado todos os nomes da cena eletro-qualquer que seja a terminologia final que tenha surgido depois desta formação alemã. Embora longe dos tempos áureos, o novo single “Blood In My Eyes” não desilude e mantém em aberto o interesse no trabalho da banda. Ainda tempo para a pop de pista de dança de Sydney Samson enquanto dão alento as boas notícias que vão chegando sobre a realização dos dois últimos concertos da noite no palco Optimus e era tempo de celebrar para a maioria dos que vieram a Algés ver 30 Seconds To Mars.

Há imediatamente que destacar nos 30 Seconds To Mars a humildade de tocar perante tantas adversidades e de respeitar tantos fãs que os vieram ver e da produção visual que os acompanha, de resto esse é um dos objectos de maior preocupação do projecto que se centra na figura de Jared Leto; nesses pressupostos vão sendo cada vez mais uma banda de renome mundial, mas ao vivo é diferente… o som é pobre e o actor que se quer cantor falha muitas notas. Bom, a desafinação para uns parece ser deleite sinfónico para outros e as opiniões são como diz o outro…

Por maior louvor que se dirija à forma como a organização conseguiu salvar as actuações do palco principal, a verdade é que os atrasos criaram problemas ao alinhamento do cartaz. Os Thievery Corporation já vão a mais de meio e constata-se que se mantêm em forma, o dub da banda de Washington tem o seu público fiel e transmite aquela força e boa onda de sempre. Embora tenha sido curta a visita, foi bem aproveitada. Fica-se um pouco para ver Slimmy que teve vários problemas de som. Custa perceber porque isto sucede sempre com os nossos artistas.

Chemical Brothers quase rebentam com aquilo que ainda resta do palco. Ao som de “Do It Again” viajamos na química explosiva dos “manos” Rowlands-Simons, numa actuação compacta, devido ao tempo e espaço da situação.”Hey Boy, Hey Girl”, “Don’t Think” já do último trabalho e que surge no filme “Black Swan” e a terminar”Block Rockin Beats” sabem a pouco. Outros temas reconhecidos, como “Galvanize”, por exemplo surgiram dentro de mashups, mas ficamos com lusitana expressão e dizer popular, nunca pior.

No final fica Digitalism que saem a perder pelo atraso do outro palco, que mesmo assim não deixou faltar companhia aos germânicos a entoar malhas como “I Want I Want”, que apresentam o recente “2 Hearts” e fazem Zdarlight soar a mais que um som de publicidade a carros da marca do leão vinda de França. Para o final “Pogo” faz as delícias dos presentes e mandam embora a rapaziada já meia zonza com 3 dias desta azáfama, mas hoje é dia e se o mundo não acabar estaremos a levar o melhor do último dia deste Alive 2011 – logo logo entrevista com Dave Navarro!