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Ninguém pára Run the Jewels!

Ninguém pára Run the Jewels!

2017-06-08, NOS Primavera Sound 2017
Pedro Miranda
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O público sempre do seu lado, e contra eles apenas a injustiça, a ignorância e a demagogia, dificilmente chegar-se-ia a outra conclusão acerca de El-P e Killer Mike enquanto primeiros grandes destaques do NOS Primavera Sound 2017.

Ninguém pára Run the Jewels. Foi essa a conclusão a que fomos chegando com crescente assertividade com o lançamento de cada um dos seus tão destemidos quanto arrebatadores discos, quando sobreviveram, vez após vez, às inúmeras polémicas que rodeavam a sua idade, etnia e conteúdo lírico, e ainda de cada vez que reiteraram, através da música, a sua irresistível singularidade tanto na abordagem ao hip-hop quanto na relação com os seus fãs.

O público sempre do seu lado, e contra eles apenas a injustiça, a ignorância e a demagogia, dificilmente chegar-se-ia a outra conclusão acerca de El-P e Killer Mike enquanto primeiros grandes destaques do NOS Primavera Sound 2017.

© Hugo Lima | www.hugolima.com | www.fb.me/hugolimaphotography

Pois se já deixou de fazer sentido exigir-se-lhes a prova de apreço do público português (cujos corações a dupla amoleceu logo ao lançamento do brutalíssimo “RTJ2”, em 2014, e conquistou definitivamente com uma passagem por este mesmo Primavera Sound, no ano seguinte), desta vez, à boleia de “RTJ3” e no comando do palco principal, não perderam a oportunidade de retribuir o carinho que tão merecidamente lhes tem sido direccionado.

Testemunhar um espetáculo de Run the Jewels é bem semelhante à experiência de fila da frente de um blockbuster hollywoodiano extrapoladamente representado e de produção extravagante, com direito a sexo, drogas, tiros, explosões e tudo o que acompanha. A abertura, a todo o gás e com três das mais distintas faixas do novo disco – “Talk to Me”, “Legend Has It” e “Call Ticketron” – foi a amostra perfeita do ambiente enérgico pretendido, e não raro alcançado, por Mike e El, que encetaram uma festa à qual o público não hesitou a se juntar.

Energia foi, aliás, a principal arma do duo durante o espetáculo, alicerçando-se nas batidas e graves caracteristicamente possantes de Jaime Meline para cuspir as suas rimas ora obscenas, ora surpreendentemente perspicazes, mas carregando sempre um humor hiperbólico irresistível (e aqui, virtualmente qualquer excerto de qualquer canção serviria).

Se há algo que se lhes possa apontar, é que tenham dependido demasiado dessa energia, que aos poucos foi esmorecendo à medida que o concerto progrediu. Não que eles possam ser responsabilizados por completo – o som deficiente que em muitas ocasiões se verificou no Palco NOS do Primavera não contribuiu para que os ânimos se mantivessem sempre no máximo – mas se se vai cavalgar a êxtase até ao fim do espetáculo, convém que se arranje maneira de mantê-la a galopar ao máximo.

Mas de um concerto de RTJ não se pode esperar muito mais do que uma amplificação das suas qualidades no papel, e isso eles entregaram com raras falhas ou vacilos. A atitude foi positiva, a intensidade admirável e o repertório bem repartido pelos seus três discos (com destaque para “Sea Legs” e “Run the Jewels” da estreia e “Oh My Darling Don’t Cry” e “Close Your Eyes and Count to Fuck” de “RTJ2”) pelo que, se não deram o espetáculo mais memorável de suas carreiras, ao menos comprovaram o amor que tantas vezes manifestaram sentir pela cidade do Porto e por Portugal. E isso, parecendo que não, é mais do que se pode pedir da maioria.

_ © Hugo Lima | www.hugolima.com | www.fb.me/hugolimaphotography