Em “Folkesange”, que estreou no dia 20 de Março de 2020, através da Relapse Records, Myrkur renúncia ao black metal na procura de ambientes cada vez mais folk e mais tradicionais.
Myrkur, Amalie Bruun se preferirem o verdadeiro nome, sempre percorreu um caminho singular capaz de desafiar noções pré-concebidas dos estilos mais pesados do underground. Agora, após ter sido mãe, Bruun encetou uma viagem ao coração da cultura escandinava que modelou a sua própria infância.
Contos, ritos de passagem e a invocação da continuidade que atravessa gerações e tempo, são componentes da tapeçaria da música folclore e “Folkesange” possui todos estes elementos na sua essência. De certo modo, o álbum é uma abordagem purista ao folclore musical escandinavo, livre de dramatismo excessivo nas interpretações e fusão sónica. Ao invés, a delicada e emotiva voz de Bruun surge envolvida por violino, piano, lira e o tradicional cordofone sueco, a nyckelharpa.
Também o Kulning, uma tradicional e ancestral forma de canto de pastoreio dos países nórdicos, é explorado o mais próximo possível das suas delimitações originais.
Em “Folkesange”, o passado é feito presente, mas o álbum não é meramente uma peça de museu e é capaz de ressoar no agora, através da produção panorâmica de Christopher Juul. Soando amplo e intimista, o disco emana um certo sentido reverencial, harmonicamente preenchido pelos drones de cordas, um corpo rítmico melancólico e essa suavidade vocal capaz de nos transportar para outras eras e fazer florir associações a um nível elementar e, ao mesmo tempo, transcendental.
Por isso, “Folkesange” é uma experiência imersiva e, por completa casualidade, a mensagem que transporta de tempos em que a vida era concretizada de forma mais simples e modesta tem uma tremenda acutilância nestes estranhos tempos de pestilência que muitos, paranóicos ou não, afirmam ser cármica.