Galgo @ Musicbox: Pensar faz Enobrecer
2016-10-13, Musicbox, LisboaO grupo-revelação de Oeiras juntou-se aos companheiros de vocação para mais uma noite memorável no Musicbox.
De vez em quando, os astros alinham-se da melhor das formas: duas das mais talentosas novas bandas portuguesas numa das mais reconhecidas pequenas salas de Lisboa. Galgo e Quelle Dead Gazelle voltam ao Musicbox na mais nobre das ocasiões: os primeiros, para apresentar o seu disco de estreia acabado de sair, e os segundos para oferecer valiosa ajuda àqueles de quem estão tão próximos na amizade e na criatividade. O resultado não poderia ter sido outro, e esteve bem à vista de quem se deslocou ao Cais do Sodré na passada quinta-feira.
De certa forma, fez todo o sentido que fossem os Quelle Dead Gazelle a abrir as hostes. Sonicamente, não estão muito distantes daquilo que procuram os fãs dos Galgo, exibindo as mesmas tendências exploratórias pelos mundos do post-rock e do rock psicadélico com um toque de anca reminiscente dos ritmos africanos. Podem ser mais experientes nestas andanças (os primeiros sinais de vida da banda a uma larga escala, bem como o EP de estreia, datam de 2013), mas entre amigos não há esquisitices: o seu virtuoso baterista, Miguel Abelaira, supervisionou as sessões de gravação do novo disco dos Oeirenses, e com muito gosto deu um concerto de abertura digno da ocasião com o companheiro de banda, Pedro Ferreira. Com cada vez mais destreza na execução aguçada dos seus temas, Quelle Dead Gazelle souberam trazer o peso ao Musicbox sem perderem a noção do passo de dança, e os temas de “Maus Lençóis” foram tão bem recebidos quanto “Afrobrita”, a sua canção de assinatura e a única a surgir do EP. Uma excelente abertura que só pecou pela brevidade, aquecendo a sala para a festa que se seguiria.
E é com mais agrado ainda que se verifica que, com a audácia, cresceu também o entrosamento em palco e a capacidade performativa dos Galgo
De resto, para alguém que acompanhou os Galgo desde a sua incepção (ainda não tinham EP quando se estrearam nos palcos do NOVA Música, em Campolide), é com satisfação que se observa que se torna cada vez mais difícil encaixá-los num único estilo musical. Com o novo “Pensar faz Emagrecer”, o seu som já não cabe na gaveta do “math rock” com que se apresentavam antigamente: está lá, sim, mas imiscuido também no post-rock, no psicadélico e no space rock, com traços do indie e do noise, apreciação visível pelo kuduro e pelo dance punk e tudo mais ao alcance destes quatro jovens sem mãos a medir. Soam, resumidamente, a tudo o que é inovador, criativo, ambicioso. E é com mais agrado ainda que se verifica que, com a audácia, cresceu também o entrosamento em palco e a capacidade performativa dos Galgo, bem mais convincentes em palco do que denunciaria a sua idade. Tocaram os 11 temas que, para já, têm para mostrar com profissionalismo e primazia indeléveis, e ainda voltaram ao palco (rendidos pelos gritos da plateia) para repetir “Skela”, de longe a mais celebrada faixa da noite.Quem denuncia a música dos Galgo por falta de coesão e alguma cabeça-de-vento também pode ver, naquilo o que está lá, o que pode vir a estar daqui a um, dois, cinco ou dez anos – pois que se o quarteto não é uma das maiores promessas da música portuguesa contemporânea, fingiu sê-lo muito bem no palco do Musicbox.