Quantcast
NOS Primavera Sound 2022: A Eternidade e Urgência dos Gorillaz

NOS Primavera Sound 2022: A Eternidade e Urgência dos Gorillaz

2022-06-11, NOS Primavera Sound
Miguel Grazina Barros
Hugo Lima
8
  • 9
  • 9
  • 8
  • 8

No terceiro dia de festival, os Gorillaz fecharam o palco principal do NOS Primavera Sound 2022 com um concerto cheio de surpresas e convidados que irá certamente marcar a história do evento.

Damon Albarn voltou ao Porto, depois de um concerto com os Blur em 2013 onde partilhou a lineup com Nick Cave, que também actuou (memoravelmente) no festival este ano. No dia mais cheio do Nos Primavera Sound 2022, a banda digital liderada por Damon Albarn, os Gorillaz, foram as super-estrelas do terceiro e último dia de festival.

A carreira de Albarn é sem dúvida única, uma extravagância da pop que lhe permitiu atingir o sucesso (e ser realmente prodigioso) de duas formas e influências muito diferentes, com abordagens radicalmente distintas em cada instância. Ao vê-lo liderar os Gorillaz e apresentar-se perante um Parque da Cidade completamente cheio, a banda criada por Albarn e Jamie Hewlett ainda em 1998, sublinhou o quão importantes e atuais tantas destas canções se mantêm com a sua mensagem ecológica e sustentável, além do enorme espectro geracional que, 20 anos mais tarde, abrange sem qualquer problema.

“Público e energia incrível” foi o elogio tecido por Albarn que mais fielmente reconhece o que se passou no Parque da Cidade durante uma hora e meia de concerto. Antes de Damon e companhia subirem ao palco com indumentária a rigor (vestidos com peças de roupa cor-de-rosa), pôde ouvir-se um soundcheck com uma das faixas que, mais tarde, faria parte da setlist – “Little pink plastic bags”. Ao entrarem em palco pontualmente à 1h da manhã, seria de esperar a surpresa de muitas pessoas com a falta de cartoons em palco – “Quem são estas pessoas no palco?”. Mas após 20 anos de carreira, é difícil encontrar alguém que ainda se deixe surpreender pelo elemento surpresa.

Não tardou até Damon Albarn se atirar às grades da primeira fila do público, com a ajuda dos seguranças que o seguravam enquanto se empoleirava e cantava freneticamente, com uma vontade e energia palpável. Nos ecrãs – 2D, Noodle, Russel e Murdoc – ganhavam vida e alimentavam a componente visual e o imaginário vívido da banda. Depois de arrancarem com “M1 A1”, do álbum homónimo de 2001, Robert Smith dos The Cure apareceu no ecrã para acompanhar “Strange Timez”, do álbum mais recente de 2020 “Song Machine, Season One: Strange Timez”. Damon aproveita o palco de uma ponta à outra e até as estruturas metálicas que o sustentam, onde se baloiça quase como um “gorila”. No palco a harmonizarem os temas intemporais dos Gorillaz, cinco cantores soul entregam a sua voz de seda que contrastam com os vocais semi-punk, rasgados e muito característicos de Albarn, acentuados com o que parecia ser um Shure 527B modificado e que lhe garante a qualidade “lo-fi” presente em muitos dos temas dos Gorillaz.

“Público e energia incrível” foi o elogio tecido por Albarn que mais fielmente reconhece o que se passou no Parque da Cidade durante uma hora e meia de concerto.

“The Valley of The Pagans” foi o tema que trouxe a companhia de Beck ao palco – a banda aproveitou a presença de Beck no Porto (que tocou na noite anterior do festival). Em “Garage Palace”, Little Simz também subiu ao palco para acompanhar os Gorillaz. Mas os convidados não pararam por aí – Fatoumata Diawara, Bootie Brown e Pos, dos De La Soul (para interpretar a clássica “Feel Good Inc.”), foram os outros convidados desta noite. O rapper britânico Slowthai apareceu também nos ecrãs para “Momentary Bliss”. “Oh Green World” viu Damon Albarn ao piano, com um carapuço cor de rosa a condizer com o resto da roupa, e logo de seguida veio a icónica “On Melancholy Hill”, onde o público não poderia deixar de cantar euforicamente. Damon alternou entre microfones, tocou piano, keytar, melódica e ainda usou uma guitarra Fender Telecaster de assinatura Graham Coxon, o seu colega nos Blur.

Como nem tudo pode ser perfeito – e caso estivesse tudo a correr demasiado bem – no final de um concerto fascinante em todas as vertentes, as últimas palavras de Damon Albarn foram silenciadas devido a uma falha de som. “Clint Eastwood”, o single dos Gorillaz lançado em 2001, foi a canção escolhida para a despedida da banda, e também do palco NOS.

Nota: Não foi dada autorização à equipa da Arte Sonora para captar fotografias do concerto.

SETLIST

  • The Static Channel
    M1 A1
    Strange Timez
    Last Living Souls
    Tranz
    19-2000
    Tomorrow Comes Today
    Rhinestone Eyes
    The Valley of The Pagans (com Beck)
    Cracker Island
    O Green World
    Pirate Jet
    On Melancholy Hill
    El Mañana
    Kids With Guns
    Stylo (com Bootie Brown)
    Desolé (com Fatoumata Diawara)
    Andromeda
    Garage Palace (com Little Simz)
    Dirty Harry (com Bootie Brown)
    Feel Good Inc. (com Pos, dos De La Soul)
    Momentary Bliss
    Clint Eastwood