NOS Alive: O esplendor de Radiohead
2016-07-08, Passeio Marítimo de AlgésOs ídolos do rock moderno não estiveram um milímetro abaixo daquilo que deles se esperava.
Radiohead eram os cabeças de cartaz do festival. Pouco interessa o quanto tentaram vender a ideia do quão “exclusivo” seria ter cá os Arcade Fire em período de interregno, ou Robert Plant no ano em que nos encontramos. Foi o nome acima citado o primeiro a fazer esgotar um dia deste NOS Alive, o único a tomar controlo da imagem e do som do Palco NOS como bem entendeu, e a ter a liberdade de tocar o tempo que entendeu, aquele para o qual mais compareceu o público português, que não se mexeu um palmo assim que o acto anterior, Tame Impala, acabou. Radiohead havia chamado, e os fãs comparecido. E que falta de gentileza seria não responder em igual tom.
Pois não é que o quinteto britânico faça, hoje em dia, a música de maior qualidade que se conhece (nunca seria, por definitivo, um “sim”, mas no rescaldo do concerto é difícil fechar a discussão por um “não” também), é que chega a ser algo atordoante a sinceridade, versatilidade e, principalmente, perfeccionismo com que a executaram no Passeio Marítimo de Algés. Inversamente, os Radiohead parecem possuir a identidade musical perfeita para que, nas suas canções, se espelhe a absolutamente estonteante técnica dos músicos que a executam ao vivo. E para isso, tanto fez a idade, complexidade, tom ou estado de espírito com que nos chegaram as suas faixas.
De facto, depois de abrirem o concerto tocando a primeira metade de “A Moon Shaped Pool”, como tem sido habitual, embarcaram numa eleição a dedo de faixas da sua já vasta discografia, que preencheu todos os requisitos e agradou a todos os gostos: às mais gentis e delicadas (“Daydreaming”, “Nude”) procuravam contrapor as de maior agressão (“My Iron Lung”, “2 + 2 = 5”), assim como às mais esqueléticas (“Idioteque”, “The Gloaming”) as de maior corpo (“Bloom”, “There There”). Tudo sempre com os detalhes atentados e as pontas atadas, a mais insignificante secção rítmica salvaguardada e uma coesão melódica e instrumental absurda.
Um espectáculo de emoção, brio e esplendor ímpares que, por mais imaculado que pudesse ter sido, foi de resto machado pela breve falha de uma porção dos speakers do Palco NOS (em relação à qual não sabemos, de momento, a quem atribuir responsabilidade). Não que isso tivesse afectado a grandiosidade da performance de uma das melhores bandas ao vivo da actualidade, que ao longo de 24 canções e mais de 2h de concerto fizeram os 50 mil cantar a plenos pulmões “Creep”, “Karma Police” ou “Street Spirit (Fade Out)”.
Nem todo o público soube sossegar e realmente apreciar o que se passava ali, já se sabe que em festival começa a ser difícil ouvir um concerto sem o constante burburinho, principalmente quando se nota uma redução de volume nos palcos principais dos festivais portugueses.
Que os Radiohead possam voltar com maior frequência e maravilhar-nos com mais da música de que sabemos que são capazes. E que o desfecho desta noite de 8 de Julho possa servir de exemplo às organizações de festivais em matéria de quem chamar ao país: se o investimento saiu caro, o retorno para os visitantes do NOS Alive também não se venderia por pouco.
SETLIST
- Burn the Witch
Daydreaming
Decks Dark
Desert Island Disk
Ful Stop
My Iron Lung
Talk Show Host
Lotus Flower
The Gloaming
Exit Music (for a Film)
The Numbers
Identikit
Reckoner
Everything in Its Right Place
Idioteque
Bodysnatchers
Street Spirit (Fade Out) - Encore
Bloom
Paranoid Android
Nude
2 + 2 = 5
There There - Creep
Karma Police