Memória de Peixe, muito mais que shred!
2014-10-23, Musicbox, LisboaEléctrico. Exuberante. Sublime. Matemático. Um concerto para ficar na memória.
Foi no final dos anos 40 que os amps Fender Deluxe começaram a ser produzidos. Nos anos 50 as bandas de blues e rockabilly começaram a ganhar volume e o som de overdrive do Deluxe, quando “puxado” começou a tornar-se um assunto sério. Miguel Nicolau pode intitular o seu projecto de Memória de Peixe, mas o próprio tem uma memória de elefante e foi buscar o seu som a esse passado, a um par de Fender Deluxe, ligados em cadeia entre ambos e ainda a um Ampeg SVT-450, para acrescentar graves ao tremendo punch de médios dos pequenos “televisores”. Para “memorizarem” bem o termo, a sua Telecaster é uma Deluxe também.
Faz sentido, afinal toda a actuação dos Memória de Peixe foi um autêntico luxo. Vamos por partes. Começa tudo no controlo tão mecânico como intuitivo que o guitarrista faz do seu looper. Camada atrás de camada, estrutura atrás de estrutura, a suavidade na relação entre a destreza técnica na guitarra e bateria (tremendo, Marco) com a exigência matemática dos pedais é deslumbrante.
Por estes dias, Miguel Nicolau pode muito bem ser o guitarrista português em melhor forma.
Depois Marco e Miguel tocam, realmente, de frente um para o outro. Não é uma mera estipulação logística, é uma necessidade imperativa de diálogo. Brilhante nos preenchimentos melódicos nos pratos, o baterista, algo prejudicado na falta de som dos timbalões. E depois a forma como juntos são capazes de dinâmicas tão Jeff Beck/Pat Metheny, muito devido à forma como Miguel puxa as notas “para trás”. Aliás, o guitarrista tem um picking extraordinário, um controlo de intensidades fora-de-série, mesmo. Será inconsciente, mas há momentos em que os seus fraseados evocam Mário Barreiros. Sublime, intenso, simples e complexo. Por estes dias, Miguel Nicolau pode muito bem ser o guitarrista português em melhor forma.
Parece que teremos disco novo em Março. Que não vos falhe a memória.
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Foto: Alípio Padilha