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Marilyn Manson

We Are Chaos

Caroline International Portugal, 2020-09-11

EM LOOP
  • Red Black and Blue
  • Don’t Chase The Dead
  • Half-Way One Step Forward
Nero

O novo álbum de Marilyn Manson não é a obra-prima auto-proclamada pelo produtor Shooter Jennings, mas é um disco bastante sólido, capaz de mostrar novas veredas estéticas e evocar a era sónica de “Antichrist Superstar”.

“We Are Chaos” é a continuação do álbum de Marilyn Manson lançado em 2017, “Heaven Upside Down”, o seu 7º álbum consecutivo a entrar no Top10 de álbuns vendidos. Além disso, Manson continua a dar cartas no mundo da moda, cinema, música e na cultura moderna.

Saint Laurent convidou-o para uma campanha, Travis Scott convidou-o pessoalmente para participar no Festival Astroworld, a GQ considerou-o como um dos nome de 2019 no mundo da moda e o músico participou como actor em séries como “Sons of Anarchy”, “American Gods” ou “The New Pope”.

É a meio desse aparato que chega este trabalho. Produzido por Shooter Jennings (com o seu nome inscrito nos vencedores dos Grammy Awards) e pelo próprio Marilyn Manson, “We Are Chaos” álbum soa extremamente estilizado e processado (que disco de Manson não soa dessa forma?), todavia desde que entra a secção rítmica no tema de abertura, “Red Black and Blue”, somos arrebatados por um poderosíssimo som, com amplitude na compressão e um tremendo recorte. O primeiro single e tema que dá título ao álbum, com o seu cariz semi-acústico, poderá parecer apontar mais ao mainstream.

No entanto, isso é e não é uma manobra deliberada, como prova o segundo single, editado um dia antes do álbum. “Don’t Chase The Dead” é esteticamente abundante em aproximações a Depeche Mode (e até a Bowie) e capaz de agradar a gregos e troianos, no que respeita à bases de fãs do norte-americano.

E depois, “Paint You With My Love” torna a trazer essa fusão entre sintetização, pianos cinematográficos e guitarras acústicas. Portanto, mais que procurar agradar às massas, o que faz (como sempre fez) de modo sublime, Manson continua a alargar o seu foco, na verdade, como Ozzy fez com o seu mais recente álbum.

ESPELHO SÓCIO-POLÍTICO

A meio do álbum, a hipnótica “Half-Way On Step Forward” parece fechar um hipotético lado A e antecede outros momentos de refinado poder industrial e de post glam. Depois do primeiro tema do disco, “Infinite Darkness”, “Perfume” ou “Keep My Head Together” remetem-nos para a segunda metade da década de 90 e para os primeiros álbuns de Manson, “Portrait Of An American Family”, “Antichrist Superstar” e “Mechanical Animals”.

Manson confirma essa ideia: «Quando escuto “We Are Chaos” agora, parece que foi ontem ou como se de alguma forma o mundo estivesse se repetindo, fazendo com que o single que dá nome ao álbum e as outras histórias pareçam que as escrevi hoje. Este trabalho foi gravado até à sua conclusão sem ninguém o ouvir. Definitivamente, há um lado A e um lado B no sentido tradicional. Mas, assim como um LP, é um círculo plano e cabe ao ouvinte colocar a última peça do quebra-cabeça no canções».

«Este é um álbum conceptual, é um espelho para o ouvinte construído por Shooter e por mim», continua. «Há muitos quartos, armários, cofres e gavetas. Na tua alma ou no teu museu de memórias, o pior são sempre os espelhos. Fragmentos e memórias de fantasmas me assombravam-me enquanto escrevia estas letras».

“Solve Coagula” transporta mais evidentemente esta sentido pessoal redescoberto por Manson. Com uma toada melancólica e melódica. O autor refere-se a essas reflexões de forma filtrada, entre sensações artificiais e autênticas: «Ao fazer este disco, tive que pensar para mim mesmo: ‘Domina a tua loucura, remenda o teu fato. Tenta fingir que não és um animal’, mesmo sabendo que a humanidade é o pior animal de todos. Praticar misericórdia é como fazer um assassinato. As lágrimas são o maior produto de exportação do corpo humano».

Essa trágica dinâmica sócio-política é retratada em “Broken Needle”, uma meia balada carregada de ganchos emocionais que, revestida de adoração a Lennon e de forma épica, encerra o álbum fazendo ligação com a introdução do disco. Shooter Jennings referiu que o álbum é uma obra-prima. Não iremos tão longe, mas é um bom trabalho que, como tanto se gosta de escrever nestas ocasiões, cresce a cada escuta. “We Are Chaos” tem algumas oscilações, mas é um disco extremamente metódico e melhor executado.