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NOS Alive 2022: A verdura dos Inhaler Versus o Traquejo de Seasick Steve

NOS Alive 2022: A verdura dos Inhaler Versus o Traquejo de Seasick Steve

2022-07-07, Nos Alive, Lisboa
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
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No segundo dia de NOS Alive 2022, o Palco Heineken encheu-se para vibrar ao som da nova coqueluche do indie pop irlandês, os Inhaler, e do delta blues de Seasick Steve.

Quando olhamos para o lineup do Palco Heineken do NOS Alive o que sobressai é o seu ecletismo. A procura em combinar artistas emergentes com veteranos tem-se revelado uma excelente aposta por parte da equipa de programação do festival, e ontem não foi exceção. Se os Inhaler atraíram um público-alvo mais jovem e efervescente, Seasick Steve encarregou-se de estimular uma assistência mais velha e contemplativa.

O PESO DA GENEALOGIA

A expectativa para ver Inhaler era considerável. Contudo, os motivos para tal expectativa não se apresentavam isentos de imparcialidade. O mais natural seria estarmos expectantes porque estávamos perante uma banda promissora em ascensão meteórica, porém podemos afirmar que grande parte dos presentes estava ali para testemunhar e julgar se Elijah Hewson, filho de um tal Paul Hewson, perdão, Bono, dispõe de toda uma identidade artística que o permita soltar-se das comparações e do “fardo” de ser filho de uma estrela de rock. A análise a este juízo, apesar de não ser fácil, resulta numa certa ambiguidade. Se por um lado não podemos ser hipócritas e declarar que a banda dublinense, composta também por Robert Keating no baixo, Josh Jenkinson na guitarra solo e Ryan McMahon, não possui talento e mérito para arrastar uma já considerável falange de fãs, pois estaríamos a contrariar os devotos que “acamparam” à frente do palco Heineken e entoaram temas como “Cheer Up Baby” ou “My Honest Face” do primeiro, e até ao momento único, álbum dos Inhaler “It Won’t Always Be Like This”, editado em Julho de 2021.

Por outro à que reconhecer que o indie/rock alternativo que a banda pratica ainda obedece a uma certa ingenuidade e conservadorismo, deixando assim pouco espaço para a criação de uma sonoridade própria e distinta, algo que se verificou em temas como “It Won´t Always Be Like This” ou ” Who’s Your Money On”, onde ainda se nota que Elijah Hewson se cola em demasia ao timbre tão característico do seu progenitor. Todavia, não queremos já descartar o grupo irlandês, pois acreditamos em segundas oportunidades, e, a olhar para a margem de progressão que os Inhaler (formados em 2016) e o próprio Elihaj Hewson, com 22 anos, ainda têm podemos certamente esperar coisas boas destes rapazes gaélicos.

A VOZ E A GUITARRA DA EXPERIÊNCIA

Numa altura em que Jorja Smith atuava no Palco NOS os mais devotos da guitarra dirigiram-se até ao palco Heineken para receber uma “lenda” viva do blues mais primitivo, Seasick Steve. Do alto dos seus 71 anos, o ex-hobo, nem sempre teve uma carreira fácil, entre trabalhos como engenheiro de gravação e músico de sessão, o seu reconhecimento só chegaria em 2006 com a participação no programa Jools’ Annual Hooteanny, e apenas dois anos antes, em 2004, editara o seu primeiro álbum a solo “Cheap”. Ao fim e ao cabo Seasick Steve nunca procurou sair do underground, sempre demonstrou estar mais interessado em transparecer toda a sua simplicidade revelada na sua fala e maneira de vestir, na construção das suas guitarras e ainda na escrita das suas canções que retratam o dia a dia dos difíceis dias de trabalho enquanto jovem. Acompanhado por Dan Magnusson na bateria, Seasick Steve transformou o palco Heineken numa imensa juke joint e destilou ao longo de cerca de 1 hora o seu delta blues inspirado em Robert Johnson ou Casey Bill Weldon, esse rei do slide guitar.

Malhas como “Self Sufficient Man”, “Walkin’ Man” ou “Thunderbird” deleitaram os presentes e demonstraram toda a mestria de um Seasick Steve bem disposto e em constante interação com o público. Porém, o protagonista do concerto não foi Seasick Steve, mas sim a sua peculiar coleção de guitarras, algumas delas construídas por ele próprio a partir da reutilização de materiais insólitos. As que destacamos são a Three-String Trance Wonder, uma hollow body de três cordas que remete para um modelo GHI fabricado no Japão nos anos 60 e que está equipada com um pickup Harmony e afinada em G,G, B ( a corda do meio está afinada uma oitava abaixo), a Hucap Guitar, uma guitarra de quatro cordas construída a partir de duas calotas para fazer a caixa, um cabo de vassoura para o braço e uma espátula metálica e uma garrafa de cerveja na bridge e ainda a Washboard Guitar, uma guitarra de uma corda, sim leram bem, construída a partir de uma tábua de lavar a roupa e de um braço de banjo. Feitas as contas foi um serão bem passado, ouviram-se histórias de vida, soltaram-se umas gargalhadas e ainda escutou-se o blues tocado na sua forma mais pura e primordial. O que é que se pode querer mais? 

SETLIST

  • Inhaler:
  • It Won’t Always Be Like This
  • We Have to Move On
  • Totally
  • Who’s Your Money On?
  • When It Breaks
  • My King Will Be Kind
  • In My Sleep
  • These Are The Days
  • Cheer Up Baby
  • My Honest Face
  • Seasick Steve:
  • Don’t Know Why She Love Me but She Do
  • Self Sufficient Man
  • That’s All
  • Trix
  • Roy’s Gang
  • Soul Food
  • Walkin’ Man
  • Summertime Boy
  • Bring It On
  • Thunderbird