O drama glamoroso de Anohni
2016-06-22, Coliseu dos Recreios, LisboaSe o mundo não tem esperança, Anohni devolveu-nos a confiança no Coliseu dos Recreios.
Mostrou-nos a realidade dramática dos nossos dias globais ao mesmo tempo que nos faz dançar interiormente contra drones que matam, imagens de depressão, cabeças que são cortadas por malfeitores, e por crenças que nos levam à destruição. Tudo, tudo nas palavras das canções do trabalho intitulado “Hopelessness”, como um grito de alerta contra o mundo que nos é mostrado por um ecrã em decomposição sonora.
E vamos seguindo as linhas dos rostos de mulheres, as suas rugas, a imagem do feminino sacrificado, como um mundo sacrificado, uma Terra mãe agonizante perante os acontecimentos terríveis deste mundo em convulsão.
Anohni, transgénero, apresentou-se com uma veste branca que lhe cobria o rosto de negro e cantou de véu a cortar a respiração aos espectadores que assistiam como se estivessem num Museu vivo de Arte Contemporânea de Nova Iorque a uma síntese das fatalidades que ameaçam o Homem nos dias que vão correndo ao som do terrorismo e as suas armas.
Deus omnipresente em todas as imagens e no corpo alienado de Naomi Campbell parece ter abandonado definitivamente as suas aspirações e angustiado segue sem esperança para a mais banalizada das trevas.E em canções todas cheias destes significados pungentes como “Hopelessness”, “Execution”, “Violent Men”, “Why did you separate me from earth?”, e a hiperrealista “Drone bomb me” Anohni ergue a bandeira da paz e da não violência como ninguém. Acompanhado por dois músicos designers sonoros de eletrónica de vanguarda, Anohni apresentou-nos um espectáculo pleno de modernidade em sincronização com os desafios do futuro e com um lote de canções directas, refinadas de um dos melhores álbuns deste ano, na minha opinião.