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Lecherous Gaze & Danava

Lecherous Gaze & Danava

2013-05-22, Musicbox
Nero

Noitão de rock no Musicbox. Som ultrapassado? Só para meninos!

As 4as feiras são dos piores dias da semana, olha-se para trás e para a frente e ainda estamos a meio de uma fastidiosa semana de trabalho. Mas os Deuses do Rock são, muitas vezes, generosos e existem 4as feiras que se tornam um dos melhores dias do ano. Ontem foi uma dessas 4as feiras. Os LECHEROUS GAZE e os DANAVA foram um dos melhores concertos do ano, sinceramente. Explosividade, criatividade, classicismo sonoro, técnica exuberante. Uma imensa noite de rock.

Não vale a pena perder muito tempo em lamentar a afluência algo despida do Musicbox, pois a sala acabou por se compor. E isto de fiéis, já se sabe, é como o Catolicismo – há uns milhares de baptizados e que se afirmam crentes, mas praticantes são muito poucos.

Os LECHEROUS GAZE entraram em palco com uma “jarda” tremenda de som, bem acima do perfil sonoro que apresentam nos discos. Eventualmente, com o som de bateria algo descaracterizado a nível de frequências, principalmente com a tarola e o bombo sem range harmónico, mas com os níveis de mistura equilibrados e bem altos desde o início. O sonzão de guitarra, além da destreza demonstrada por GRAHAM CLISE, foi algo de memorável. Munido de uma raríssima e excêntrica Ampeg Dan Armstrong, a ressoar através de um Marshall Super Lead dos anos 70, e com um ataque de picking curioso nos solos, puxando sempre a palheta para cima, o guitarrista teve um som riquíssimo de médios e presença. No final do concerto confessava à ARTE SONORA que embora satisfeito com o som que havia conseguido, lhe custava não andar com o seu par de Plexis de 69. Só podemos imaginar a ainda maior classe com que iria soar. Engraçado como o vocalista LAKIS PANAGIOTOPOULOS parecia, fisicamente e vocalmente, um cruzamento perdido entre o saudoso JOEY RAMONE e ALICE COOPER. Maioritariamente sustentados no álbum “On the Skids”, deram um concertão! E ainda presentearam o público com uma efusivamente saudade versão de CHUCK BERRY, “Johnny B. Goode”, com uma atitude MOTÖRHEAD. Épico!

 

Nesta altura está o som “aconchegado” na sala e os DANAVA vão começar a soar com um outro Super Lead (cada guitarrista com um) e o mesmo amplificador de baixo, um deslumbrante Sunn Concert Bass a sair através de uma Sunn 215B. Mas ao invés de um Jazz Bass, em LECHEROUS GAZE, é agora um SG que sobressai no meio das duas Gibson (SG e Les Paul). Som bastante “cheio” como podem deduzir. A agressividade mantém-se e a fúria prog dos DANAVA ressoa como uma besta stoner. É fácil perceber o apego de GREGORY MELENEY (voz/guitarra) à voz de OZZY OSBOURNE nos álbuns clássicos de SABBATH – aliás, comentava-se se não teria sido uma boa escolha para gravar também “13”! De resto, sob esse ténue manto doom/psicadélico despontam momentos que nos transportam através da gloriosa história da guitarra eléctrica – YES, RUSH, DEEP PURPLE, MAIDEN… Há por aí alguma mania de considerar este tipo de som ultrapassado. Sinceramente, isso não é mais que um tipo de síndrome da Raposa de Esopo, que não chegando às uvas afasta-se dizendo que estão incomestíveis. É que há coisas nas quais há pouca volta a dar, só as toca quem tem dedos. “The Illusion Crawls”, “I Am the Skull” ou “Hemisphere of Shadows” são hinos de fogo e virtuosismo, groove e extravagância melódica.

Resumindo, ontem foi uma daquelas 4tas feiras… um dos melhores concertos do ano!

 

FOTO: Catarina Torres